Sempre fui contra a realização de procedimentos químicos em cabelos de crianças. Uma hidratação, uma escova eventualmente, até acho que não tem problema nenhum fazer. Mas ao preparar minha palestra para o Congresso Internacional Etnic sobre pele e cabelos de origem Afro eu tive que fazer uma ampla revisão sobre anatomia, fisiologia, alergenicidade e sensibilidade cutânea. Além de buscar elementos para compor uma discussão do tema na sociologia, psicologia, na filosofia e nas artes.
O que percebi, ao me aprofundar no tema é que o problema é muito mais complexo do que eu imaginava. As forças mercadológicas atuam de forma a favorecer condutas de risco e a influência de elementos culturais e emocionais, interferem na razão dos pais que permitem que seus filhos passem por estes procedimentos.
Infelizmente, como eu já havia citado em outros textos (vide texto sobre xampu bomba), o cenário parece me mostrar que realmente vivemos numa sociedade doente, que perdeu os mínimos princípios do bom senso e que entende que vale tudo, até mesmo expor uma criança ao risco de uma alergia severa ou queimadura grave da pele e dos cabelos, apenas para satisfazer a falsa ideia de que ter o cabelo seguindo padrões de “moda”, como se isso realmente tivesse um valor importante para a saúde.
Esta ideia de a moda ser perigosa à saúde é antiguíssima, mas não vou me referir a períodos muito antigos para ficar num exemplo extremamente atual, o das medidas de modelo de passarela que são praticamente muito fora da realidade da mulher média comum da sociedade em que vivemos. Muitas dessas modelos chegam a ficar sem comer para não perder trabalhos expondo suas saúdes a um risco enorme.
O mesmo vale para os cabelos. Apesar deste texto estar vinculado aos cabelos de crianças, infelizmente vejo um número crescente de mulheres que buscam atendimento médico para tratar suas fibras capilares danificadas pelos excessos de químicas.
Numa criança, cuja pele e cabelos ainda não estão amadurecidos tal como ocorre com o de uma mulher adulta, a pele fica muito mais susceptível aos riscos de queimaduras e alergias. Os fios, por sua vez, são mais passíveis de serem danificados e, consequentemente, de desastrosamente sofrerem quebras e danos significativos.
Precisamos, como sociedade, refletir sobre nossos valores. Sobre quem nos dita o que fazer ou não. Sobre o quanto o mercado (a moda), deveria influenciar em nossas vidas. E, quem sabe, aceitar mais a beleza que a natureza nos deu que é única, e não substituí-la pela beleza que a sociedade nos faz acreditar que é a ideal.