Quedas de cabelos são queixas importantes no âmbito médico como um todo. Desconheço algum paciente que se sinta bem diante de uma queda de cabelo. Que não se importe com ela de alguma maneira ou que não se sinta altamente desconfortável diante da falta de controle imediato frente á percepção da redução da cobertura do couro cabeludo.
Em virtude de um certo reducionismo do diagnóstico, muito frequente na prática clínica do profissional não especialista, que acaba por entender as perdas capilares como um problema, na grande maioria das vezes, associado à genética ou ao estresse, um grupo de pesquisadores do Hospital Geral de Massachusetts organizou de forma clara, em um artigo de revisão de literatura, um conjunto de causas em sete grupos para a melhor compreensão dos diversos fatores que levam à perda capilar.
Com essa leitura fica mais clara e ampla a compreensão de um maior número de problemas que podem estar associados às alopecias e, com isso, a pesquisa clínica não perderá a oportunidade de verificar critérios que vão dos mais simples aos mais complicados e que devem ser pesquisados nos atendimentos capilares. Mais que isso, reforça a necessidade de um olhar sempre atento e responsável diante das queixas de perda de cabelos, em especial porque a pesquisa clínica, em um grande número de casos, não se limitará ao atendimento em consulta e à avaliação tricoscópica, apenas. Mas também à realização de certos exames complementares que se mostram de grande relevância para o diagnóstico preciso.
Richard Lin e seus colegas de Boston dividiram as causas de queda capilar em:
1 -Eflúvio telógeno
Febre, Queda capilar após o parto, pausa no uso de contraceptivos, dietas rigorosas, cirurgias e anestesia (sobre esta possível causa de queda capilar faço uma ressalva no final deste texto).
2- Quedas de origem nutricional
a- Por fontes nutricionais: Dietas pobres em ácidos graxos essenciais, insuficiência na ingesta de proteínas, excessos ou deficiências vitamínicas, deficiência de zinco, deficiência de ferro, excesso de selênio, intoxicação por arsênico, mercúrio e chumbo e anorexia e bulilimia.
b- Por ingestão de determinados tipos de suplementos industrializados: Medicamentos de uso controlado (medicamentos para emagrecer), fármacos em geral (antidepressivos, antibióticos, antiarrítmicos, antihipertensivos, entre outros).
3- Problemas hormonais
Hiper ou hipotireoidismo, hipercortisolismo e hiperandrogenemia
4- Medicamentos
Antihipertensivos, antiarrítmicos, estatinas, anti metabólicos, medicamentos psicotrópicos, anticonvulsivantes, anticoagulantes, antirretrovirais, inibidores de H2 e laxantes.
5- Infecções
Sífilis, infecção fúngica, Epstein Bar vírus, Varicela Zoster vírus, Hepatite C, HIV, Citomegalo vírus, leishmaniose.
6- Doenças de relevância
Falência renal ou hepática, lupus eritematoso sistêmico, dermatomiosite, lupus discóide, amiloidose, sarcoidose, anemia.
7- Doenças malígnas
Leucemia, linfoma sistêmico, micose fungóide, histiocitose X.
Por alguns desses motivos entendo que o rigor na pesquisa clínica da queda capilar é essencial. Ainda que haja um peso e valor muito grande na avaliação pela anamnese, exame físico e na tricoscopia, na grande maioria das vezes uma avaliação laboratorial complementar se faz fundamental. Exames de sangue, de imagem e, em especial a biópsia tornam-se ferramentas importantes para o diagnóstico e também para o acompanhamento de cuidados e tratamentos.
Vale aqui uma ressalva importante sobre o artigo e que resolvi deixar para o final deste texto. Os autores citam uma referência de 1984 para incluir no grupo Eflúvio Telógeno a exposição a anestésicos como causa de perda capilar. Ainda que eu entenda que os procedimentos anestésicos são realizados predominantemente em associação com eventos estressantes do ponto de vista biologico e emocional para a maioria dos pacientes, no caso, as cirurgias, não incluiria a anestesia como causa de queda capilar por entender que o estresse cirúrgico (que pode acontecer por antecipação quando a cirurgia é eletiva, que ocorre biologicamente quando o paciente é exposto ao procedimento cirúrgico em sí e que faz parte do processo de recuperação do paciente) é de mais relevância do que a eliminação do desconforto provocado pela anestesia em si. Além disso, até hoje, nunca lí referências sobre anestésicos terem ação direta na matriz capilar interferindo para uma entrada antecipada de folículos que estavam em fase de crescimento em fase de queda.
Referências:
Richard L. Lin, Lilit Garibyan, Alexandra B. Kimball & Lynn A. Drake (2016) Systemic causes of hair loss, Annals of Medicine, 48:6, 393-402.