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A MONTANHA RUSSA QUE É A QUEDA CAPILAR EM ALGUNS PACIENTES

Tenho vivido um momento importante de minha carreira, reavaliando muitos conceitos e tentando reinventar uma forma de atuar dentro da complexidade de um cenário crescente de quedas capilares que parecem não seguir um padrão muito determinado. Quando falo isso, penso naqueles pacientes que eu passei a chamar “pacientes montanha russa”, cujas quedas capilares oscilam períodos curtos de acalmia com períodos de perda capilar intensa. Via de regra são pacientes que têm crises de perda capilar emocionantes. Emocionantes em todos os sentidos, como as grandes emoções de quem sobe em um carrinho para andar numa Montanha Russa. Ansiedade, tensão, medo, tranquilidade, seguido de mais ansiedade, tensão e medo em uma sequência quase frenética.
Alguns pontos me incomodam nesses pacientes e creio que aqueles que entenderem rapidamente que podem ajudar mais do que atrapalhar vão encontrar a paz com seus cabelos. Esses pontos são:
1- A terceirização da solução dos problemas
2- A falta de de paciência para entender que o problema vai melhorar, mas que os cabelos tem um padrão só dele de se comportar
3- A falta de persistência em seguir um tratamento pelo tempo mínimo em que ele pode apresentar resultado
4- A falta de entendimento de que a vida é dinâmica e cheia de elementos que podem interferir em nosso corpo e emoções, provocando reações variadas, entre elas a queda capilar. 
Vamos falar de cada um desses pontos pensando nos pacientes montanha russa. 
Normalmente são pacientes que acreditam que os profissionais existem para resolverem suas quedas, mas sem pensar que parte da recuperação está vinculada a uma autorreflexão que devem fazer sobre a forma como têm vivido. Muitos estão com a vida tão complexa, tão cheia de atividades, com hábitos e comportamentos cheios de vícios (alimentação ruim, sono de baixa qualidade, sedentarismo, sobrecarga de trabalho), ou seja, tão inconscientes de si mesmos que acabam entendendo que podem comprar uma solução para suas quedas sem ter de se envolver com ele ou sem precisar mudar nada em suas vidas. 
O ítem 2 é algo que faz parte do mundo atual. A falta de paciência está encarnada em todos nós. Em qualquer esfera de nossas vidas. Não queremos esperar por nada. E quando somos obrigados a isso, uma crescente insatisfação toma conta de nós. Queremos poder controlar tudo e resolver o que nos incomoda de forma expressa. Ter de lidar com a queda de cabelo é chato, desagradável e, se a perda de cabelos puder deixar de existir logo, excelente. A questão é que o cabelo tem o tempo dele, e tal qual os relógios de Salvador Dalí, distorcido. Distorcido em relação à nossa vontade. Ou entendemos isso logo ou sofreremos de forma constante pela perda capilar. 
Já o ítem 3 fala sobre outro modelo de comportamento atual. O abandono de tratamentos quando o paciente acha que não está funcionando. Pela terceira vez nesse texto vou dizer: os cabelos têm o tempo deles para responder ao tratamento. Logo, qualquer crença de que o tratamento vai responder no tempo que gostaríamos e não no tempo que ele fisiologicamente irá responder é ter uma expectativa distorcida da realidade. Manter o tratamento até que o resultado apareça pode ser chato, em especial se alguns meses precisarem ser investidos, mas é essencial. 
Por fim, o ítem 4 fala sobre a dinâmica da vida. A vida é cheia de surpresas e de elementos que surgem em sequência ou se encavalam modulando nossa resposta física e psíquica. Desmerecer os eventos da vida é o mesmo que imaginar que se vive em uma bolha. Desvalorizar noites de sono comprometido, semanas de alimentação de baixa qualidade, problemas pessoais e afetivos, pequenos eventos em saúde (vacinas, medicamentos, infecções, pequenas cirurgias), é outra distorção da realidade que acabamos realizando para seguir em frente e encarar um dia após o outro. Quando um paciente passa a entender que todo infortúnio é algo “normal”, ele já perdeu a consciência da sua responsabilidade sobre sua integridade física e psíquica. 
Pacientes montanha russa são pacientes onde vemos todos esses ítens acontecendo concomitantemente. Fica aqui a minha consideração de que eles precisam olhar para si mesmos. Entender que precisam tomar as rédeas de suas vidas e passarem a cuidar, de forma mais intensa, daquilo que pode mantê-los saudáveis em todas as esferas. A redução e a maior estabilidade da queda capilar vai ser consequência desse entendimento. 
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