Tenho uma vaga lembrança de alguém me dizendo, ainda quando eu era adolescente, que a calvície estava ligada à potência sexual, uma vez que é causada por hormônios masculinos e, sendo assim, só desenvolvia calvície quem tinha os hormônios masculinos em grande quantidade. Uma falácia que foi por terra há tempos, visto que hoje se sabe que não é a quantidade de hormônios que importa, mas a susceptibilidade genética e um conjunto de fatores ligados aos hormônios masculinos, mas não necessariamente um aumento dos mesmos no sangue/organismo dos pacientes que desenvolvem o problema.
Creio que um pouco da mítica de que os remédios para a calvície causam problemas de ereção vêm deste fato, os pacientes creem que se tomarem medicamentos para a calvície vão ter uma “redução” da Testosterona e, consequentemente, perderão “potência”. Ou seja, correm o risco de ficarem impotentes. Há um fundo de realidade nesta história. Algumas, apenas algumas, medicações para o tratamento da calvície masculina podem causar disfunção erétil em um baixo percentual de pacientes que as toma. Está nas bulas e nos artigos científicos. Mas, como já fiz questão de frizar, não são todas as medicações que provocam o problema (Ufa!!! – dirão muitos dos leitores – Há como tratar e não falhar na hora “H”).
Cabe ao médico discutir sobre oss riscos dessas medicações com seus pacientes antes de prescrevê-las. A questão é que toda conversa sobre o assunto pode ter um efeito psicossomático chamado Efeito Nocebo. O que seria isto? Muitos já estão bem acostumados com a ideia de Efeito Placebo, neste caso, quando uma informação vinda de uma fonte confiável (médico ou mídia) ou um tratamento elaborado a base de nada (ex: comprimidos de farinha), tem efeito positivo no tratamento de um sintoma ou doença. O Efeito Nocebo é o contrário do Efeito Placebo, pacientes suscetíveis às informações negativas desenvolvem efeitos colaterais em maior proporção do que o que consta na literatura médica. Como há muita informação na internet e muitos médicos acabam por comentar sobre o risco de redução de libido e impotência causada por esses medicamentos acima citados, a chance de surgimento do problema torna-se bem maior.
Mas, apesar de estarmos falando da impotência vinculada à área da sexualidade, há uma questão que envolve a impotência num espectro muito mais amplo do que o sexual. Trata-se do indivíduo sentir-se impotente perante à vida. Recebo em minha clínica muitos pacientes que sofrem com a perda capilar a ponto de perderem o tesão pela vida. Como se o cabelo lhes tirasse a força (e também a potência sexual – porque desses também é tirada a auto estima e, consequentemente, a autoconfiança), porque lidam mal com o problema. Muitos ficam com a autoconfiança tão comprometida que broxam. Isto mesmo, sofrem para ter uma ereção. Tudo por perderem algo que lhes conferia atratividade e que reconhecidamente lhes identificava perante os demais, os cabelos. Ficar careca não é fácil. Pergunte para quem sofre do problema. E que me desculpem as mulheres que vivem dizendo que homem calvo é normal, até ficam charmosos. Isso pode até ser uma verdade em alguns casos. E muitos deles têm o despreendimento não ligar para o problema ou de raspar seus cabelos a ponto de se assumirem com muita segurança calvos. mas para uma grande, e crescente, maioria, ficar calvo é uma penúria imensamente dolorida. Situação que tem que ser vista sempre com muito cuidado pelos profissionais que atendem estes pacientes, uma vez que em muitos calvos pode haver sempre um sofrimento que vai muito além da perda capilar, e se mostra como uma ansiedade ou uma depressão bem difícil de lidar.