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POR QUE MEUS CABELOS NÃO PARAM DE CAIR? – Reunião de 3 textos sugerida por leitor do blog

Quero agradecer aos leitores do blog os elogios recebidos pela série de textos O QUE HÁ DE ERRADO COM MEUS CABELOS QUE NÃO PARAM DE CAIR.

Apesar do conteúdo das 3 partes do texto juntos ser longo, a sugestão do leitor Carlos Miguel Cervantes será realizada, a de que as 3 partes da série componham um único post para que o leitor possa ler tudo sem ter que mudar de página.
Novamente, meu muito obrigado pelas considerações e sugestões de todos os leitores do blog.
Conheça meu trabalho médico em: www.ademirjr.com.br

PARTE -1

Estamos sempre buscando respostas aos problemas que nos afligem. Isso vale para tudo na vida, assim como vale na pesquisa pelo diagnóstico e melhora de quadros de quedas capilares. Normalmente recebo pacientes que mesmo depois de anos de tratamentos, inúmeras trocas de remédios e suplementos, uma lista imensa de xampus e loções de todos os tipos, não sabem o que causa ou o porque não encontram solução para suas quedas capilares. 


A questão é que tenho observado, por conta dos inúmeros pacientes que se queixam de uma cronificação de seus quadros, que há uma tendência à prática do reducionismo no diagnóstico e no tratamento das quedas capilares. A mídia leiga e o sistema de saúde nos induz a crer que podemos simplificar os problemas que afetam o organismo, nos fazendo buscar e apontar um culpado para aquilo que nos causa doenças (valendo para todas as áreas da medicina), numa tentativa de simplificar algo que é complexo demais, a natureza humana. E quando falo em natureza humana falo de tudo, nosso corpo, nossa maneira de relacionar com o mundo e a forma como nos relacionamos com  nós mesmos (psique).
Por conta disso, passamos a crer que tudo tem a ver com o palpável, com aquilo que nos parece tangível, ou mesmo conveniente. No caso dos problemas de cabelo, apontar o dedo para a anemia, a alimentação, a genética, a tireóide, os hormônios por causar queda capilar é uma realidade que não discuto. Mas que também deve levar os pacientes a refletir, em especial se a correção do problema que causa a queda de cabelos não é suficiente para melhorar o quadro, o que pode estar acontecendo? O que há de errado que faz com que, mesmo sob tratamento, os cabelos não parem de cair?

Sei que muitos já se perguntaram isso e acabam, de uma forma ou de outra, concluindo que o “insucesso” do tratamento está na ineficácia de uma ou outra medicação ou na “falta de competência” deste ou daquele profissional. Mas seriam essas as conclusões mais acertadas? O leitor que sofre com a queda capilar poderá, nesse momento, tentar afirmar para si mesmo que sim, e até poderia estar correto. Mas para estar correto deve ter em mente dois pontos importantes: 1- não existe medicação que seja 100% eficaz ou que possa ser benéfica para todos os seus usuários, 2- o relacionamento entre médico e paciente é construído bilateralmente com sinceridade, comprometimento, vínculo e interesse em entender o processo que aflige o paciente. Levando em consideração esses pontos, espero que o leitor desse texto possa, agora, entender que muitas vezes o “insucesso” no tratamento não está no medicamento, mas na forma como o medicamento interage com o organismo do próprio paciente. É por isso que muitas medicações não são tão eficazes para uns quanto são para outros. Por isso, afirmo que pode ser que a culpa não seja do medicamento, mas sim da forma como seu corpo responde ao medicamento. Ficou claro esse ponto? Nesses casos, cabe ao médico verificar se há outra opção de tratamento que seja melhor para o paciente ou se ele pode somar uma outra medicação que torne a eficácia do tratamento mais significativa. Assim como o médico precisa contar com a sinceridade e com o comprometimento do paciente no que diz respeito ao tratamento. Às vezes, no transcorrer de uma única consulta médica, fica muito difícil para o médico saber “tudo” sobre o paciente. E, naturalmente, uma primeira prescrição é pautada em informações coletadas na história clínica e exame físico deste primeiro encontro entre as duas partes.

