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A OBSERVAÇÃO CLÍNICA NA TRICOLOGIA

Ontem ouvi um médico, emitindo sua opinião sobre um grave assunto médico falando diversas vezes sobre a CIÊNCIA DA OBSERVAÇÃO. Isso me faz lembrar meu pai, que, como médico clínico, mais clássico, se baseava muito na observação de cada um de seus casos para analisá-los e tratá-los de forma ampla, completa, personalizada. 

Um profissional que alinhava as pontas soltas de sintomas de diversos sistemas corporais para que um diagnóstico muito bem feito, elaborado e consistente fosse alcançado. E, diante disso, poder estruturar uma estratégia de tratamento que fosse eficiente e um discurso sincero o suficiente para alinhar as expectativas do paciente com as possibilidades do tratamento.

Para isso era preciso muito estudo, muita dedicação, e o entendimento de que a prática clínica, o ato de atender o paciente é, não apenas uma questão de ajudar a ele em si, como também de evoluir, escalar em conhecimento para que isso possa beneficiar cada um dos pacientes que vier após o último paciente atendido. 

Eventualmente a observação e constatação de fatos, o ato de refletir sobre cada um dos casos atendidos, nos mostra caminhos diferentes daqueles que são apontados nos periódicos médicos. Mas haveria algo de errado nisso? Desde quando a ciência publicada define que tudo tem que seguir num trilho imutável baseado em evidências?

Nada contra a medicina baseada em evidências, mas como diz meu amigo, Howard Ribeiro, da Universidade Federal do Ceará, a ciência evolui a partir de cada paciente que atendemos, a partir da individualidade de cada paciente que nos trás um problema a ser compreendido. E, até onde eu me lembro, se nada mudou, um dos pilares da medicina baseada em evidências é a experiência clínica do profissional, que, através da ciência da observação, levanta hipóteses que se tornam estudos e que ampliam nossos conhecimentos. 

Quase que como se estivesse em meu DNA, percebi que atendo meus pacientes de uma forma que se assemelha à maneira como ele atendia seus pacientes. Mas isso acontece com frequência, vez por outra me vejo fazendo coisas exatamente como ele fazia. Inegável a forma como nossos exemplos nos moldam.

Às vezes me sinto como um lobo solitário, buscando formas diferentes daquelas que a maioria de meus colegas utilizam. Não porque discorde da forma como eles fazem, mas porque elas não se alinham com os valores e propósitos que eu tenho. Me negar a usar uma classe de medicamentos que é a mais utilizada para o tratamento da calvície é uma dessas escolhas que fiz ao longo de minha carreira. 

Assim como estudar o REAL papel do estresse na saúde física – lembrando que todas as situações que vivemos e que nos fazem perceber o mundo em que estamos inseridos só nos são passíveis de percepção porque, no nosso corpo, se manifestam como moléculas.

Ou mesmo entender que as doenças capilares, em sua maioria, são sistêmicas, e não apenas do couro cabeludo ou dos folículos pilosos. E que, por isso precisam de uma compreensão sobre medicina, sobre saúde física e emocional, muito mais ampla do que a que vejo sendo praticada. Esse modelo que picota o corpo em partes, segmentando todo ele para que possa ser estudado com uma lupa, é comprovadamente benéfico, mas, me perdoe se eu estiver errado, o que estamos vendo hoje não é exatamente algo que vai além disso? Eu posso olhar para os cabelos sim, mas preciso entender que os cabelos fazem parte de um corpo que vive algo ÚNICO. Afinal, todos nós temos vidas únicas. E cada um de nós carrega consigo história de vida, hábitos e ambientes que frequentamos diferentes uns dos outros. E se isso passa a não vale nada, é descartado, perdemos muito. Como médicos e como pacientes. 

Agradeço a meu pai pelo legado que me deixou. Sou mais feliz e tranquilo fazendo a medicina que ele, consciente ou inconscientemente me ensinou a fazer. Devo isso a ele.

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