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A Nova Perspectiva Sobre a Alopecia Androgenética: Além dos Andrógenos

A alopecia androgenética (AGA) tem sido tradicionalmente explicada pelo efeito dos andrógenos sobre os folículos capilares em áreas geneticamente predispostas do couro cabeludo. No entanto, um artigo recente de Ovcharenko e Salyenkova (2021) desafia essa visão simplificada ao apresentar uma abordagem mais ampla sobre os mecanismos envolvidos na progressão dessa condição. Embora a influência dos andrógenos continue sendo a explicação mais aceita, novas evidências apontam para um conjunto mais complexo de fatores, incluindo o papel do estresse oxidativo, microinflamação perifolicular e apoptose, todos contribuindo para a miniaturização progressiva dos folículos. Isso sugere que o manejo terapêutico pode precisar ir além dos bloqueadores hormonais tradicionais e considerar estratégias que visem a inflamação e a saúde do ambiente folicular.

O estudo destaca que, enquanto a ação da di-hidrotestosterona (DHT) sobre os folículos é um fator bem estabelecido, outras vias de deterioração capilar começam a ser compreendidas, especialmente em relação às mulheres. A pesquisa mostra que um número significativo de pacientes do sexo feminino com AGA não apresenta níveis elevados de andrógenos, sugerindo a existência de mecanismos independentes dessa via hormonal. Em especial, a hipótese do ciclo patológico “estresse oxidativo – microinflamação – fibrose” tem ganhado atenção por seu papel na degradação progressiva do folículo capilar. O acúmulo de espécies reativas de oxigênio leva a danos celulares, ativando respostas inflamatórias que, por sua vez, favorecem o enrijecimento do tecido circundante ao folículo. Esse ambiente fibrosado reduz a nutrição do bulbo capilar, resultando na aceleração da fase catágena e no encurtamento do ciclo capilar. Esse achado é particularmente relevante, pois amplia o escopo das estratégias terapêuticas para incluir antioxidantes, anti-inflamatórios tópicos e agentes que reduzam a fibrose perifolicular.

Outro ponto relevante abordado pelos autores é a importância da apoptose no processo de miniaturização dos folículos capilares. Estudos anteriores já sugeriam que a transição precoce para a fase catágena em indivíduos com AGA estava ligada à ativação de vias apoptóticas específicas, mas esse artigo reforça a conexão direta entre o grau de inflamação perifolicular e a extensão da apoptose nos queratinócitos do folículo. Essa relação sugere que terapias que modulam a resposta inflamatória poderiam não apenas retardar a progressão da alopecia, mas também promover um ambiente mais saudável para o crescimento capilar.

A questão genética também é fundamental para entender a heterogeneidade da AGA. A pesquisa reforça que os mecanismos epigenéticos podem modular a expressão dos receptores androgênicos e das enzimas envolvidas na conversão da testosterona em DHT. Além disso, os autores apontam para a influência do Wnt/β-catenina, uma via de sinalização crucial para a manutenção do crescimento capilar. A supressão dessa via por ação dos andrógenos pode ser um dos mecanismos mais significativos na indução da miniaturização dos folículos, e entender como reativá-la pode abrir novas possibilidades terapêuticas.

Com base nessas descobertas, o estudo sugere que os tratamentos para AGA podem evoluir para além dos inibidores da 5α-redutase, que atualmente são a principal abordagem farmacológica para a condição. Embora esses bloqueadores hormonais, como a finasterida e a dutasterida, tenham se mostrado eficazes, eles apresentam limitações significativas, especialmente para mulheres. O estudo levanta a possibilidade de combinar abordagens hormonais com terapias anti-inflamatórias e antioxidantes para alcançar melhores resultados clínicos e uma preservação mais prolongada do ciclo capilar.

Em conclusão, o artigo de Ovcharenko e Salyenkova (2021) contribui significativamente para a ampliação do entendimento da AGA, indo além da visão simplista de que apenas os andrógenos são responsáveis por essa condição. Ao destacar o papel da inflamação, do estresse oxidativo e da apoptose na progressão da alopecia, os autores sugerem que novas abordagens terapêuticas podem melhorar o manejo da doença. Para profissionais da saúde e pesquisadores, essa perspectiva renovada oferece um caminho promissor para estratégias mais eficazes de preservação capilar, indo além das terapias hormonais e incorporando novas frentes de tratamento.

Referência:

  1. Ovcharenko YS, Salyenkova OA. Modern concept of the etiology and pathogenesis of androgenetic alopecia. Journal of V. N. Karazin` KhNU. 2021;(42):92-100. doi:10.26565/2313-6693-2021-42-11.

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