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A INDIVIDUALIDADE E A QUEDA CAPILAR

Na medida que o tempo passa e que eu acumulo experiência de trabalho, percebo que venho ficando mais tolerante com algumas questões. Acredito que a minha tolerância fica cada vez maior para a diversidade de pacientes, de queixas, de receios e preocupações quanto a perder os cabelos. Cada paciente sendo apenas ele mesmo, trazendo para a consulta o conflito que está vivendo e para o qual me escolhe para ser seu parceiro na solução. 
Na medida da angústia de cada um, dramatizam mais ou menos o problema. Sofrem à sua maneira, ora assumindo o quanto o mundo deixaria/deixou de ser perfeito por conta da perda capilar, ora terceirizando a preocupação com frases do tipo: minha mulher me pediu para vir aqui porque ela acha que estou perdendo cabelos. Nada demais que a procura pelo tratamento seja determinada por uma necessidade pessoal ou pela observação de quem convive com o paciente. A questão é que a queda de cabelo, de fato, causa um incômodo muito grande, e a maioria das pessoas não quer viver com este desconforto. 
Há aqueles que tem uma queda capilar extremamente discreta, mas acham que perderam/perdem uma infinidade de cabelos. Por outro lado, há os que já perderam muito cabelo, mas quase não veem rarefação. Interessante perceber que, nesses casos, a relação do paciente com seus cabelos estebelece um critério de gravidade para o problema que é extremamente individual. 
Muitos tem medo. Um medo intenso de perder cabelos e sofrem de uma forma tão significativa que, chega a distoar da gravidade do quadro em si. Mesmo perdendo pouco cabelo pensam que o pouco é muito e viram reféns do medo de ficar careca. Interessante perceber que boa parte desses pacientes sequer tem perfil para evoluir para calvície. Bastaria que relaxassem um pouco a tensão em suas vidas, em especial a tensão com seus cabelos, que tudo voltaria à normalidade. Há casos em que a própria tensão do paciente gera a queda de cabelo, e os estudos mostram que esse estresse é sim uma causa de perda capilar. 
Recentemente atendi uma paciente com um diagnóstico de queda androgenética há 20 anos atrás. Pelo que refleti enquanto a ouvia contar sua história, este diagnóstico, se fosse correto, já deveria ter comprometido demais o cabelo dela. Ao examina-la, discordei do mesmo. Essa paciente viveu por 20 anos a tensão e o medo de evoluir para uma calvície sem realmente correr o risco de desenvolver este processo. Sofreu de forma intensa ao longo de duas décadas. Mesmo porque, desde o primeiro diagnóstico, sempre foi tratada com medicamentos para alopecia androgenética, até mesmo por outros médicos. Como eu discordei do diagnóstico, através da realização de uma biópsia de couro cabeludo confirmamos que se tratava de um eflúvio crônico. Após isso a tensão dela quanto a ficar careca cedeu e hoje ela não sofre mais com o problema de perda capilar.
As novas tendências de medicina saudável, às vezes controversas pra mim, também tem permitido um novo momento para quem atua na área da saúde. Reposições de hormônios desnecessárias, uso de produtos para ganho de força muscular, dietas da moda nada equilibradas, veganismo (leia texto da Professora Tatiele Katzer sobre o tema), e toda a gama de escolhas que cada um de nós faz na vida na tentativa de “estar mais saudável” têm implicâncias na saúde. Algumas podem ser benéficas para uns e péssimas para outros. Umas são sempre boas. Outras sempre prejudiciais.
A forma como pensamos o mundo e interagimos com ele, o subjetivismo de cada pessoa, também muda a forma como um paciente evolui com seu problema de saúde. Pessimistas ou otimistas, para ser bem reducionista no exemplo, costumam ser diferentes na foprma como estabelecem vínculo com o tratamento e, consequentemente, podem evoluir de forma diferente na medida que o tratamento segue.
Poderia continuar discorrendo aqui sobre mais um ampla gama de questões que fazem cada paciente ser único. Mas não quero me alongar muito aqui. Que fique claro que cada paciente atendido é uma incógnita, um desafio, algo que me motiva a seguir adiante e acordar feliz para poder estabelecer novas parcerias médico-paciente, se possível de sucesso (apesar de que o sucesso não depente apenas de mim, um paciente descompromissado põe tudo a perder). Fico feliz quando essa parceria se estabelece com cumplicidade e dedicação, em especial por parte de quem me procura, uma vez que não abdico de entregar isso aos meus pacientes na medida que me procuram.

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