A alopecia androgenética (calvície genética), possui mecanismos de formação que passam por diversas vias biológicas. O mercado capilar insiste em reforçar a via hormonal, que dá nome à doença, uma vez que alopecia androgenética está associada ao fato de haver uma participação genética vinculada à atividade de hormônios masculinos no desenvolvimento do quadro de perda capilar. Esta via está associada ao hormônio DHT, um hormônio derivado da transformação de Testosterona em Dihidrotestosterona (DHT), por uma enzima chamada 5-α-redutase. Possivelmente esta é a via mais importante da formação do quadro de alopecia androgenética.
Porém existem outras vias, a via Wnt/β-catenina, a via PGD2, a atuação do estresse oxidativo, a presença de estado inflamatório na formação do problema, a participação de fatores ambientais e a que está associada ao estresse psicoemocional.
A cafeína, um ativo presente no café e em outras plantas como a Camelia sinensis (chá verde ou chá preto), parece ter um papel interessante em algumas vias citadas acima. Por ser uma inibidor da enzima fosfodiesterase, a cafeína favorece a proliferação celular e diminui o sinal de morte celular na matriz capilar. Isso significa um prolongamento do tempo da fase de crescimento.
Sua atividade inibidora da enzima 5-α-redutase reduz a convertsão de Testosterona em DHT, o que acaba por interferir positivamente na via hormonal da perda capilar, mais uma vez favorecendo o crescimento dos fios de cabelos.
Em um estudo sobre a ação do estresse induzida pela via do cortisol (hormônio associado ao estresse), a cafeína se mostrou eficiente em inibir os efeitos do estresse provocados por esta via em pacientes com alopecia androgenética, algo que acaba sendo muito interessante, uma vez que eventos estressantes promovem modificação do crescimento capilar e aumento da apoptose de células da matriz dos cabelos.
Há ainda um efeito pouco comentado da cafeína como um agente antioxidante. Algo que fica para um outro texto deste blog. Ainda assim, é importante entender que existem ativos que atuam em múltiplos alvos em relação aos problemas capilares, e que a utilização deles de forma bem orientada e inteligente é algo precioso quando se pensa em estratégia terapêutica do combate às quedas capilares.
Referência:
Fischer TW, Bergmann A, Kruse N et al. New effects of caffeine
on corticotropin-releasing hormone(CRH)-inducedstress along the
intrafollicular classical hypothalamic-pituitary-adrenal (HPA) axis
(CRH-R1/2, IP3-R, ACTH, MC-R2) and the neurogenic non-HPAaxis (substance P, p75NTR and TrkA) in ex vivo human male
androgenetic scalp hair follicles. Br J Dermatol 2020; https://doi.
org/10.1111/bjd.19115