A relação entre a alopecia androgenética (AAG) e a síndrome metabólica tem sido amplamente investigada, trazendo à tona evidências que sugerem uma correlação significativa entre ambas as condições. A AAG, caracterizada pelo afinamento e perda de cabelo em áreas específicas do couro cabeludo, afeta cerca de 50% dos homens e mulheres ao longo da vida. Mais do que uma questão estética, estudos indicam que essa condição pode ser um marcador de risco para complicações metabólicas. A síndrome metabólica, por sua vez, é um conjunto de condições interligadas que incluem resistência à insulina, obesidade, hipertensão e dislipidemia, fatores que elevam substancialmente o risco de doenças cardiovasculares, acidente vascular cerebral e diabetes tipo 2.
Uma metanálise recente analisou nove estudos, envolvendo 1.452 participantes, e demonstrou que indivíduos com AAG possuem um risco 2,81 vezes maior de desenvolver síndrome metabólica quando comparados a grupos controle. Essa relação pode ser explicada por mecanismos hormonais e metabólicos compartilhados. O hormônio di-hidrotestosterona (DHT), central na patogênese da AAG, também desempenha um papel na resistência à insulina e na inflamação vascular, contribuindo para o desenvolvimento de distúrbios metabólicos. Além disso, fatores como o aumento da produção de insulina, que reduz os níveis de globulina ligadora de hormônios sexuais, resultam em maior disponibilidade de testosterona livre, exacerbando o quadro da alopecia e promovendo disfunções metabólicas.
Embora a evidência científica reforce a conexão entre AAG e síndrome metabólica, alguns estudos mostram variações nos resultados devido a fatores como diferenças populacionais, tamanhos amostrais e métodos de avaliação. No entanto, a maioria das pesquisas aponta que homens jovens com AAG precoce apresentam maior propensão a desenvolver resistência à insulina e disfunções cardiovasculares. Portanto, a identificação da alopecia androgenética deve ir além da questão estética e ser considerada um possível marcador precoce de risco metabólico. Dermatologistas e médicos devem avaliar pacientes com AAG de forma abrangente, considerando exames laboratoriais para glicemia, perfil lipídico e função hepática, visando a detecção precoce de possíveis complicações sistêmicas.
O reconhecimento da alopecia como um sinal clínico relevante na prática médica pode ajudar a reduzir riscos a longo prazo por meio de intervenções precoces, como mudanças no estilo de vida e controle metabólico rigoroso. Mais estudos são necessários para aprofundar essa conexão, mas já se faz evidente que cabelo e metabolismo compartilham mais do que se imaginava.
Referência:
Sadeghzadeh-Bazargan A, Roohaninasab M, Seirafianpour F, Shemshadi M, Mohammadi A, Mozafarpoor S, et al. Uma revisão sistemática e metanálise sobre a associação entre alopecia androgenética e o risco de síndrome metabólica. Surg Cosmet Dermatol. 2022;14:e20220098.