Queda de cabelo induzida pelo stress
15 de dezembro de 2010
Nenhum paciente fica feliz quando escuta do médico que a causa de seu
problema de saúde é a ansiedade ou o estresse. Muitos acreditam que seja
difícil viver sem este problema no mundo atual e não aceitam que o estresse
possa, por exemplo, ser motivo de queda de cabelo.
A justificativa costuma vir acompanhada de um argumento simples dado pelos
pacientes: todo mundo vive estressado hoje em dia e nem todos tem queda de
cabelo. Realmente, nem todo mundo desenvolve queda de cabelo por conta do
estresse, mas outros frequentemente acabam desenvolvendo gastrite, hipertensão,
arritmia, distúrbios neurológicos ou psiquiátricos, alergias, doenças
autoimunes, entre tantas outras condições.
Se nem todo mundo perde cabelos em situações de estresse, também afirmo que
nem todo mundo fica com hipertensão arterial por conta dele. Cada indivíduo tem
um ou mais pontos fracos e, na grande maioria dos casos, o ponto fraco é o que
manifesta perda da saúde quando em situações estressantes.
Recentemente encontrei um ótimo artigo que justifica quimicamente o fato de
que o estresse pode sim causar queda de cabelo. Eva Peters e mais um grupo de
pesquisadores de universidades alemãs desenvolveram um estudo sobre a relação
entre estresse e os folículos pilosos em ratos. Estudaram algo que é conhecido
como inflamação neurogênica, um estado inflamatório de determinadas estruturas
corporais que é mediado por substâncias químicas produzidas pelo nosso tecido
nervoso e liberadas em diversos órgãos e tecidos através de nossos neurônios
(células nervosas).
As substâncias químicas estudadas têm relação intrínseca com o estresse, e
os animais de laboratório da pesquisa ficaram expostos ao estresse sonoro
contínuo por período de 24 horas.
O resultado, medido na pele ao redor dos folículos pilosos através de
diversos testes, entre eles um exame chamado imunohistoquímica, provaram que:
1- Existe uma comunicação intensa entre as terminações nervosas de nossa
pele e as células de nosso sistema imune, responsáveis por estados de
inflamação cutânea em situações de estresse.
2- Em situações de estresse a liberação de substâncias químicas como o NGF
(fator de crescimento neural) na derme atrai células inflamatórias do nosso
sistema imunológico para próximo dos folículos pilosos (raízes dos cabelos).
3- Estas células inflamatórias produzem e secretam uma grande quantidade de
substâncias que estimulam a inflamação ao redor dos folículos, quadro que é
chamado de inflamação neurogênica.
4- Esta sequência de eventos que leva à inflamação neurogênica estimula a
apoptose celular (morte das células) em uma região do folículo piloso chamada
de matriz do cabelo.
A matriz do cabelo é responsável pelo crescimento capilar. Se as células
desta região morrem por conta da inflamação neurogênica fica claro que, a
partir deste momento, podemos esperar que os cabelos venham a cair.
Apesar de parecer difícil de explicar (quem puder ler o estudo na íntegra
certamente perceberá a complexidade do mesmo), a real conclusão a que chegaram
os pesquisadores é que o estresse realmente provoca queda de cabelos.
A confirmação desta relação entre estresse e cabelo é apenas mais uma das
inúmeras já publicadas sobre o tema. E pensar que ainda tem muita gente que
insiste em acreditar que o estresse não interfere na saúde dos cabelos.
Referências
Peters EMJ, Handjiski B, Kuhlmei A, Hagen E, Bielas H, Braun A, Klapp BF,
Paus R, Arck PC. Neurogenic inflammation in estress-induced termination of
murine hair growth is promoted by nerve growth factor. American Journal of
Pathology. 2004;165:259-271.