Quem estuda ou pesquisa sobre calvície masculina sabe que há uma certa associação entre esta manifestação e problemas de próstata. Isso se confirma em virtude de o mecanismo que leva à hiperplasia prostática, um tipo de tumor benigno da próstata, envolver as mesmas enzimas e hormônios que causam a calvície. Assim como as medicações para o tratamento desse problema serem as que atualmente mais promovem respostas de melhora em pacientes calvos.
Muito se discute sobre a associação de quadros de alopecia androgenética com outras manifestações de saúde. Algumas delas até já foram confirmadas, sendo certos tipos de calvície um sinal preditivo de doenças como diabetes, hipercolesterolemia, hipertensão, entre outros. Em virtude de ter mecanismos fisiopatológicos parecido com o de problemas prostáticos, a alopecia androgenética é motivo de estudos sobre uma eventual associação quanto às manifestações clínicas da próstata.
Um recente estudo multicêntrico publicado no periódico Journal of Clinical Oncology, com mais de 39.000 homens encontrou uma associação importante entre calvície e câncer de próstata. Os avaliados, que foram incorporados à amostra da pesquisa sem terem qualquer diagnóstico de câncer, foram acompanhados por mais de dois anos e, nesse período, 1138 deles desenvolveram câncer de próstata. Desses, 571 desenvolveram variações de maior agressividade do tumor. Quando comparados com pacientes que apresentavam as mais diversas gravidades de tumores, ou às formas menos agressivas dos mesmos, os homens calvos (calvície frontal e da região de vértice – coroa), foram pouco representativos em relação aos não calvos. O mesmo não acontecia com pacientes com tumores mais agressivos, esses pacientes com calvície frontal e de coroa desenvolvida até os 45 anos, foram os que mais desenvolveram câncer de próstata de maior agressividade, sugerindo aos pesquisadores um mecanismo de surgimento das formas mais agressivas que possa ter relação com o mesmo mecanismo de formação da calvície.
Dois estudos publicados por Thompson e colaboradores (2003 e 2007), acabaram encontrando uma relação interessante entre o uso de finasterida e a prevenção do câncer de próstata. A finasterida, uma medicação utilizada em doses mais elevadas para o tratamento da hiperplasia prostática benigna e em doses mais baixas para o tratamento da calvície, chamou a atenção dos pesquisadores na medida em que seu uso reduziu o risco global de câncer de próstata em seus usuários, mas os deixa predispostos a certos tumores mais agressivos nesse órgão.
Os comentários iniciais e os resultados apresentados acima reforçam a necessidade que temos de olhar a calvície de uma forma mais ampla, entendendo a mesma como um sinal de relevância que pode colaborar com a prevenção de doenças mais severas como o diabetes, as doenças cardiovasculares e o câncer de próstata. Cabe aos homens que sofrem com a calvície uma atenção que transcende o incômodo com o problema capilar, mas um cuidado geral com a saúde, envolvendo visitas periódicas aos profissionais da área clínica e urológica.
Referências Bibliográficas:
Zhou CK, Pfeiffer RM, Cleary SD, et al: Relationship between male pattern baldness and the risk of aggressive prostate cancer: An analysis of the Prostate, Lung, Colorectal, and Ovarian Cancer Screening Trial. J Clin Oncol doi: 10.1200/JCO.2014.55.4279
Su LH, Chen LS, Lin SC, et al: Association of androgenetic alopecia with mortality from diabetes mellitus and heart disease. JAMA Dermatol 149:601-606, 2013
Thompson IM, Pauler Ankerst D, Chi C, et al: Prediction of prostate cancer for patients receiving finasteride: Results from the Prostate Cancer Prevention Trial. J Clin Oncol 25:3076-3081, 2007
Thompson IM, Klein EA, Lippman SM, et al: Prevention of prostate cancer with finasteride: US/European perspective. Eur Urol 44:650-655, 2003