Alopecia androgenética é tradicionalmente vista como uma condição geneticamente determinada, mas será que fatores culturais e ambientais podem acelerar sua manifestação? Se há algo que a neurociência cultural e a epigenética nos ensinam, é que a biologia não opera em um vácuo. O ambiente no qual um indivíduo se desenvolve influencia diretamente sua expressão genética, seus padrões neurobiológicos e seu equilíbrio hormonal. Diante desse cenário, surge uma questão intrigante: a exposição precoce de crianças a conteúdos sexualizados – por meio de músicas, danças, programas de TV e redes sociais – pode desempenhar um papel na antecipação da calvície?

A literatura sobre neurociência cultural demonstra que práticas e valores culturais moldam o funcionamento do cérebro e a regulação biológica (Kitayama & Uskul, 2011). A experiência repetida de um determinado ambiente afeta a estrutura neural e a ativação de regiões específicas do cérebro, como demonstrado por pesquisas sobre o impacto das diferenças culturais na cognição e percepção visual (Park & Huang, 2010). Assim, crianças e adolescentes expostos a estímulos constantes de cunho sexual podem estar passando por um processo de “enculturação” neurobiológica, no qual seus sistemas hormonais e de estresse se ajustam a essa realidade antes mesmo de seu organismo estar biologicamente preparado.

Do ponto de vista epigenético, estudos indicam que a exposição a eventos estressantes na infância pode ativar e silenciar genes específicos, afetando permanentemente a fisiologia do indivíduo (Kundakovic & Champagne, 2014). O estresse psicológico gerado pelo contato prematuro com conteúdos sexualizados pode ativar o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA), aumentando os níveis de cortisol. Esse hormônio do estresse está diretamente ligado à regulação da fase de crescimento do cabelo, podendo acelerar a miniaturização dos folículos capilares e, consequentemente, antecipar a calvície androgenética em indivíduos predispostos.

Além disso, a exposição precoce pode impactar o eixo hipotálamo-hipófise-gonadal (HPG), acelerando a puberdade e aumentando os níveis de testosterona e di-hidrotestosterona (DHT), hormônio intimamente ligado à alopecia androgenética. A neurociência cultural sugere que a internalização precoce de determinados valores e padrões pode influenciar tanto a identidade quanto a biologia do indivíduo, criando uma interdependência entre cultura e desenvolvimento neurobiológico (Chiao, 2009).

Outro fator relevante é o impacto dessa exposição na qualidade do sono e na regulação da melatonina, um hormônio antioxidante que protege os folículos capilares. A superexposição a telas e conteúdos estimulantes antes do horário de dormir reduz a produção de melatonina, o que pode contribuir para a aceleração da queda capilar. Estudos sobre epigenética demonstram que a privação do sono afeta a expressão de genes relacionados à resposta ao estresse e à regulação hormonal (Gudsnuk & Champagne, 2011).

A relação entre cultura e biologia se torna ainda mais evidente ao analisarmos o impacto de dietas modernas e hábitos culturais que promovem padrões alimentares ricos em ultraprocessados e açúcares refinados. O consumo elevado de carboidratos e laticínios pode aumentar os níveis de insulina, o que estimula a conversão de testosterona em DHT, exacerbando a queda capilar precoce.

Dessa forma, ainda que a calvície androgenética tenha uma base genética, é plausível argumentar que o meio cultural pode atuar como um catalisador para sua manifestação precoce. A epigenética nos ensina que nossas experiências deixam marcas biológicas duradouras, e a neurociência cultural nos mostra que a cultura não é apenas algo que consumimos, mas algo que literalmente molda nossa mente e corpo. Com isso em mente, cabe refletirmos: até que ponto estamos protegendo as crianças dos impactos que a cultura moderna pode ter sobre seu desenvolvimento biológico? O que hoje vemos como mero entretenimento pode, na realidade, estar escrevendo silenciosamente o futuro da saúde de toda uma geração?

Referências:

Chiao JY. Cultural Neuroscience: Cultural Influences on Brain Function. Amsterdam: Elsevier; 2009.Gudsnuk KMA, Champagne FA. Epigenetic effects of early developmental experiences. Clin Perinatol. 2011 Dec;38(4):703-717. doi:10.1016/j.clp.2011.08.005.Kitayama S, Uskul AK. Culture, mind, and the brain: current evidence and future directions. Annu Rev Psychol. 2011;62:419-449. doi:10.1146/annurev-psych-120709-145357.Kundakovic M, Champagne FA. Early life experience, epigenetics, and the developing brain. Neuropsychopharmacology. 2014; doi:10.1038/npp.2014.140.Park DC, Huang CM. Culture wires the brain: a cognitive neuroscience perspective. Perspect Psychol Sci. 2010 Jul;5(4):391-400. doi:10.1177/1745691610374591.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *