A queixa de prurido (coceira) de couro cabeludo é bastante frequente e pode estar relacionada a questões simples ou mais complexas da saúde desta região ou mesmo da saúde como um todo, uma vez que alguns problemas sérios como a insuficiência renal e seu tratamento, para citar um exemplo, podem favorecer o quadro.
No geral, as causas mais comuns de prurido de couro cabeludo são as dermatites, em especial a dermatite seborreica, provocada pelo excesso de oleosidade no couro cabeludo.
Alguns processos químicos capilares podem causar o problema, porém com menor duração do que a dermatite seborreica. No geral, quando um procedimento químico capilar causa coceira no couro cabeludo, é comum que o quadro dure alguns dias após o procedimento e que se repita sempre que a química for refeita.
Não podemos nos esquecer que a dermatite atópica, uma patologia alérgica do grupo das atopias (alergias que podem envolver também o aparelho respiratório e o digestório), costuma ser uma causa comum de prurido de couro cabeludo na infância e no início da adolescência, merecendo atenção especial no tratamento.
Um pouco menos frequente, o líquen plano, uma doença inflamatória da pele e de mucosas, pode acometer o couro cabeludo e causar prurido em áreas localizadas.
Há situações em que o quadro de prurido é de difícil diagnóstico e controle, Além de ter longa duração, se torna crônico, a resposta aos tratamentos convencionais fica limitada. Eventualmente acompanha um certo desconforto no couro cabeludo que é descrito pelos pacientes como dor ou sensação de queimação, exigindo do médico uma pesquisa diagnóstica mais ampla. A propósito, como apresentaram Vieira e Figueiredo em uma revisão de literatura de 2003, a sensação de prurido é uma forma diferente de percepção de dor.
Disestesia de couro cabeludo e prurido psicogênico costumam ser diagnósticos que respondem à descrição acima, estando vinculados, numa grande parte das vezes, a estados emocionais de ansiedade ou estresse crônico.
O tratamento de problemas como a disestesia de couro cabeludo e do prurido psicogênico passa por um controle rígido dos sintomas e pelo uso de medicações específicas como a gabapentina e a pregabalina que já se mostraram capazes de controlar o quadro de forma significativa. As abordagens de controle de ansiedade e estresse têm peso considerável e devem ser orientadas para todos os pacientes. Eventualmente o uso de antidepressivos e ansiolíticos podem ajudar, em especial nos casos de prurido psicogênico. A análise terapêutica ou psicoterapia também devem ser consideradas em casos mais complicados.
(Sem conflitos de interesse com nenhuma medicação citada acima. Texto baseado em literatura médica citada nas referências que constam ao final do mesmo).
REFERÊNCIAS:
Vieira R, Figueiredo A. Prurido: da etiopatogenia às estratégias diagnósticas e terapêuticas. Med Cutan Iber Lat Am. 2003:31(1);54-56.
Matsuda KM, Sharma D, Schonfeld AR, Kwatra SG. Gabapentin and pregabalin for the treatment of chronic pruritus. J Am Acad Dermatol. 2016 Sep;75(3):619-625.