Há alguns anos tenho buscado unificar conteúdos de psicossomática àqueles que encontramos na tricologia. Entendi ao longo dos anos que os problemas capilares são muito sensíveis às alterações que o corpo como um todo sofre e, em virtude isso, tenho tentado humanizar cada vez mais o atendimento de meus pacientes.
Às vezes até com uma certa dificuldade, uma vez que muitos estão deles racionalizam demais suas vidas e suas próprias doenças, o que de certa forma dificulta o trabalho do médico pois a medicina e as ciências de saúde em geral não são cartesianas.
Em uma de minhas últimas visitas à Argentina tive a oportunidade de adquirir um livro que, apesar de muito bom, tenho lido de forma arrastada. Leitura fácil, o autor escreve de forma clara, apresenta fontes de referências bibliográficas interessantes, mas por conta de compromissos e de tantos outros livros que acabo lendo concomitantemente, percebo que esse, em especial, acaba ficando para momentos em que estou bem tranquilo em casa. Trata-se de um trabalho do psicólogo Enric Corbera intitulado El Observador en Biuoneuroemoción.
Não sei se há edição em português para o livro, mas é interessantíssimo como o olhar integrativo e humanizado que o autor aborda no cuidado com os pacientes envolve um conjunto de conhecimentos atuais e se apresenta como uma forma de praticar os cuidados com a saúde da maneira mais ampla e interessante possível, olhando o paciente como ele realmente é. Como um todo e não somente um sintoma ou uma doença.
Tenho conhecido muito gente assim desde que fundei a Associação de Saúde e Estética Integrativa (ASEI). Profissionais com esse olhar para o paciente que os procura e não para a doença que se manifesta nele. Posso dizer que fico feliz com ver tanta gente interessada em retomar esse tipo de atendimento que era, na verdade, o padrão na época de nossos avós e bisavós. O olhar para o ser humano adoentado dentro de todo um contexto social, econômico, religioso e cultural onde ele estivesse inserido.
Uma pena que a grade maioria dos pacientes perdeu esse olhar. Creio eu que muito por conta de todo o cientificismo que nos apresenta soluções rápidas, fáceis e tecnológicas para tudo. Mas que na verdade apenas tem servido para jogar a sujeira para debaixo do tapete na forma de uma prática de saúde que visa tratar a doença e não o ser humano que adoece. Será que um dia o paciente conseguirá voltar a enxergar que a doença na verdade é um sinal que seu corpo está dando de que há algo errado com ele, o paciente, e não apenas um estorvo ou um entrave que surge do nada apenas para atrapalhar o seguimento de sua vida?
Na tricologia em especial a aplicação de conceitos integrativos e da psicossomática se aplicam de uma forma muito ampla. É bem interessante perceber que isso é possível para nós que trabalhamos na área. Mas mesmo assim encontramos o paciente não preparado para encarar de frente esse olhar da prática humanizada da saúde. O paciente se desacostumou de ser tratado assim.
No livro de Corbera, alguns conhecimentos simples e aparentemente comuns a todos nós surgem como pérolas tanto para o profissional que o lê como para o paciente que se interessa pelo tema. Ciências como a epigenética, a física quântica, a hipnose Ericksoniana, a psicologia analítica de Carl Gustav Jung e mais tantos outros temas que são importantes para quem quer olhar a saúde de forma integral estão ali apresentados.
Quem tiver a oportunidade de ler, ainda que na versão espanhol, uma vez que a linguagem utilizada pelo autor não é tão complicada, certamente terá a mesma certeza que eu tive, de que se trata de um livro de grande valor para aqueles que olham para a saúde com o carinho que ela merece.