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Secagem e uso de procedimentos térmicos nos cabelos – Entendendo o processo, os riscos e a prevenção de danos

O assunto de hoje é quase senso comum. Secar os cabelos com secador pode
danificá-los. Certamente. A ideia aqui é levar o leitor a refletir sobre como
pode minimizar esse dano. A secagem do cabelo, por mais que não pareça, é um processo
relativamente complexo, uma vez que o cabelo contém ligações químicas (pontes
de hidrogênio) que são influenciadas pela maior ou menor presença de água. Para situar o
leitor, cada fio de cabelo é composto por incontáveis ligações ou interações químicas
(pontes de hidrogênio, ligações entre enxofres e interações iônicas) que ajudam
a manter a sua estrutura e fornecem algumas das características dos fios, como
resistência, elasticidade e dureza. As pontes de hidrogênio se formam entre
átomos de hidrogênio e oxigênio de aminoácidos vizinhos (o cabelo é uma
proteína – a queratina – composta por uma sequência de aminoácidos unidos entre
si). Quando são molhados, as ligações de hidrogênio dos cabelos se desfazem
instantaneamente (por isso você pode perceber que os fios ficam mais “lisos” e
“compridos”, além de mais maleáveis e elásticos). Ao secar os cabelos,
especialmente de maneira acelerada com o uso de secadores, estas ligações se
refazem e o cabelo se mantém no formato que o moldamos (liso, cacheado,
ondulado, etc). O leitor bem sabe que essa “modelagem” não dura muito tempo,
especialmente naqueles cabelos muito lisos (que insistimos em querer deixar
super-ultra-mega volumosos ou ondulados) tampouco nos muitos crespos (que
muitas vezes são desejados lisos e num belo dia de umidade alta no ar voltam a
“encrespar” num piscar de olhos). Isso significa que a secagem não é apenas uma
técnica para a remoção de água a partir dos fios de cabelo, mas também um
método de estilizá-los.
Os secadores tradicionais geralmente vêm com três configurações de
calor: frio, morno e quente, às vezes em intensidades de vento diferentes (I, II e III). Uma grande vantagem dos
secadores profissionais é que o volume de vento produzido é muito maior, o que
possibilita, por exemplo, que o cabelo seja seco com vento morno sem
acrescentar muito tempo ao procedimento. O que seria extremamente interessante,
uma vez que o cabelo é constituído por queratina, uma proteína passível de
desnaturação (degradação) com calor excessivo. Sem entrar no mérito de
alterações da cor… (isso fica pra um próximo post). Se você já esteve sentado(a)
numa cadeira de cabeleireiro e teve a oportunidade de ficar acompanhando pelo
espelho, provavelmente pode notar que muitas vezes os secadores são encostados
nos fios. 

Secador de cabelo encostado aos fios durante a secagem pode provocar danos irreversíveis ao fios.

