A relação entre a saúde do couro cabeludo e a qualidade dos cabelos é frequentemente negligenciada tanto na prática clínica quanto nas pesquisas dermatológicas. O estudo revisado destaca a importância da barreira do couro cabeludo como um fator determinante para a integridade capilar e propõe uma visão mais ampla sobre como inflamação, estresse oxidativo e desequilíbrios no microbioma podem comprometer a saúde dos fios.
O couro cabeludo atua como uma barreira protetora, regulando a hidratação, a resposta imunológica e a defesa contra agentes externos. Entretanto, condições inflamatórias como psoríase, dermatite seborreica e dermatite atópica alteram essa barreira, levando a uma cascata de efeitos negativos sobre o crescimento capilar. A inflamação prolongada resulta em uma fase anágena mais curta e um aumento da fase telógena, reduzindo progressivamente a densidade e a espessura dos fios. Além disso, o impacto da microbiota do couro cabeludo é crucial: espécies de Malassezia, quando presentes em excesso, intensificam a produção de espécies reativas de oxigênio (ROS), promovendo estresse oxidativo e agravando processos inflamatórios.
Outro ponto fundamental abordado no artigo é a relação entre estresse oxidativo e a degradação estrutural da fibra capilar. A exposição a fatores ambientais como poluição, radiação ultravioleta e substâncias químicas presentes em produtos capilares pode comprometer não apenas a saúde da pele do couro cabeludo, mas também a integridade do fio. Os danos oxidativos afetam a queratinização e a fixação do cabelo no folículo, resultando em fios mais frágeis e quebradiços. Nesse contexto, antioxidantes como zinco, niacinamida e cafeína mostraram-se eficazes na melhora da função da barreira do couro cabeludo, reduzindo a inflamação e promovendo a regeneração celular.
Além dos impactos ambientais, o estudo aponta que a estrutura lipídica da barreira cutânea também influencia a saúde capilar. Pacientes com dermatite seborreica apresentam uma redução significativa de ceramidas, ácidos graxos e colesterol na epiderme do couro cabeludo, tornando a barreira mais permeável e propensa a agressões externas. Essa disfunção resulta em ressecamento, descamação e aumento da suscetibilidade a infecções e inflamações.
O estudo reforça que a manutenção da barreira do couro cabeludo deve ser uma prioridade no manejo da saúde capilar, seja por meio do uso de produtos que reforcem a barreira lipídica, como aqueles contendo ceramidas e ácidos graxos essenciais, seja por meio de estratégias que minimizem o estresse oxidativo e a inflamação crônica. Essas abordagens não apenas beneficiam pacientes com doenças inflamatórias do couro cabeludo, mas também podem ser aplicadas na prevenção do afinamento capilar relacionado ao envelhecimento e a fatores externos.
Este trabalho evidencia a necessidade de ampliar a visão sobre a tricologia, incorporando conhecimentos sobre a interação entre a pele do couro cabeludo, o metabolismo celular e a resposta inflamatória. Com isso, abre-se um novo horizonte para tratamentos mais eficazes e personalizados, que não apenas busquem estimular o crescimento capilar, mas também protejam e fortaleçam o ambiente em que os fios se desenvolvem.
Referência
Hordinsky M, Andriessen A, Mesinkovska N, Woolery-Lloyd H. Insights on the impact of scalp barrier condition on hair health. J Drugs Dermatol. 2025;24(2 Suppl 1):s3-7. doi:10.36849/JDD.32711.
