Em 1968 o sociólogo Erving Goffman publicou o livro Stigma, definindo estigma como uma marca ou sinal que distancia as pessoas e causa uma desvalorização do indivíduo perante a sociedade.
Desde o início da civilização, o que pode ser provado em relatos da antiguidade e visto e revisto em importantes livros como o Antigo Testamento, as doenças de pele sempre foram motivo de exclusão social de membros da sociedade, estando, via de regra, incluídas entre as manifestações de saúde com potencial estigmatizante, se fizermos um paralelo com a definição de Goffman acima citada.
Os eventos de bullying que observamos atualmente são uma forma mais atual de entendermos a gravidade do estigma. Segundo o médico Gerry Kent, que escreveu um capítulo sobre estigma no livro Psychodermatology – the psychological impact of skin disorders (editora Cambridge), o indivíduo estigmatizado sofre rejeição, medo de exposição social, sentimento de imperfeição e uma maior sensibilidade à opinião do outro.
Ainda de acordo com Kent os efeitos que a estigmatização provocam são severos e implicam em comprometimento na forma como a pessoa vê a si mesma e o meio em que vive. Ocorre uma maior tensão e receio de sofrer com eventos que provocam a estigmatização (bullying), há uma interpretação de eventos neutros como estigmatizantes e amplifica quadros ansiosos e depressivos relacionados à estigmatização.
Quando o tema é a queda de cabelos, a questão do estigma é algo que é trazido constantemente em consultas médicas. O paciente, à sua maneira, percebe que a perda de cabelo pode ser extremamente incômoda e as justificativas são inúmeras.
Além de atitudes como tentar cobrir as áreas de rarefação da maneira que lhes for possível ou conveniente (chapéus, bonés, faixas, arcos, lenços, formas variadas de prender os cabelos, penteados, etc), no caso dos pacientes do sexo masculino, temos argumentos, na maior parte das vezes, utilizando frases que remetam ao aspecto envelhecido ou às inconveniências estéticas que a calvície acompanha, de alguma forma todas elas remetem à ansiedade ou a um estado depressivo frente ao problema (ex: sou muito novo, gosto do meu cabelo, não consigo mais usar o topete, meus amigos brincam comigo, fico tentando esconder mas não consigo mais).
Já as mulheres, sempre mais cuidadosas e cheias de zelo por seus cabelos, acabam vivenciando outros aspectos que remetem à perda da feminilidade, da beleza e da jovialidade. São comuns nas consultas com mulheres comentários como: no caso dos homens tudo bem ficar calvo, fica até mais charmoso (bonito), é socialmente aceito, mas uma mulher calva fica muito feia, envelhecida.
A abordagem ao paciente com perda capilar passa pelo entendimento de como ele se sente frente ao problema, além de como ele sente que a sociedade o vê. O profissional que percebe que o paciente com rarefação capilar se sente estigmatizado deve ser sensível a esse fato e usar de estratégias de encorajamento, colaborar com a melhora imediata da parte estética (mesmo que para isso algumas ferramentas cosméticas necessitem ser utilizadas – maquiagem capilar, por exemplo), além de tranquilizar o paciente que sofre com o problema, sendo sempre um agente de amparo e estímulo para que o paciente lide melhor com o quadro.
Essa responsabilidade profissional é fundamental para que possamos colher melhores resultados nos tratamentos, assim como gera empatia profissional-paciente/cliente, além de ser motivadora da resiliência
do paciente.