O médico irá trabalhar com o que está ali, à sua frente, ou com o que recebeu de informações na história clínica. Se o paciente esquece de contar ou esconde algum detalhe importante, certamente irá atrapalhar o curso de seu tratamento, uma vez que estará deixando de oferecer ao médico dados que podem ser relevantes. Caberá também a este médico solicitar, quando necessário, exames complementares que colaborem com o melhor entendimento do quadro, uma vez que exames complementares podem informar sobre pontos importantes que não estão nem na história clínica nem no exame físico.


Você, leitor, percebe como algo que parece simples pode ficar complexo? 
Mas há muito mais a ser dito. Vou parar por aqui mas volto com a segunda parte desse texto. Quero explicar direitinho a você porque seus cabelos não param de cair.

PARTE -2

Dando sequência aos motivos pelos quais seus cabelos não param de cair, volto à questão do reducionismo no diagnóstico da perda dos cabelos, ainda não explorado da forma que eu gostaria de explorar na primeira parte desse texto.

Digo e repito para meus pacientes e alunos que há uma vasta gama de motivos para que os cabelos caiam. Em alguns casos, quando a queda capilar é crônica, os motivos para o cabelo cair provavelmente estão em curso (uso de um medicamento, depressão, doenças de longo curso). Quando a queda é aguda, pode ser que os motivos para a queda capilar já tenham desaparecido (febre, cirurgia, parto). Há casos em que a queda capilar pode ser crônica e manifestar um período de agudização, ou seja, há uma queda acima da média que fica muito acima acima da média por um ou outro motivo, exemplo: paciente com depressão de curso longo que desenvolve uma infecção urinária que após tratada desaparece.
Há casos em que dois motivos de queda capilar crônicas coexistem num mesmo paciente como é o caso de um quadro de calvície genética em um paciente com hipotireoidismo que não foi ainda diagnosticado, logo não está sendo tratado. Uma queda coexistindo com a outra acaba por agravar o quadro geral do paciente e, consequentemente, a percepção de perda capilar mais severa evidencia. 
Há situações de pacientes que passam por uma sequência de eventos causadores de queda aguda com intervalos muito pequenos de tempo entre eles, como: infecção urinária, seguida de anemia, seguida de período de insônia, seguida de um evento de luto. 
Existem situações crônicas que são subestimadas nos cuidados com a queda capilar como baixo estoque de ferro no sangue (ferritina baixa), baixa concentração sérica de vitamina D, deficiência de zinco, dietas pobres em proteínas, determinados tipos de contraceptivos ou implantes hormonais que podem interferir no trabalho dos folículos pilosos e, consequentemente, promover queda de cabelos. 

A verdade é que existem tantos motivos para o surgimento de quedas capilares e eles podem estar presentes nos pacientes de maneira isolada ou conjuntamente que me atrevo a afirmar que olhar para uma queda capilar e não estar atento à tudo que diz respeito à natureza humana (como já comentei na primeira parte desse texto), seria uma grande omissão.
Também afirmo que para cada paciente os motivos de queda capilar tem pesos diferentes. Se para alguns um hipotireoidismo pode refletir pouco na queda dos cabelos, para outros ele pode ser um fator de grande relevância. Se temos pacientes anêmicos que não manifestam quedas capilares poderemos ter também pacientes com anemia e queda capilar severa em virtude dela. 

Vamos complicar mais um pouco? Só para fugir do reducionismo? O paciente chega na clínica com uma queda capilar diagnosticada como alopecia androgenética (calvície genética), mas sofre de hipotireoidismo, teve uma internação por pneumonia há uns 4 meses, está com deficiência de vitamina D e deprimido. Quais de vocês acredita que ele vai melhorar de seu quadro de queda capilar simplesmente utilizando um medicamento específico para calvície genética? Poderá até melhorar, mas não irá evoluir tão bem quanto poderia caso estivesse tratando também os demais problemas que causam queda de cabelos.
A questão é que quedas capilares não são simples de se tratar, exigem um estudo minucioso do paciente e um vínculo entre o paciente e o médico muito importante. E olha que ainda não falei da natureza humana como gostaria, mas isso vou deixar para a parte 3 desse texto que em breve postarei por aqui.

