A alopecia androgenética (AGA) tem sido tradicionalmente tratada como uma condição dermatológica causada pelo impacto dos andrógenos nos folículos capilares. No entanto, novas evidências apontam para um modelo muito mais complexo, no qual a AGA deve ser considerada uma manifestação de uma desordem sistêmica multifatorial, indo além da ação isolada da di-hidrotestosterona (DHT).
Segundo Leite Júnior (2024), há uma crescente compreensão de que a alopecia androgenética está fortemente associada a processos inflamatórios crônicos, desregulação metabólica e estresse oxidativo. A progressão da AGA ocorre concomitantemente a fatores sistêmicos como resistência insulínica, aumento da inflamação periférica, alterações na microbiota intestinal e exposição contínua a disruptores endócrinos. Esses elementos não apenas agravam a alopecia, mas também fazem parte de um quadro mais amplo de desordens metabólicas e inflamatórias que impactam a saúde global do indivíduo.
Outro fator relevante é a crescente ineficácia das terapias exclusivamente baseadas no bloqueio androgênico. Embora finasterida, dutasterida e outros antiandrógenos tenham demonstrado eficácia em muitos casos, há um número significativo de pacientes que não respondem a essas abordagens, o que sugere que a AGA não pode ser explicada unicamente pela ação dos andrógenos. Leite Júnior (2024) argumenta que a ênfase excessiva na via androgênica pode ter limitado o avanço de novas terapias, retardando o desenvolvimento de abordagens mais abrangentes que considerem os processos inflamatórios e metabólicos subjacentes.
A redução da globulina ligadora de hormônios sexuais (SHBG), frequentemente observada em indivíduos com resistência insulínica e inflamação crônica, pode levar a uma maior biodisponibilidade de testosterona livre e sua conversão em DHT. No entanto, essa alteração não ocorre isoladamente; ela está inserida em um contexto de desregulação metabólica mais ampla, sugerindo que o ambiente biológico do paciente pode ser mais determinante do que os níveis absolutos de andrógenos.
Diante dessa nova perspectiva, torna-se essencial redefinir a AGA como uma doença sistêmica, onde fatores metabólicos, inflamatórios e ambientais desempenham um papel central. O futuro do tratamento da alopecia androgenética não deve se limitar ao bloqueio hormonal, mas sim integrar estratégias que abordem os múltiplos gatilhos subjacentes da doença, promovendo uma abordagem mais ampla e eficaz para a saúde capilar e sistêmica como um todo.