Nos últimos anos, os caminhos da terapêutica capilar têm buscado ultrapassar os limites da cosmética e da farmacologia convencional, abrindo espaço para estratégias de altíssima precisão molecular. Uma das mais promissoras — e ainda pouco exploradas — é o uso de anticorpos monoclonais (mAbs) no tratamento da alopecia androgenética (AGA).

O artigo Recent approaches of antibody therapeutics in androgenetic alopecia (Front. Pharmacol., 2024) propõe um novo olhar para a AGA: não mais como uma simples resposta dos fios aos andrógenos, mas como um processo bioimunológico sofisticado que pode ser interceptado por moléculas inteligentes.
Enquanto minoxidil e finasterida seguem como pilares do tratamento, seus limites — eficácia variável, efeitos adversos, necessidade de uso contínuo — apontam para uma necessidade latente: terapias de ação prolongada, mais específicas e com menor risco sistêmico. É nesse contexto que os anticorpos terapêuticos entram em cena.
Quatro alvos, quatro estratégias
O estudo explora quatro moléculas com papéis-chave no microambiente folicular:
- PRLR (receptor de prolactina): o anticorpo HMI-115, atualmente em fase 2 de testes clínicos, demonstrou aumento de até 14 fios/cm² em homens com AGA. A prolactina, longe de ser exclusiva do eixo reprodutivo, atua na regressão folicular em períodos de estresse — uma ponte entre o emocional e o biológico.
- IL-6R (receptor de interleucina-6): além de mediar inflamações crônicas, a IL-6 é induzida por DHT e inibe o crescimento capilar. O uso do anticorpo tocilizumabe em casos isolados de AGA mostrou repilação progressiva, abrindo margem para sua investigação além da alopecia areata.
- CXCL12: uma quimiocina altamente expressa nos fibroblastos dérmicos de pacientes com AGA. Está envolvida na inflamação perifolicular, na fibrose e na ativação do receptor de andrógeno. Seu bloqueio reduziu a inflamação, aumentou a densidade capilar e inibiu o ciclo de miniaturização em modelos murinos.
- DKK1 (Dickkopf-1): um inibidor da via Wnt/β-catenina — fundamental para manter os folículos em fase anágena. Neutralizar DKK1 protege as células da bainha externa da apoptose induzida por DHT, o que sugere potencial terapêutico não apenas em AGA, mas também em alopecia areata.
Mais do que cabelo: complexidade biológica e elegância terapêutica
A proposta de interferir com anticorpos nas vias imunes, inflamatórias e hormonais da AGA abre um novo campo de atuação para o profissional que entende que o couro cabeludo é mais do que um suporte para fios: é um campo dinâmico de comunicação celular, regulado por fatores locais e sistêmicos.
Apesar dos desafios — custos, formulações adequadas, necessidade de mais ensaios clínicos — os mAbs oferecem uma possibilidade real de tratamento menos invasivo, com menor frequência de aplicação e maior especificidade. Eles não substituem os tratamentos clássicos, mas podem complementar ou, no futuro, representar uma virada na condução de casos refratários.
Enquanto a maioria busca novidades no próximo frasco milagroso, a ciência silenciosa e robusta dos anticorpos vai tecendo, fio a fio, o futuro da tricologia.