PARTE – 3

Nesta terceira e última parte do texto fiquei de comentar sobre a natureza humana envolvida no processo de queda capilar. E quando falei de natureza humana na parte 1 e 2 deste texto estava me referindo ao nosso corpo, nossa maneira de relacionar com o mundo e a forma como nos relacionamos com  nós mesmos (psique).
Mas porque acredito que isto é tão importante quando estamos diante de uma queda capilar? Certamente, quando iniciei esta série de três textos, não esperava que iria falar de coisas simples, e aqui vai mais uma: Porque a maneira como nosso corpo trabalha, a forma como atuamos e interagimos com o mundo que nos rodeia e a maneira como lidamos com nossas questões pessoais (sentimentos, receios, ansiedades, alegrias, questionamentos e reflexões), nos faz únicos. 
E é por isso que ninguém é igual a ninguém, que nem sempre o que é bom para uma pessoa vai ser bom para outra e vice-versa. É aqui que entra o que eu chamo de biografia de vida, um conceito que a medicina psicossomática e a antroposófica utilizam muito, mas que a medicina alopática parece dar cada vez menos valor. Lembro muito bem das minhas aulas de semiologia na faculdade de medicina quando meu professor, o Dr Luiz Fernando Barbosa Wander Velden, nos incentivava a exigir do paciente todas as informações possíveis sobre ele, O PACIENTE, e não apenas sobre a doença que o trazia ao hospital. Certamente porque a biografia do paciente é 100% importante para o melhor entendimento da saúde do mesmo e da susceptibilidade que ele tem para manifestar uma doença com mais facilidade do que outra. Um exemplo simples está relacionado ao estresse, há pessoas estressadas que quando estão em picos de estresse manifestam gastrite, outras manifestam alergias, outras tem picos de hipertensão e há aquelas que perdem cabelos. 
Segundo a epigenética, ciência sobre a qual eu já comentei aqui em outro post (leia aqui sobre epigenética), além de toda a herança genética que herdamos, também herdamos susceptibilidades epigenéticas, que estão relacionadas não aos nossos genes em si, mas ao maior risco de desenvolver certos problemas de saúde do que outros em virtude do estilo de vida de nossos avós. Não entendeu? Bem, vamos tentar simplificar, se sua avó fumava durante a gestação de sua mãe, o impacto do cigarro para ela e para sua mãe podem chegar até você e se manifestar como uma susceptibilidade a desenvolver doenças. mais claro agora?
Estrou falando de nossa biografia, nossa história de vida. Em resumo: o que herdamos geneticamente, as susceptibilidades que herdamos em virtude do que nossos ancestrais faziam (hábitos e vícios), as escolhas que fazemos e o peso das escolhas que nossos pais e a sociedade acabam por impor a nós mesmos. Tudo isto misturado. 
Entendeu por que seu cabelo não para de cair? Porque não é tão simples assim. porque temos que olhar para o todo. Para você por inteiro. Temos que saber muito sobre você para poder te ajudar, mas para poder te ajudar precisamos de sua colaboração. Então, quer melhorar da queda capilar? Vamos trabalhar juntos para fazermos um tratamento que seja o melhor possível para você. Um que se adeque perfeitamente às questões que envolvem a escolha do melhor tratamento, que se baseie um entendimento completo sobre a sua história pessoal, sobre questões vinculadas à sua saúde, seus hábitos e suas rotinas. Vamos tentar encontrar a melhor forma de lidar com o(s) fator(es) que possam estar relacionados à sua queda capilar, porque isso nos permitirá ir mais longe e buscar uma satisfação maior diante dos cuidados com seus cabelos.

Vamos saber lidar com os sucessos, mas sobretudo com os passos para trás que a evolução do seu quadro pode dar. Às vezes, são esses passos para trás que vão nos conduzir a uma amplificação de pesquisa e à busca por uma causa nova ou que ainda não havia sido constatada antes. 
Lembre-se, você está vivo, e como um ser vivo e atuante no mundo, tudo o que você faz ou que aconteceu com você pode interferir na forma como você se sente, se comporta ou na forma como seu corpo reage ao estar vivo. 
Quero te ajudar a melhorar de sua queda capilar, e agora que você entende um pouco mais deste processo complexo que é o surgimento de uma queda capilar, peço com carinho que possamos trilhar juntos esta jornada. 
Grande abraço,
Ademir C Leite Júnior – CRM: 92.693
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