O III Congresso Internacional de Tricologia e Ciência Cosmética realizado entre os dias 26 a 28 de Julho de 2015 ainda reverbera muito em minhas reflexões.
Ontem mesmo, postei um texto baseado em um tema que foi assunto em um dos jantares com palestrantes do congresso, sobre produtos não éticos que são lançados aos montes no mercado e que iludem pacientes com problemas capilares (Leia em: SE EU PUDESSE FARIA UMA FAXINA NO MERCADO DE PRODUTOS PARA QUEDA CAPILAR).
Hoje o tema é outro. É a relação médico paciente posta em cheque. No evento pós-congresso realizado no dia 29 de Julho na sede do CAECI, um dos pontos de discussão entre os participantes foi totalmente focado nas informações que os pacientes nos contam e naquelas que eles não nos contam nas consultas médicas. Óbvio que isso não é uma exclusividade minha como médico. Também não é uma exclusividade de tricologistas ou dermatologistas, mas é uma coisa que acontece em todas as especialidades médicas.
Dois dos terapeutas capilares que trabalham comigo são taxativos em afirmar que há muita coisa que não é dita em consulta e que é falada nas sessões de terapia capilar. Pelo teor do que discutimos sobre os casos que tratamos (e discutimos a evolução dos casos periodicamente como qualquer equipe interdisciplinar de saúde hospitalar o faz), o que muitos pacientes deixam de me contar são coisas, paradoxalmente, cabeludas. Uso de drogas, dietas rigorosas, tendências a transtornos alimentares, uso de medicamentos que provocam queda capilar, hábitos e comportamentos de risco, abuso de química ou de agentes térmicos nos cabelos, problemas pessoais que estão afetando de maneira importante a saúde emocional dos pacientes, entre tantas outras coisas.
Respeitamos nossos pacientes. Queremos o melhor para eles e trabalhamos como equipe de saúde sempre buscando as melhores soluções para cada um deles. Mas, como chefe da equipe de minha clínica, como posso ser um agente de melhor contribuição para tais pacientes se não me deixam a par de detalhes importantes para suas saúdes? Como orientar e prescrever com melhor direcionamento e menos risco para o paciente se não me diz que usa uma medicação tarja preta ou que é usuário de drogas?
Terapeutas capilares não podem prescrever. Em nossa clínica são extremamente bem treinados para ouvirem e serem responsáveis em suas orientações. Porém, além do trabalho que fazem nos cabelos de meus pacientes, não podem ir além disso. Sou eu quem preciso direcionar orientações médicas e tratamentos que atuem de forma mais precisa naquelas questões mais sérias dos pacientes. E quando eles preferem não me contar, estão sendo efetivamente prejudicados por não trazerem essas informações para o ambiente da consulta.
Não sou juiz, não tenho motivos para julgar condutas ou hábitos de ninguém. Mas como agente de saúde, sou obrigado a tomar medidas de orientação e atuar de forma responsável e segura frente aos pacientes que me procuram. Quando informações são omitidas na consulta, perco eu por não poder ajudar mais a quem me procura e perde o paciente, porque deixa de receber contribuições para sua vida e seu tratamento que eu poderia de muito bom gosto oferecer.