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Alopecia Fibrosante Frontal e o Uso de Protetor Solar: Causa ou Consequência?

A alopecia frontal fibrosante (AFF) é uma forma progressiva e cicatricial de perda de cabelo que tem aumentado significativamente em incidência nas últimas décadas. Embora sua etiologia permaneça incerta, uma das hipóteses amplamente debatidas na literatura dermatológica é a possível relação entre o uso de protetores solares e o desenvolvimento da doença. O estudo conduzido por Porriño-Bustamante et al. (2022) se propôs a investigar essa associação, avaliando se o uso de filtros solares poderia ser um fator desencadeante da AFF ou simplesmente uma consequência da condição. Para isso, os pesquisadores realizaram um estudo transversal com 101 pacientes diagnosticadas com AFF e 40 mulheres sem a doença, buscando estabelecer uma relação entre o uso de protetores solares e o dano actínico — uma condição de fotoenvelhecimento da pele causada pela exposição crônica à radiação ultravioleta.

Os resultados indicaram que as pacientes com AFF relataram uma maior frequência de uso de protetor solar (83,2%) em comparação ao grupo controle (62,5%), reforçando a tendência observada em estudos anteriores. No entanto, a presença de danos actínicos também foi significativamente maior no grupo com AFF (69,3% contra 50% no grupo controle), sugerindo que o uso aumentado de protetores solares pode estar mais relacionado à tentativa de minimizar os danos causados pelo sol do que a um fator causal da alopecia. Essa descoberta desafia a noção de que os filtros solares desempenham um papel direto no desencadeamento da AFF e propõe que o maior uso desses produtos seja, na realidade, uma resposta ao fotoenvelhecimento.

A análise aprofundada dos exames tricoscópicos e biópsias de couro cabeludo revelou que não houve diferenças estatísticas significativas entre pacientes que utilizavam protetor solar e aquelas que não utilizavam, quando analisados sinais inflamatórios, alopecia periférica e envolvimento das glândulas sebáceas. Isso sugere que a presença da doença não se correlaciona diretamente com o uso desses produtos. Além disso, a ausência de relação entre o uso de protetor solar e a gravidade da AFF reforça a ideia de que o aumento na aplicação desses produtos pode ser um comportamento adotado em resposta ao dano solar, e não um fator desencadeante da condição.

Outra observação relevante do estudo foi a associação entre a AFF e características de fotoenvelhecimento da pele, como a maior incidência de lentigos solares e ceratoses actínicas nas pacientes com a doença. Esse achado levanta a hipótese de que o dano solar acumulado pode estar envolvido na patogênese da alopecia, contribuindo para um ambiente inflamatório crônico que afeta os folículos capilares. No entanto, mais pesquisas são necessárias para esclarecer se o dano actínico é um fator predisponente da AFF ou apenas um achado secundário devido a diferenças na sensibilidade cutânea dessas pacientes.

Os autores concluem que, apesar da correlação observada entre AFF e o uso de protetor solar, não há evidências científicas robustas que justifiquem a recomendação de evitar o uso desses produtos. Pelo contrário, a fotoproteção continua sendo uma ferramenta essencial para prevenir o câncer de pele e o envelhecimento cutâneo precoce. O estudo sugere que pesquisas futuras devem focar em identificar fatores genéticos e ambientais mais relevantes para a compreensão da etiologia da AFF, afastando-se de associações superficiais que podem gerar interpretações equivocadas.

Este estudo representa um avanço significativo na compreensão dos possíveis gatilhos da alopecia frontal fibrosante, fornecendo uma visão mais crítica sobre a relação entre protetores solares e a doença. Embora a hipótese de que esses produtos sejam causadores da AFF tenha sido amplamente discutida, a pesquisa sugere que essa correlação pode ser apenas um reflexo da maior preocupação das pacientes com a saúde da pele, e não uma causa direta da alopecia. Dessa forma, dermatologistas e tricologistas devem considerar o contexto mais amplo do fotoenvelhecimento ao avaliar pacientes com AFF, garantindo que recomendações baseadas em evidências científicas sejam priorizadas.

Referência:

Porriño-Bustamante ML, Montero-Vílchez T, Pinedo-Moraleda FJ, Fernández-Flores Á, Fernández-Pugnaire MA, Arias-Santiago S. Frontal fibrosing alopecia and sunscreen use: A cross-sectional study of actinic damage. Acta Derm Venereol. 2022;102:adv00757. doi:10.2340/actadv.v102.306.

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