Há diversas questões que devem ser levadas muito a sério quando falamos sobre pacientes oncológicos. Em especial quando são mulheres e vivem o sofrimento causado pelo câncer de mama. A mama, assim como os cabelos, são os dois maiores símbolos da feminilidade, e um tratamento de câncer de mama que envolva a necessidade da quimioterapia envolve ter que lidar com duas perdas, da mama e do cabelo, ainda que este último, temporariamente.
Tive a oportunidade de ter acesso ao resultado de uma pesquisa feita pelos alunos da graduação de Terapia Capilar da Universidade Anhembi Morumbi com mulheres que viviam o tratamento quimioterápico do câncer da mama no Hospital Pérola Bingkton, em São Paulo, no que diz respeito à perda capilar provocada pela quimioterapia. No geral a maioria relatou sentir mais receio e desconforto pela perda de cabelos do que pela da mama em si. E, possivelmente, isso se dá pelo fato de os cabelos carregarem um outro significado simbólico além do da feminilidade, o da identidade. Nos reconhecemos melhor pois fazemos do cabelo parte de nossa imagem pessoal. Um outro motivo de dor emocional relacionado à perda capilar se dá pela questão estigmatizante que a queda dos cabelos carrega em si, a de ser uma “marca” da mulher com câncer.
No que diz respeito aos cabelos, quando caem após quimioterapia, pouco se pode fazer para acelerar a recuperação capilar. Respeitar o tratamento oncológico implica em evitar qualquer tipo de medicação ou conduta que possa conflitar com o momento da paciente com o risco de atrapalhar a cura do câncer.
Apesar disso, algumas coisas são possíveis. A gentileza de uma massagem é uma delas. Tocar o couro cabeludo com as mãos ou com uma escova que possam promover um estímulo fisiológico, melhorando a circulação local, favorecendo uma melhor função da pele do couro e dos folículos pilosos é um caminho seguro para a paciente. Além de ser algo que relaxa, aclalma e conforta quem está vivendo tanto dores físicas quanto emocionais. Há estudos que comprovam os efeitos benéficos das massagens nas mais diversas quedas capilares. Não seria diferente com a queda provocada pela quimioterapia, uma condição que exige mais do que um estímulo terapêutico, pede conforto, atenção, cuidado e carinho. Resgatar os cabelos de mulheres que passaram por tratamentos oncológicos é devolver a elas a feminilidade simbolizada pelos cabelos, assim como a identidade, a capacidade de se olhar no espelho e se reconhecer novamente, dois elementos preciosos na composição da personalidade feminina.