Estudo recente publicado por um grupo de pesquisadores chineses chamou a atenção para o consumo de refrigerantes adoçados com açúcar e o aumento do risco de queda capilar provocado por essas bebidas. Estamos aqui de volta à questão que diz respeito ao metabolismo dos açúcares e o quanto eles podem ser prejudiciais para a saúde. Mais que isso, interferindo em mecanismos que diretamente na atividade das raízes dos cabelos e levam à perda dos fios.
No estudos foram envolvidos 1951 homens com calvície masculina e cuja idade estava entre 18 a 45 anos de regiões diferentes da China. Ao final, a análise foi feita com 1028 voluntários com idade média de 27,8 anos. Os pesquisadores encontraram associação entre o consumo de refrigerante adoçado com açúcar e o aumento da queda capilar. A quantidade de refrigerante consumida por semana pautou o risco, quanto mais se bebia maior a associação com a queda de cabelos.
O estudo, ao seu final, sugere uma maior educação sobre o consumo de tais bebidas para reduzir os riscos à saúde relacionados a elas. Naturalmente que não deixamos os cabelos de fora dentro do que chamamos de “riscos à saúde”.
Não podemos nos esquecer da grande associação que existe entre a síndrome metabólica e a alopecia androgenética. Muitas literaturas apontam para esta direção e, a síndrome metabólica tem, como parte de seus gatilhos e agravantes a resistência à insulina, condição que torna pacientes que consomem grandes quantidades de açúcares mais susceptíveis ao diabetes tipo 2. Assim como às obesidade e às dislipidemias. Os açúcares também têm sido apontados como agentes causadores de hipertensão arterial, e, em alguns estudos, confrontando o sal como grande causador de hipertensão. E, por fim, tanto as dislipidemias, quanto a hipertensão, diabetes, resistência insulina e sobrepeso/obesidade, agravam o risco cardiovascular, em especial por promoverem inflamação endotelial (região interior dos vasos sanguíneos), e por causarem inflamação sistêmica (no corpo como um todo). Junto com a inflamação sistêmica, o estresse oxidativo do organismo resistente à insulina, dos pacientes que não seguem uma dieta menos inflamatória (baixos teores de açúcares), agravando todo o processo.
Naturalmente que há outros desdobramentos em relação a esta situação como um todo, mas se parássemos por aqui, o simples fato do metabolismo dos açúcares implicar, por conta da inflamação sistêmica, em uma resposta inflamatória na raiz do cabelo que favoreça o menor crescimento dos fios, a orientação de diminuir a ingesta de açúcar deveria ser pensada como obrigação para todos aqueles que perdem cabelos. Mais ainda naqueles cujas doenças são crônicas e que contam com mecanismos inflamatórios nas suas patogenias. O estudo citado acima estudou a alopecia androgenética, mas fica aí o aviso de que o consumo elevado de açúcares certamente também agrava quadros de alopecia areata e de alopecias cicatriciais.
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