Quem acompanha os trabalhos do grupo de pesquisadores que são orientados pelo Dr Ralf Paus, sabe que há anos ele estuda o papel do estresse “psicoemocional” na queda capilar. Em seus modelos de laboratório, Paus confirma, cada vez mais, a bioquímica envolvida no processo de indução da fase de queda de folículos ativos após eventos estressantes. Algumas das constatações das pesquisas de Paus revelam que mecanismos neuroendócrinos promovem a liberação de substâncias que modulam a atividade dos folículos pilosos levando à queda capilar.
Afirmar que quedas capilares não são causadas por estresse e questionar qualquer pessoa que afirme isso, é desconsiderar demais o fato de que emoções são sentidas por nós na forma de moléculas, e quaisquer que sejam as emoções que vivenciamos, elas podem causar benefícios ou malefícios à nossa saúde como um todo, incluindo o couro cabeludo e os folículos pilosos.
Se o estresse pode causar aumento de pressão arterial, arritmias, crises alérgicas, induzir o surgimento ou agravamento de doenças autoimunes, tudo isso através do eixo psiconeuroendócrino, por que não poderia causar queda capilar?
Estudei padrões emocionais em pós graduações, entre elas em meu mestrado, onde aponto o SOFRIMENTO psicoemocional como uma forma de estresse que poderia ser um fator de predisposição e gatilho de piora de pacientes com alopecia fibrosante frontal. Isso porque, quando se estuda a biografia dos pacientes, quando há um interesse REAL em saber quem eles são e que tipos de dores eles têm, desmerecer o estresse é de uma falta de sensibilidade ÍMPAR.
SIM, existe queda causada por estresse, e quem exclui este olhar de sua prática clínica comete um erro grosseiro. E mesmo que a confirmação deste fato não estivesse nos livros e nos artigos científicos, qualquer profissional comprovaria isso no atendimento de seus pacientes.
Ah, mas estresses pequenos não causam queda… Causam sim, em especial porque não os valorizamos devidamente, e vivenciamos diversos tipos de estresses ao mesmo tempo. E somados, esses estresses podem ter impacto tão significativo quanto um estresse parrudo, robusto, tal como um luto, uma separação, uma demissão de um emprego.
Mais que isso, o estresse é cumulativo. E aqui vou fazer uma comparação com o ganho de peso. Sendo bem simplista, se você comer algumas calorias a mais do que as que você gasta em um dia, todos os dias, por meses e anos a fio seu peso irá aumentar, e aumentar, e aumentar. O mesmo vale para o estresse, se não temos momentos de relaxamento (relaxamento real, sem bebidas alcóolicas, sem drogas, sem festas, apenas curtindo a família, a natureza, uma viagem prazerosa, entre tantas outras coisas relaxantes e que nos ajudam a desestressar), se não nos alimentamos bem, se não fazemos atividades físicas com uma certa rotina, se nosso sono não é dos melhores, O estresse vai se acumulando em nosso corpo, com resultados catastróficos para nossa saúde, inclusive a saúde de nossos cabelos.
Não se trata de jogar a responsabilidade para o paciente. Pedir para ele desestressar. É muito mais que isso, é fazer o que ninguém faz hoje, olhar para si mesmo, assumir as responsabilidades sobre as nossas próprias vidas, sobre nossas saúdes, e fazer o melhor para nós mesmos. Isso é fundamental para uma saúde integral. Isso não exclui, de jeito nenhum, a saúde dos cabelos.
Então, se você é paciente, se você sofre de queda capilar, saiba que o estresse derruba seu cabelo. E ainda pode causar outros problemas no seu organismo. Qualquer coisa que te digam diferente disso, desconfie, tem gente que tem cegueira seletiva e conveniente, seja porque não aceita uma determinada verdade, seja porque não estuda sobre ela, seja porque quer chamar atenção.