Nem toda solução para a queda de cabelo precisa vir de fórmulas clássicas como o minoxidil. A pesquisa de Wen et al. (2025) amplia o horizonte terapêutico ao explorar um eixo biológico menos óbvio, mas potencialmente transformador: o papel do ácido retinoico — derivado ativo da vitamina A — na ativação de células-tronco do folículo piloso em casos de alopecia androgenética.
A lógica do estudo é elegante: se a falha na ativação das células-tronco do folículo está no cerne da calvície, por que não direcionar a terapia a esses mecanismos? Os autores demonstram, em múltiplas frentes experimentais, que o ácido retinoico é essencial para despertar essas células da dormência, estimulando sua proliferação e diferenciação. Isso se dá por meio da ativação da via de sinalização Wnt com beta-catenina, já conhecida por seu papel na regeneração capilar.
O desenho do estudo é robusto: combina análise genética em amostras humanas, cultura de folículos, ensaios em camundongos e até um ensaio clínico com indivíduos diagnosticados com alopecia androgenética. Os resultados convergem de maneira clara. Nos folículos miniaturizados pela calvície, há uma queda acentuada na expressão dos genes relacionados ao ácido retinoico e uma disfunção evidente das células-tronco. No entanto, com a aplicação do ácido retinoico, tanto in vitro quanto in vivo, os folículos voltam a se ativar, iniciam a fase de crescimento e aumentam a densidade capilar.
Uma das descobertas mais interessantes é a sensibilidade de dose: pequenas quantidades de ácido retinoico promovem crescimento e proliferação celular, mas concentrações elevadas causam efeito contrário, inclusive citotoxicidade. Esse achado reforça a importância de terapias personalizadas e controladas — nem sempre mais é melhor.
A pesquisa vai além do laboratório. No ensaio clínico, os participantes tratados com ácido retinoico tópico apresentaram melhora significativa em número e espessura de fios já no primeiro mês, indicando uma resposta rápida e eficiente, especialmente em fases iniciais da calvície. Ainda que os efeitos a longo prazo tenham se equiparado aos do minoxidil, o potencial do ácido retinoico como agente iniciador da regeneração é evidente.
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Este estudo representa um avanço importante ao conectar biologia molecular com estratégias clínicas práticas. A principal lição é que, ao compreender profundamente os mecanismos celulares por trás da alopecia, podemos criar intervenções mais inteligentes, menos invasivas e com menor risco de efeitos colaterais.
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Wen L, Fan Z, Huang W, Miao Y, Zhang J, Liu B, et al. Retinoic acid drives hair follicle stem cell activation via Wnt/β-catenin signalling in androgenetic alopecia. J Eur Acad Dermatol Venereol. 2025;39:189–201. doi:10.1111/jdv.20000
