Em 2010 participei de uma edição do World Congress of Hair Research em Cairns , na Austrália. Lembro que naquele congresso assisti a uma apresentação de uma pesquisadora coreana que comparou o uso tópico do gel de alho associado a corticosteroide tópico com um grupo que utilizou apenas corticosteróide tópico no tratamento da alopecia areata. A única coisa que me vinha na cabeça era uma indignação: Poxa, mas e o cheiro? Imagina ficar com a cabeça com cheiro de alho todo o tempo, apenas para recuperar cabelos?
O Allium sativum, alho, como o conhecemos, é alimento utilizado para diversos fins na medicina natural. Nos cuidados com a pele tem indicação para: psoríase, alopecia areata, infecções fúngicas e virais entre outras indicações. Entre os principais ativos do alho estão algumas enzimas, compostos sulfurados, alicina, arginina, oligossacarídeos, selênio e alguns flavonóides.
Sobre o estudo que citei acima, a associação de gel de alho com betametasona comparada ao uso isolado da betametasona foi mais eficiente no tratamento de placas isoladas de alopecia areata até o terceiro mês de tratamento, um resultado muito interessante para deixar passar batido.
Outro composto que eventualmente aparece como opção, e que pode ser encontrado em alguns cosméticos e dermocosméticos mundo afora é o Allium cepa, a cebola. Tem indicação na areata por sua ação parecida com a do alho, sendo muito parecidos em sua composição. Um estudo sobre o uso do suco de cebola aplicado topicamente em placas de alopecia areata mostrou crescimento capilar significativos após 4 a 6 semanas. O efeito irritante da pele, promovido pelo suco de cebola, apesar de ser algo desconfortável, parece ter tido efeito positivo no tratamento. Vale lembrar que outros agentes que causam irritação cutânea são, reconhecidamente, indicados para o tratamento da areata, é o caso da antralina e dos retinóides tópicos.
Ativos que não cheiram bem existem há tempos. O óleo de cade em shampoo foi muito utilizado em dermatite seborreica e como coadjuvante no tratamento de alopecia androgenética no passado. Seu cheiro forte, amadeirado e marcante incomodava muito quem tinha que conviver com ele. Outros derivados de alcatrão também foram utilizados em shampoos e tinham cheiros fortes e desagradáveis. Ao longo dos anos e com o aprimoramento cosmético, conseguimos hoje diminuir o impacto de odores ruins de ativos de uso tópico.
Em minha experiência junto a projetos de desenvolvimento de cosméticos tive a oportunidade de vivenciar algo que me fez perceber o grande valor de se saber utilizar com primor fragrâncias que eliminam aromas desagradáveis de formulações. Em 2005, ao visitar um estúdio de fragrâncias em São Paulo, para corrigir o cheiro de um tônico, conheci um famoso perfumista francês que em segundos conseguiu não apenas fazer desaparecer o cheiro de enxofre da formulação, como deixou-a com um perfume absolutamente irresistível e inesquecível.
Ativos que cheiram mal sempre irão existir, mas, assim como pude comprovar na prática, que bom que existem profissionais absolutamente preparados para tornar tais odores irrelevantes nos produtos cosméticos. Assim podemos nos beneficiar de tais produtos, sem ter que ficar com os cabelos fedidos.