Vez por outra, em meus atendimentos, surgem pacientes com grande medo de terem doenças capilares graves. A internet é uma das maiores causas desse tipo de situação com sua capacidade de confundir quando o usuário interpreta de forma inadequada as informações ou quando as busca em fontes não confiáveis.
Já contei inúmeras vezes o caso de uma paciente que passou mais de 30 anos acreditando que tinha uma alopecia androgenética mas que, na verdade, mantinha um eflúvio telógeno crônico. Na época em que começou a perder os cabelos um colega colocou a alopecia androgenética como um diagnóstico diferencial de eflúvio telógeno, pois o exame físico dificultava um diagnóstico mais preciso, em se tratando de um quadro muito inicial. A paciente, à sua maneira, decidiu escolher seu diagnóstico e optou por aquele que, para ela, era o mais assustador. Daí para frente não se importou com as inúmeras outras consultas em que foi diagnosticada com eflúvio telógeno, para ela, seu problema era alopecia androgenética.
Casos assim têm se tornado muito frequentes. Pacientes que acabam sendo diagnosticados de formas equivocadas por profissionais mal preparados ou mesmo casos, como já citado acima, em que a internet fomenta uma interpretação errada por parte dos pacientes.
Quando isso acontece em um campo favorável, um paciente ansioso, preocupado e sugestionável, a situação fica mais complexa.
Recentemente estava lendo um capítulo de um livro de psicopatologia e me deparei com um diagnóstico psicopatológico de Transtorno de ansiedade de doença. Ao ler sobre esse transtorno compreendi que esses casos podem ter a ver com esse problema. A descrição é muito clara, em primeiro lugar a ansiedade ou o medo de que se tenha uma doença séria. Há uma preocupação exagerada em relação aos sintomas físicos e o paciente faz uma interpretação de seus sintomas como se fizessem parte de uma doença grave.
Um ponto importante que é descrito sobre esse transtorno, é o fato de que toda orientação médica que visa tranquilizar o paciente e posicionar seu quadro clínico num plano que efetivamente está posicionado, ou seja, ou não há uma doença de fato, ou o problema é muito menor do que o que parece, tem efeito de curta duração. O profissional fala, explica, tenta trazer o paciente para a realidade, dá informações e, às vezes, comprova através de exames que o paciente não tem nada grave, mas ele etá tão apegado ao seu medo de ter uma doença grave que esse trabalho todo não surte efeito.
Esses casos são, comumente, de indicação para ajuda psicológica ou psiquiátrica. Infelizmente quando a situação chega nesse ponto, a atuação do clínico fica limitada. O paciente entra em um mundo de sofrimento do qual parece não conseguir sair, e isso tem um impacto radial que derrama problemas para a vida afetiva, nas amizades e, por fim, interfere na qualidade e produtividade no trabalho. A atuação conjugada entre o profissional tricologista e o psiquiatra e;ou psicólogo aumenta a chances de recuperação do paciente, e um prognóstico melhor tanto para o transtorno de ansiedade de doença quanto para o problema capilar.