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QUEDA DE CABELO E CALVÍCIE – QUANDO DESISTIR DO TRATAMENTO?

Há algo que escutode muitos pacientes que chegam para consultar comigo. Uma informação que vem de uma época em que não haviam tratamentos capilares com eficiência comprovada e que até hoje desmotiva muita gente que se preocupa com a queda de cabelos: doutor vim aqui para ver se dá para fazer alguma coisa pois sei que na verdade não tem jeito/não tem tratamento, só dá para adiar.
Percebo que os pacientes sofrem demasiadamente com essa “condenação”, mas boa parte deles ainda resistem em manter seus poucos cabelos procurando tratamentos médicos ou cosméticos em clínicas especializadas. 
Muitos me perguntam quando devem desistir de tratar seus cabelos ou se devem desistir de trata-los. E é dessa questão que vem a reflexão que faço nesse texto. 
Atualmente, o cenário dos cuidados com os cabelos mudou muito e a ciência que estuda os cabelos, a tricologia, parece andar a passos largos rumo a descobertas que trazem e trarão mais alento aos pacientes que sofrem com o problema. 
Recentemente, uma medicação para o tratamento de doenças reumáticas, o citrato de tofacitinib apresentou bons resultados na recuperação de cabelos em um paciente com alopecia areata universal, doença de base auto imune que raramente tem boa evolução com tratamentos convencionais (o estudo sobre esse medicamento e a melhora da alopecia universal foi publicado no Journal of Investigative Dermatology). O medicamento em questão foi utilizado por via oral, mas os pesquisadores pensam em desenvolver uma forma para uso tópico, provavelmente um creme, para que possa ser utilizado nas áreas de ausência de pelos. 
Imagens do paciente de 25 anos tratado com citrato de tofacitinib retirada do artigo do Journal of Investigative Dermatology
Algumas semanas depois da publicação do artigo acima citado, uma outra medicação utilizada para um câncer que acomete o sangue, a mielofibrose, também mostrou resultados na recuperação de pacientes com alopecia areata (artigo original publicado no periódico Nature Medicine). O medicamento conhecido como ruxolitinib,  controla a atividade imunológica que leva à alopecia areata e, por isso, o efeito na recuperação capilar. 
Ou seja, como resultado de efeitos colaterais de medicamentos ou não (devemos lembrar que as duas medicações aprovadas pelo FDA para o tratamento da calvície masculina foram na verdade estudadas para os cuidados com os cabelos porque o seu uso em outras áreas da saúde trazia como efeito colateral o aumento dos cabelos, são elas o minoxidil e a finasterida), a queda capilar ou os problemas dos cabelos vem encontrando suas soluções e o que parecia algo intangível, começa a dar sinais de um futuro mais otimista para os que sofrem com a perda de seus fios. 
Não há como, em virtude de novas descobertas e das perspectivas futuras de possíveis novos tratamentos capilares, não lembrar de uma fala do médico suíço Ralf Trüeb em um congresso de pesquisa em cabelos em Edimburgo no ano passado (2013). Em sua apresentação o doutor Trüeb insistia que nós, médicos, temos que manter a esperança de nossos pacientes com problemas capilares, mesmo nas situações mais difíceis e nas patologias mais complicadas. Ele mesmo já tinha tido o prazer de experimentar recuperações capilares que o surpreenderam ao longo de sua experiência profissional, e chegou a apresentar casos em que a persistência em cuidar de seus pacientes, ainda que em situações que pareciam irreversíveis, apresentaram alguma melhora. 
Eu, de minha parte, posso dizer que tenho experimentado essa satisfação também. Há problemas que ainda que pareçam ser muito difíceis de tratar, evoluem bem. Raramente essas melhoras são de grande significado quantitativo ou qualitativo, mas pensando que na grande maioria das vezes são casos de difícil evolução ou são melhoras que ocorrem em pacientes com doenças severas, dividir essa satisfação com os pacientes é algo muito importante. 
Ainda que para alguns casos não exista mais a possibilidade de recuperação capilar por mecanismos cosméticos ou tratamentos medicamentosos, ainda sobra a opção cirúrgica. Essa também é outra área da tricologia que evoluiu muito. Os resultados estão cada vez mais naturais e os cirurgiões que se atualizam estão cada vez mais capacitados a realizar trabalhos que mais parecem artísticos do que técnicos, visto o elevado grau de perfeição estética que tem conseguido alcançar.
Em virtude dessas evoluções científicas, de orientações como as do colega Ralf Trüeb e de minha experiência pessoal, entendo que desistir de cuidar dos cabelos não é uma opção.


Conheça o meu trabalho, acesse o site Dr Ademir C Leite Júnior clicando no link abaixo:

www.ademirjr.com.br  

Referências:
Xing L. et al. Alopecia areata is driven by cytotoxic T lymphocytes and is reversed by JAK inhibition. Nat Med. 2014. doi: 10.1038/nm.3645
Craiglow BG, King BA. Killing Two Birds with One Stone: Oral Tofacitinib Reverses Alopecia Universalis in a Patient with Plaque Psoriasis. J Invest Dermatol. 2014 Jun 18. doi: 10.1038/jid.2014.260.



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