Sou um crítico de quem critica a prevenção de doenças. Mais crítico ainda daqueles que têm um olhar enviesado para a saúde, crendo que é saúde viver a base de medicamentos. E também daqueles que entendem que apenas através de medicamentos se é possível tratar doenças.
Em primeiro lugar, a prevenção é a melhor forma de manter a saúde. Bons hábitos, exercícios físicos, manter rotina de redução do estresse, alimentação saudável, acordar e dormir cedo, reduzir o tempo de contato com os meios digitais e, até mesmo, decidir como se deve viver diante de uma mundo poluído, e cheio de atribulações. Naturalmente que no sentido de prevenção de doenças, cabe aqui também o modo de encarar a vida, com coragem e otimismo.
Quem nega a prevenção, entendendo que a doença é uma condenação e que, uma vez que uma boa parte delas é genética, está errado. Também está errado quem nega que quem ativa a doença não é a vontade própria dos genes em si (como parece que a grande maioria pensa), mas tudo aquilo que envolve a forma como vivemos. A pessoa pode ter predisposição genética para um câncer de aparelho digestivo e nunca desenvolver a doença desde que os gatilhos que a fazem manifestar não sejam disparados.
Então, pensar em prevenção é essencial, pois, uma vez que a doença surge, estar medicado não é sinônimo de saúde, e sim de que o paciente está sob um modelo de cuidado paliativo do problema. A doença em si continua existindo. E, se ele não melhorar sua saúde, seu estilo de vida e tudo mais, poderá seguir agravando o seu problema mesmo estando medicado (ex: paciente diabético que toma medicação mas segue fazendo ingesta significativa de carboidratos e se mantém sedentário).
Também me incomodo com o fato de que tem gente que crê que a única forma de tratar um paciente seja através de medicamentos. Isso não é uma verdade. Tem muita gente que melhora muito mais de suas condições de saúde quando começa a ter uma vida mais saudável do que com o próprio medicamento. E há casos em todas as especialidades em que isso já foi descrito ou observado.
Ao longo das últimas décadas a catequese feita nas faculdades de medicina, a formação médica em si, é predominantemente pautada em diagnosticar e medicar. Todas as formas de prevenção são colocadas num segundo plano, quando são apresentadas aos estudantes e residentes. Em muitos casos a prevenção de doenças com mudanças de hábitos, suplementos nutricionais e demais cuidados com a saúde, como redução do estresse a partir de yoga e meditação, são ridicularizados. E o argumento para isso é claro, vem do investimento pesado que a indústria farmacêutica faz em apoiar cientistas para validar suas drogas. Muitas vezes hipervalorizando benefícios e reduzindo a importância dos efeitos colaterais.
Dois livros muito interessantes que li recentemente corroboram esses argumentos: Big Pharma: o maior e mais obscuro negócio do século XXI da jornalista Tiziana Alterio e Falso Positivo, escrito pelo médico Anthony Daniels com o pseudônimo de Theodore Dalrymple. No primeiro a autora traz dados sobre o quanto a indústria investe em pesquisadores para que seus medicamentos sejam estudados e os dados de suas pesquisas sejam direcionados para o seu interesse próprio, ou seja, venda e lucro. Cita até mesmo a participação da Organização Mundial de Saúde e do próprio FDA, órgão que regula alimentos e medicamentos nos Estados Unidos, na promoção de informações enviesadas. No segundo, o autor analisa uma vasta quantidade de artigos publicados no New England Journal of Medicine, a revista de medicina mais importante do mundo, e mostra como muitos desses artigos apresentam metodologia e/ou viés comprometidos.
Convido todos que estão lendo este texto a lerem os livros citados acima, se não os dois, pelo menos o primeiro. Assim, passarão a ter um olhar mais crítico sobre como a ciência pode produzir conhecimento de fato e conhecimento com viés. E terão um olhar mais claro sobre o risco de não entender quem ganha e a quem interessa certas condutas frequentes do meio médico.
Eu, como médico, ando cansado de viver num mundo em que as pessoas parecem doutrinadas a aceitar tudo sem questionar. A não terem crivo para o que diz a mídia e, até mesmo, a publicidade disfarçada de conteúdo científico. Aqui no Brasil, por anos, quem praticava a medicina com olhar preventivo era chamado de charlatão. Por que? Porque evitava que o paciente desenvolvesse doenças ou ao menos tentasse reduzir o impacto delas SEM medicamentos. Porque fizeram as pessoas acreditarem que tudo que não vier da indústria farmacêutica não serve, pelo contrário, são as únicas coisas que salvam. Mas salvam como? Mantendo a pessoa em um “sistema de assinatura mensal”, estilo Netflix, em que todos os meses você precisa ir à farmácia buscar os MEDICAMENTOS que te permitem se sentir com saúde, ainda que não seja uma saúde real.
Sei, também, que é natural que uma vez que a doença exista, é muito difícil fugir disso. Mas você pode reduzir sua assinatura mensal, criando bons hábitos e tendo uma vida com qualidade. Fazer uso de uma alimentação que se adeque ao seu metabolismo e, se necessário, utilizar suplementos que reforçam suas defesas contra as doenças e que ainda possam te ajudar a melhorar outros aspectos de sua saúde como disposição, concentração, humor e vontade de viver. Viver com intensidade.
Entenda, sua saúde está muito mais nas suas mãos, nas suas decisões e escolhas, do que qualquer outra coisa. Quando passar a viver de boas escolhas, perceberá o quanto isso é importante para sua vida.