Quem me conhece já deve ter me ouvido dizer que é mais fácil tratar uma queda de cabelos do que a ansiedade de pacientes que sofrem com o problema. Esse é um fato que eu tenho observado na minha prática clínica e que se aplica de forma muito mais importante às mulheres.
Desde que comecei a trabalhar com tricologia observo condições frequentes em um amplo número de estudos que envolvem a perda capilar e a mudança da qualidade de vida dos pacientes independente do gênero. Entre esses fatores uma tendência à ansiedade (já citada na primeira frase desse parágrafo), além de outros aspectos psíquicos envolvendo o processo como a depressão e comportamentos neuróticos (contar cabelos, ficar se olhando todo o tempo no espelho e uma amplificação da realidade do problema).
Os cuidados com o problema e a amenização dos aspectos clínicos que mais chamam a atenção dos pacientes, no caso a perda capilar perceptível e a rarefação do couro cabeludo, são fatores que acabam por reduzir o impacto emocional causado pelas perdas capilares nos pacientes, devolvendo a eles um maior equilíbrio dessas questões psíquicas e, consequentemente, melhorando a qualidade de vida dos mesmos.
O periódico Experimental and Therapeutic Medicine publicou em 2013 um estudo realizado com mulheres chinesas que sofrem com a queda capilar padrão feminino (Female Pattern Hair Loss), nomenclatura dada na língua inglesa para a alopecia androgenética em mulheres. Este estudo avaliava a qualidade de vida de mulheres acometidas pelo problema e o impacto positivo do tratamento com loção de minoxidil para essas pacientes.
Cento e vinte e cinco mulheres entre os 16 e os 72 anos com severidade variada do quadro de rarefação capilar, foram submetidas a uma avaliação de gravidade de seus quadros por escala análoga visual (VAS) e a um questionário de qualidade de vida para problemas dermatológicos (DQLI). Das mulheres convidadas para o estudo, 31 foram submetidas a um tratamento com solução capilar contendo 2% do ativo minoxidil por 12 meses. Ao final dos 12 meses todas as 125 pacientes foram reavaliadas pelos mesmos métodos.
As mulheres que fizeram uso do medicamento tiveram uma mudança positiva nas suas avaliações pelo VAS e pelo DQLI estatisticamente significativas, independente de terem tido uma boa resposta clínica ao uso dos medicamentos (em 23 mulheres), ou de terem tido uma resposta clínica limitada (8 mulheres), levando os pesquisadores a concluir, pelo fato desses métodos avaliatórios terem elevada confiabilidade, simplicidade e sensibilidade, que o tratamento, além de melhorar clinicamente a percepção das mulheres estudadas sobre a gravidade de seus quadros, melhorou também suas qualidades de vida.
Podemos concluir com isso que a melhora dos quadros de alopecia em mulheres contribui muito para que a percepção que elas tem sobre elas mesmas sofra uma interferência positiva. Certamente, elevando a auto estima e a confiança das mesmas. Mais que isso, a melhora do quadro capilar reduz a ansiedade, estados depressivos e até comportamentos neuróticos que os pacientes desenvolvem quando sofrem com a queda capilar, sendo essas conclusões muito mais constatações que observo em minha prática clínica do que informações oferecidas pelo estudo em questão.
Apesar disso, é importante salientar que tanto os tratamentos de quadros femininos ou masculinos dos mais variados diagnósticos de alopecias, podem ter curso lento e gradativo de melhora. Essa situação muito mais pautada por questões fisiológicas (a resposta capilar aos tratamentos é lenta), pelo estilo de vida dos pacientes (quanto pior o estilo de vida mais morosa é a resposta dos pacientes), e pelos fatores causais envolvidos no surgimento do problema do que pelo tipo de tratamento em si, costuma ser motivo de certa ansiedade e angústia por parte de quem sofre com problemas capilares. Logo, cabe ao profissional, entender essas questões, ser realista no prognóstico do quadro, além de ter a tranquilidade de conversar sempre com seus pacientes/clientes, sendo um parceiro dos mesmos tanto no tratamento clínico, como no apoio psicoemocional que estes precisam receber até começarem a sentir seus primeiros sinais de melhora.
Referências:
Zhuang XS, Zheng YY, Xu JJ, Fan WX. Quality of life in women with female pattern hair loss and the impact of topical minoxidil treatment on quality of life in these patients. Exp Ther Med. 2013 Aug;6(2):542-546.