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Alopecia Frontal Fibrosante: Genética, Hormônios e Contraceptivos como critérios de risco

A alopecia frontal fibrosante (AFF) é um tema que tem ganhado destaque nos últimos anos devido à sua prevalência crescente e complexidade etiológica. Um estudo publicado na JAMA Dermatology revelou uma interação interessante entre fatores genéticos e o uso de contraceptivos orais (CO). A pesquisa mostrou que mulheres com uma variante genética no gene CYP1B1, combinada ao uso de contraceptivos, apresentaram um risco quase duas vezes maior de desenvolver AFF. Este achado reforça a ideia de que a AFF é uma doença multifatorial, influenciada tanto por predisposições genéticas quanto por fatores ambientais e metabólicos.

Os dados deste estudo são complementados por investigações realizadas no Reino Unido e no Brasil, que destacam a relação entre o metabolismo hormonal e a AFF. Estudos britânicos analisaram 711 mulheres, revelando que 71,2% usaram CO por mais de seis meses, enquanto fatores como deficiência de estrogênio e doenças autoimunes, como a tireoidite, foram frequentemente associados à condição. No Brasil, um estudo com 59 pacientes também apontou a influência hormonal, com 83,1% das mulheres em pós-menopausa e 28,6% em terapia de reposição hormonal. O uso de cosméticos foi mencionado como um possível desencadeador em alguns casos, mas o papel dos contraceptivos orais destaca uma relação mais direta com os níveis hormonais.

Esses achados nos levam a importantes reflexões sobre o manejo da AFF. Como tricologista, vejo que o papel dos hormônios é central para a compreensão da doença. Os contraceptivos orais, ao modularem os níveis hormonais, podem atuar como gatilhos em mulheres predispostas, especialmente aquelas com variantes genéticas específicas, como o CYP1B1. Ao mesmo tempo, a identificação de fatores metabólicos e ambientais, como o uso de cosméticos e a exposição solar, amplia nosso entendimento da AFF como uma condição complexa e multifacetada.

A abordagem terapêutica deve ser personalizada, considerando o histórico genético e hormonal de cada paciente. Tratamentos como inibidores da 5-alfa-redutase, hidroxicloroquina e esteroides tópicos têm mostrado algum sucesso, mas a prevenção, incluindo a avaliação cuidadosa do uso de contraceptivos e reposição hormonal, deve ser integrada ao manejo clínico. A ciência está avançando, mas ainda há muito a explorar sobre as interações entre genética, hormônios e ambiente na AFF.

Referências

  1. Rayinda T, McSweeney SM, Christou E, et al. Gene-Environment Interaction Between CYP1B1 and Oral Contraception on Frontal Fibrosing Alopecia. JAMA Dermatol. 2024;160(7):732–735. doi:10.1001/jamadermatol.2024.1315
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  3. Rocha VB, Contin LA, Kakizaki P, Machado CJ, Pires MC, Vasconcellos C. Clinical characteristics of frontal fibrosing alopecia in Brazil: A series of 59 patients. Rev Soc Bras Dermatol. 2019;94(4):416–21. doi:10.1590/abd1806-4841.20197797.
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