A pele humana, incluindo o couro cabeludo, abriga um sistema endocanabinoide funcional, composto por receptores canabinoides (CB1 e CB2), ligantes endógenos (como anandamida e 2-AG) e enzimas que regulam sua síntese e degradação. Esse sistema atua como um regulador local da homeostase, controlando processos como inflamação, proliferação celular, produção sebácea, diferenciação queratinocítica e imunorregulação. Nos cabelos, os receptores CB1 e CB2 estão expressos no folículo piloso e influenciam diretamente o ciclo capilar, participando da transição entre as fases anágena (crescimento), catágena (regressão) e telógena (repouso). A desregulação desse eixo pode estar relacionada a distúrbios como dermatite seborreica, alopecia inflamatória e envelhecimento precoce dos fios.
Neste contexto, os cannabinoides vegetais e seus análogos não-psicoativos — conhecidos como cannabinoides-like — emergem como agentes bioativos de alta relevância na dermatologia e tricologia funcional. No Brasil, a biodiversidade oferece uma matriz riquíssima de fontes com potencial terapêutico. A copaíba (Copaifera spp.), por exemplo, contém β-cariofileno, um sesquiterpeno que atua como agonista seletivo do receptor CB2, promovendo efeitos anti-inflamatórios sem interagir com o sistema nervoso central. Já a andiroba (Carapa guianensis), amplamente utilizada na medicina tradicional amazônica, é rica em limonoides e triterpenos como amirina, que também modulam vias inflamatórias e antioxidantes associadas ao sistema endocanabinoide cutâneo.
A atuação desses ativos não se limita ao controle da inflamação: estudos indicam que eles podem modular a atividade das glândulas sebáceas, equilibrar a microbiota do couro cabeludo e estimular vias de reparo tecidual, tornando-se aliados em protocolos para controle de oleosidade, caspa, queda capilar inflamatória e até mesmo na recuperação de barreiras cutâneas danificadas por processos químicos. Além disso, sua origem natural e sustentável os torna particularmente atraentes para cosméticos de alto valor agregado e posicionamento ecológico.
A incorporação de ativos cannabinoides-like brasileiros em formulações cosméticas avançadas representa uma interseção estratégica entre biotecnologia verde, ciência dermatológica e valorização da floresta. Combinando eficácia clínica, inovação molecular e narrativas de sustentabilidade, esses ingredientes são protagonistas de uma nova geração de produtos que tratam a pele e os cabelos de forma sistêmica, inteligente e conectada com a riqueza do nosso território.