Recentemente postei em um stories no Instagram sobre meu posicionamento de não falar sobre Deus em redes sociais. Na postagem eu dizia que não postava sobre Deus em especial porque sou repleto de falhas e acreditava que esta postura, dependendo de como eu a fizesse poderia dar a impressão de hipocrisia de minha parte. A repercussão foi imensa. Muitos me perguntaram se eu era ateu, se eu tinha alguma religião, se eu estava criticando alguma pessoa em especial. Teve uma amiga, extremamente religiosa, que veio me perguntar se eu estava postando uma crítica velada a ela. Vamos aos fatos:
1- A verdade é que não sou ateu, mas conheço muitos ateus que tem mais postura cristã diante da vida do que alguns cristãos que eu conheço.
2- Nasci católico e acreditei ser espírita em algum momento da minha vida. Logo, minhas bases religiosas são cristãs. Independentemente disso aprendi a ler a proposta da religião, o religar do homem com Deus. Em especial quando ele se sente perdido e desamparado. Promover a plenitude. Porém, também entendo que qualquer filosofia que eleve o homem e o coloque em contato com o Divino é digna de respeito. Orientais, ocidentais, primitivas, afro, todas elas, quando promovem a paz, o amor, a temperança e o bom senso diante da vida e do próximo são dignas de respeito.
2.1- Ainda que tenha crescido dentro de casas cristãs (católica e espírita), e, tendo Jesus como exemplo, ídolo e um parceiro de caminhada nesta longa jornada chamada de vida, compreendi que passaram por essa terra vários outros profetas ou iluminados que merecem minha admiração. Buda, Moisés, Maomé, Rumi, Gandhi, Madre Tereza, Francisco de Assis, e mais uma lista infindável de grandes personagens que fizeram nosso mundo melhor.
2.2- Estudo religião a fundo. Estudar algo tão complexo não me faz ser o dono da verdade, sequer imaginar que eu esteja próximo dela, mas me dá uma diretriz daquilo que me ajuda a realizar meu processo de conexão com o Divino. Certo que os textos sagrados são a base de todas religiões, mas há belos textos de ficção, escritos filosóficos e até na psicologia que me ajudam a alicerçar de forma mais elaborada aquilo que entendo como religião.
2.3- Entro em qualquer casa. Aprendi que pouco importa o nome do templo, igreja, mesquita, sinagoga, terreiro, uma vez que a função de promover o bem e a alegria do encontro com o Divino se realize.
2.3.1- Mas há algo que concordo parcialmente na frase acima (mesmo tendo sido escrita por mim). Creio que Deus vive em nós e que, ao mesmo tempo, somos parte dele. Carregamos a essência Divina para todos os lados. E, de certa forma, me parece fazer mais sentido dizer que, quando vamos a uma casa religiosa, na verdade, levamos o Deus que existe em nós para comunhar com o Deus de todos os que alí estão.
3- A crítica que fiz a mim mesmo, de que tenho defeitos demais e que não fico batendo no peito para falar de Deus porque não me sinto digno disso tem um pouco de vergonha embutida. Vergonha e, quem sabe, um pouco daquilo que está em Mateus VII, 21-23 (quem souber de cor vai entender a mensagem, quem não souber vai na Bíblia, no Novo Testamento, no Google e procura). É preciso muita coragem para isso.
4- Devo confessar que conheci e conheço hipócritas das religiões. Pessoas que escondem seus defeitos professando Deus para todos os lados. Houve um tempo que as novelas da Globo mostravam as beatas cometendo suas maldades, algumas atrocidades inclusive, ao mesmo tempo que vestiam uma persona de puritanismo e bondade. Verdadeiras caricaturas, motivos de momentos de diversão em novelas como Tieta, O Bem Amado, A Indomada, Xica da Silva, Roque Santeiro (sim, sou velho, você não deve se lembrar de nenhuma dessas novelas ou séries da TV brasileira). A existência de tais hipócritas das religiões me faz questionar certos padres, pastores, reverendos e também “fiéis”. Prefiro a humildade do Cristo do que a arrogância daqueles que, usando o nome dele, distorcem o propósito maior de sua mensagem.
5- Vejo Deus em tudo. Nos meus filhos em especial. Num pôr do sol. Numa noite de lua cheia. Numa chuvarada que molha a terra seca há dias. Numa improvisação de jazz. No solo de guitarra do David Gilmour quando em suas performances ao vivo de Comfortably Numb. Numa bela paisagem. Em um monumento histórico. Na postura inconformada do ser humano diante de uma tragédia. No sexo quando há amor. E em tantas coisas que não caberiam aqui.
6- Quando fiz o post eu realmente não estava me ocupando em falar de alguém em especial. Vejo tantas postagens sobre Deus que penso que elas acabaram banalizando as redes sociais, uma pena (ainda que haja um lado bom nisso, melhor falar de Deus do que de funk, ou Pablo Vittar, por exemplo). Lamento se alguém se ofendeu, se incomodou. Por isso, se você chegou até esta parte do texto, quero te dizer: o post não era para você. Por outro lado, se ele te fez refletir, de alguma maneira. Se ele te deixou preocupado(a), de alguma forma. Se ele te tocou. Quem bom! Quem sabe você realmente seja digno(a) de postar sobre Deus. Eu me sinto a vontade para falar sobre religião, sem pertencer a religião nenhuma. E ainda assim ser religioso o suficiente para entender minha pequenez diante de Deus.
6- Definitivamente não sou ateu.