O motivo? A evaporação super rápida da água facilita deixar os
cabelos no formato desejado. A consequência? Danos aos fios. A olho nu, as
pontas (mas também todo o resto pode ser acometido), especialmente preferidas
para esta prática para dar aquela finalização “perfeita”, ficam cheias de
pontos esbranquiçados. 
Duas possibilidades são mais frequentes, uma alteração
chamada “
bubble hair” (em tradução
livre seria “cabelo com bolhas”) e outra denominada tricorrexe nodosa,
alteração da haste pilosa onde a parte mais externa (as células da cutícula)
não está íntegra, permitindo que as fibras da parte interna e mais representativa (o
córtex) sejam expostas. Este tipo de dano é IRREVERSÍVEL. Os fios podem ser
tratados cosmeticamente e certamente podem ganhar um aspecto melhor e uma “sobrevida”,
no entanto o dano não se reverte.
À esquerda: Um fio de cabelo “bubble hair” visto através de microscopia eletrônica de varredura. Pequenas bolhas se desenvolveram no fio devido ao calor excessivo do secador de cabelo. Fonte: Draelos, Z. D., 2005. À direita: Tricorrexe nodosa com fratura da haste vista sob microscópio óptico. Fonte: Robbins, C.R.2002.
Além do uso do
secador, os pentes e escovas escolhidos para o processo de modelagem podem
causar mais ou menos danos. Existem, ainda, as escovas rotativas que aliam as
duas coisas em um só utensílio, secam e modelam ao mesmo tempo. Há autores da
área que acreditam que as escovas possam ser mais danosas aos cabelos do que os
pentes, devido às cerdas serem menos espaçadas, podendo fraturar os fios e
remover células da cutícula. Infelizmente não encontrei nenhum artigo que
pudesse nos mostrar, cientificamente falando, que sim ou que não. No entanto,
algumas características podem ser trazidas em questão. Pensando que os pentes
não são usados para o processo de secagem, focaremos hoje na escolha das
escovas. Aquelas redondas (que podem ser de metal, teflon, cerâmica, madeira ou
plástico), com cerdas metálicas, de nylon ou fibras de animais (porco ou
javali), com ou sem as “bolinhas” nas pontas das cerdas servem para moldar os
cabelos, pois mantêm muito bem o calor. O que há de se cuidar aqui é que as cerdas
duras (especialmente as metálicas) não seriam as mais recomendadas para o
penteado, uma vez que elas tendem a aumentar a quebra do cabelo. Quanto mais
próximas forem as cerdas, assim como quanto maior o número de cerdas, maior a
tração que a escova é capaz de fazer, maior é o dano que é capaz de causar.  Uma opção interessante são as escovas vazadas
no meio (longitudinalmente) e/ou cheias de orifícios que permitem que o ar quente
proveniente do secador passe, diminuindo os danos causados ​​pelo calor
desnecessário durante a modelagem.
Se tivermos em
mente que processos que causam danos aos cabelos reduzem a “longevidade” da
haste capilar em perfeitas condições (maleabilidade, resistência, penteabilidade,
teor proteico, cor, hidratação), podemos usar de algumas dicas para evitar
esses danos. Importante frisar, estamos falando em manutenção do bom estado da
haste ao evitar agressões externas (físicas e químicas). Obviamente existem
outras dezenas de causas de problemas capilares relacionadas à saúde do couro
cabeludo e folículo piloso em si (alopecia androgenética, alopecia areata,
eflúvios, alopecias cicatriciais) que também podem influenciar na haste, mas
não são o objetivo deste texto. 
Vamos às dicas: MANUSEIE O MÍNIMO POSSÍVEL O SEU
CABELO. Isso mesmo. Quanto menos você manusear física (pentear, escovar,
prender, trançar, secar, chapar, etc…) ou quimicamente (tintura,
descoloração, alisamento, permanente, progressiva) melhor para a saúde dos seus
cabelos. Não existe uma “tintura fortalecedora” ou coisa do tipo. Existe, sim,
a tentativa por parte da indústria cosmética em reduzir os danos causados pela
tintura adicionando à formulação substâncias que possam proteger os fios sem
influenciar na eficácia do procedimento, agora dizer que tingir o seu cabelo o
deixará mais saudável não vale. Pode até ser que o aspecto a olho nu fique
melhor, mais brilhoso, mas isso pode não ser verdade microscopicamente.
DEIXE OS CABELOS
SECAREM NATURALMENTE. Eu já sei o que está pensando. “Se eu não secar, meu
cabelo não se ajeita” e você sai com cara de mal asseada de casa. Mas, infelizmente,
qualquer tipo de calor que é aplicado sobre os fios pode danificar
permanentemente a sua estrutura. Remover a água que fica na parte externa dos
fios úmidos é uma coisa (uma secagem rápida e com vento morno daria conta do
recado). No entanto, quando o cabelo é exposto a altas temperaturas, a água que
faz parte da composição química do cabelo (de dentro do cabelo) pode
volatilizar (sair do fio), deixando-o desidratado (literalmente com menor
quantidade de água). Além disso, uma alteração cuticular pode ser observada em
uma condição denominada “
bubble hair”. Esta
condição cria “bolhas” no fio, deixando a região mais frágil e certamente será um ponto de
quebra. Sempre comento com as minhas alunas e também com os nossos voluntários
nos atendimentos de tricologia cosmética e estética capilar aqui na
universidade que quebra e queda são coisas diferentes. O calor excessivo pode
levar à pessoa a pensar que aqueles cabelos que encontra no travesseiro ou
mesmo na escova sejam todos fios que se “desprenderam” do couro cabeludo, mas
nem sempre são. Podem ser fragmentos de cabelos que quebraram porque estavam
danificados.
ESCOLHA UM PENTE
DE DENTES LARGOS. 
Pentear ou
escovar o cabelo é algo inerente ao asseio necessário do dia a dia. Segundo Zoe
Diana Draelos, uma dermatologista americana com mais de 30 anos de profissão
que dedica parte do seu tempo à produção de excelentes livros sobre cosméticos
e afins, pentes de dentes largos com pontas arredondadas revestidas de teflon seriam
uma excelente alternativa para minimizar o atrito entre o cabelo e os dentes do
pente, o que diminuiria a efeito “frizz” (ou a estática dos fios) e a quebra do
cabelo.

Escova de plástico, vazada, com cerdas flexíveis, espaçadas e pontas arredondadas.

ESCOLHA UMA
ESCOVA VAZADA COM CERDAS COM PONTAS ARREDONDAS. 
Estas escovas
possuem aberturas para evitar que o calor se acumule entre o cabelo e a “cabeça” da escova. Elas têm formato retangular e servem bem quando a ideia é escovar os
cabelos e secá-los com a finalidade de remover a umidade. As cerdas de plástico
com uma “bolinha” na ponta e mais espaçadas minimizam o atrito com os fios e
com o couro cabeludo.
Argumentos
postos à mesa, vamos resumir a conversa de hoje respondendo à pergunta que não quer calar:
O que fazer para minimizar danos se é inevitável que eu seque os meus
cabelos?
 1.Exponha a sua cabeleira a uma temperatura mais amena (secador no
“morno”) ou gradativa (comece no morno e passe para o quente depois de um
tempo). 2. Mantenha uma certa distância dos fios (10 – 12 cm, permitindo que o ar arrefeça
antes de tocar a haste do cabelo. Nada de encostar o bocal do secador nos
cabelos!). 3.Opte por chapinhas (piastras) ou baby-liss que funcionem a
temperaturas mais baixas (nem invente de comprar aquelas com temperaturas altíssimas,
beirando os 200 graus Celsius) e não mantenha-os ligados à tomada enquanto
realiza o procedimento (caso contrário a formação de “
bubble hair” pode ser instantânea). 4. Opte por pentes de dentes largos e escovas vazadas, com cerdas mais espaçadas, macias e pontas arredondadas. 5. MUITA calma e paciência na hora de
desmanchar aquela maçaroca que se formou porque os cabelos estão danificados ou
porque você passou o dia na praia curtindo aquele vento que deixa os cabelos em
versão “ninho de passarinho” (nestas circunstâncias um bom condicionador ou
creme para pentear facilitarão muito a sua vida e evitarão a quebra por tração
excessiva). Sobre isso (a importância de tomar muito cuidado ao escovar os
cabelos molhados), volto em uma próxima oportunidade para conversarmos.
Robbins, C.R. Chemical and physical behavior of human hair. 4 ed. New York: Springer-Verlag. 2002.
Draelos, Z.D. Hair care – an illustrated dermatologic handbook. Florida: Taylor & Francis, 2005.
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