O Grito – Edvard Munch |
Mas a queda capilar dói? Se não há dor física há dor na alma. Não costuma ser apenas um sofrimento de alguém que perde aquilo que para muitos parece ser supérfluo, fios de cabelos. Quem perde cabelos sofre a perda de uma parte de si, de sua identidade. Quase como se estivesse sentindo que algo em seu corpo foi amputado, e, até que encontre uma tábua de salvação, algo que lhe promova consolo e minimize a progressiva visão de que cada vez mais fios se perdem, vivencia a angústia de um futuro incerto.
Lembro-me de em algum momento da vida ter lido um texto sobre síndrome do pânico que trazia como ilustração a imagem de O Grito de Edvard Munch. Alguém que grita, sem cabelos, mãos que seguram o rosto, olhos arregalados, sob um céu alaranjado. Essa imagem me passa a sensação de uma certa angústia, de uma tragédia ocorrida ou iminente. Desde então nunca mais deixei de associar esta obra a algo que me remete ao medo, ao pânico.
Muitas vezes, quando vejo um paciente sofrendo e com medo da queda capilar, parece que é para o personagem de O Grito que estou olhando. Alguém que tem uma dor e que teme pelo desdobrar desta dor. Mas como fazer para aliviar esse medo do meu paciente? Como lidar com uma crise de queda capilar que é vista como uma tragédia para que a vivencia?
A prática médica é uma atividade de aprendizado constante. Não só pelo que se estuda, mas pelo que adquirirmos através da experiência com cada ser humano que nos busca para ser consultado. Se estivermos propensos a ouvir atentamente ao sofrimento de cada um certamente teremos condições de entender melhor a doença e ajudar melhor àquele que sofre por causa dela.
Alguns pontos essenciais colaboram muito nesse momento, são eles:
- Estar sempre atualizado sobre as doenças dos cabelos e couro cabeludo, em especial sobre como elas se formam e como podem ser tratadas.
- Entender quais são os métodos diagnósticos que podem colaborar com a melhor precisão na identificação do problema.
- Ter um repertório terapêutico que permita atender a cada caso nas suas necessidades. Esse repertório vai além dos procedimentos que o médico oferece, e implica na capacidade de tornar o tratamento realizável pelo paciente (ex: saber solucionar questões simples como adaptar um tratamento a pacientes que não conseguem engolir cápsulas, que tomam certos medicamentos, que sofrem com outros problemas de saúde, que viajam muito, que tem alergia a determinados grupos de fármacos).
- Saber orientar o paciente quanto ao problema que ele apresenta, ou seja, ser um educador. Um médico que informa o paciente sobre o diagnóstico, suas causas e o que se pode esperar de um tratamento exerce um efeito psíquico muito significativo no paciente e favorece a formação do vínculo de confiança que a relação médico-paciente exige.
- Saber tranquilizar os pacientes, manter a esperança acima de tudo e estar sempre disposto a reforçar informações que estimulem a manutenção da adesão ao tratamento.
- Ser um fornecedor de literatura confiável. Nos dias atuais, apresentar fontes de informação confiáveis aos pacientes é essencial. Do contrário ele ficará à mercê de uma grande massa de informações sem respaldo científico que a internet, em especial, oferece.
- Saber lidar com as crises. Pacientes que passam períodos de menor intensidade de queda alternados com períodos de queda mais intensa são comuns. Nesse momento a tranquilidade do profissional e seu repertório de tratamentos colaboram muito para que o tratamento volte ao eixo e o quadro clínico volte a ficar sobre controle.
- Crises exigem que as partes, ou pelo menos uma delas, no caso o profissional, mantenha a cabeça no lugar para ter clareza de pensamento e uma tomada de atitude mais efetiva. A experiência clínica e a capacidade de identificar as causas de crise e solucioná-las faz muita diferença.
- O vínculo entre médico e paciente é essencial. Assim como é essencial que o paciente esteja vinculado ao tratamento, ou seja mantenha o foco no mesmo, seguindo as orientações médicas como prescritas.
- Por fim, reforço a necessidade de um olhar humano do profissional em relação ao paciente que sofre. Passei por problema de queda de cabelos na minha adolescência e começo da idade adulta e tive a honra de encontrar uma médica que, sem saber, me ajudou a moldar a forma como eu atuo hoje. Mais que isso, ter passado pelo problema me permite entender o paciente de uma forma um pouco diferente. Já estive no lugar dele e, em muitas situações, vivi o que ele vive e passei pelas crises que eles passam. Ter sido bem cuidado e orientado nessas horas foi essencial. Minha tendência natural quando diante de um paciente é relembrar, através da fala deles, a minha própria experiência com a perda capilar, e, naturalmente, agir como gostaria de ser tratado se fosse eu o paciente.
Eliza e piu em O Grito de Edvard Munch Dani Purper (www.urbanarts.com.br) |
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