Grandes verdades sobre a queda de cabelos e seus tratamentos
Provavelmente você já está cansado de ouvir sobre os tão falados mitos e verdades relacionados à queda dos cabelos. Sempre as mesmas coisas sendo apresentadas, os mesmos argumentos em toda e qualquer matéria de jornal, revista ou TV, certo?
Pois então, estava pensando no que não se fala. É importante que o leitor deste blog saiba todo o possível sobre queda de cabelos. Não apenas mitos e verdades, mas afirmações que vem sendo passadas de geração em geração e que ninguém confirma, mas também ninguém nega e que podem confundir a cabeça de quem perde cabelos.
Além disso, vou tecer comentários sobre o porquê determinadas coisas podem ou não acontecer durante um evento de queda capilar ou mesmo após iniciado um tratamento.
Com isso acredito que elucido alguns pontos que são importantes sobre a ciência dos cabelos, e desmistifico situações que podem estar fazendo a pessoa que sofre com o problema estar tomando medidas inadequadas.
Já aviso, é um texto longo. Mas vale a pena. Vamos começar:
1 – Você não é igual a nenhuma outra pessoa nesse mundo, mesmo que tenha um irmão gêmeo
Ouço sempre pacientes dizendo que vem tentando usar os medicamentos de irmãos, tios, primos ou amigos para se tratar. Pode até ser que isso tenha algum benefício, mas também tem riscos, pois nem sempre o que é bom para um conhecido é bom para você. Logo, você deve procurar um médico e fazer uma pesquisa ampla sobre o seu problema antes de usar qualquer produto.
2 – Você não é igual a nenhuma outra pessoa nesse mundo, mesmo que tenha um irmão gêmeo
Você não leu errado. A repetição da afirmação acima como segundo item desse texto é proposital. Há novos estudos sobre uma ciência jovem chamada epigenética, que provam que mesmo irmãos gêmeos podem ter evolução diferente de uma mesma doença e respostas diferentes aos mesmos medicamentos, ainda que esse medicamento tenha sido prescrito para tratar doenças que estão acometendo os dois irmãos gêmeos.
O seguinte artigo mostra um estudo japonês com evidências de que isso é um fato: Eleven pairs of Japanese male twins suggest the role of epigenetic differences in androgenetic alopecia.
Link: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23306311
Quem quiser ler o estudo na íntegra tem que comprar o pdf no site da revista European Journal of Dermatology onde ele foi publicado.
3 – Xampu antiqueda não funciona
Esse fato é essencial para que você não perca tempo nem dinheiro investindo em produtos que não trazem os benefícios que você gostaria para sua queda capilar.
Xampus são produtos que ajudam muito nos cuidados com a beleza e saúde dos fios de cabelo e do couro cabeludo. Mas, infelizmente, não são eficientes no tratamento da queda capilar. Exceto quando falamos da queda por QUEBRA. Para esses casos até podem ajudar.
Os motivos são variados, mas vou citar alguns deles:
– A forma farmacêutica de um xampu não é feita para favorecer a penetração de ativos no couro cabeludo.
– O produto fica muito pouco tempo em contato com o couro, logo, mesmo que um xampu tivesse capacidade de favorecer uma permeação profunda de ativos via transfolicular (pelo canal onde o fio de cabelo sobe desde a raiz até a superfície da pele), ou por via percutânea (através da pele, cruzando a epiderme e a derme), ainda assim deveria ficar muito mais tempo do que 5 minutos (provavelmente mais de 1 hora) em contato com o couro cabeludo para promover algum benefício.
– Quando lavamos a cabeça diluímos o xampu na água que se encontra no cabelo molhado, diminuindo a concentração dos ativos em contato com a pele do couro cabeludo.
– A maior parte dos ativos fica em contato com a superfície dos fios de cabelo e não na superfície do couro cabeludo (exceto naqueles que já estão com o couro cabeludo bem ralo), fazendo com que muito dos ativos presentes no xampu sequer tenham a possibilidade de permear através do couro pois não estão realmente em contato com ele.
Por fim, se você já usou um xampu antiqueda que reduziu a sua queda, ok. Você pode ter associado o uso de xampu ao fato, mas provavelmente o motivo de sua melhora pode ter estado muito mais em uma coincidência, uma vez que sua queda já poderia estar programada para diminuir e não relacionada com o uso do produto.
4 – Alguns xampus podem ajudar na permeação de ativos de loções/tônicos para a queda capilar
Embora eu não acredite em xampu antiqueda, não posso deixar de reconhecer que alguns xampus realmente facilitam a permeação de ativos de loções ou tônicos capilares.
Isso ocorre porque existem xampus que melhoram a saúde do couro cabeludo, retiram resíduos de cosméticos, acalmam o couro cabeludo tratando dermatites e inflamações, eliminam total ou parcialmente a caspa que se acumula na superfície da pele. Com isso, mesmo que de forma indireta, os xampus até podem ajudar num controle da queda. Mas, mantenho a afirmação que se trata de um benefício indireto desses tipos de xampu que, muitas vezes, sequer são vendidos como xampus antiqueda, mas sim como anticaspa, anti oleosidade, controladores de dermatites etc.
5 – Você deve lavar seus cabelos sempre que sentir necessidade
Lavar a cabeça é uma questão de higiene. Se você sente que precisa lavar a cabeça sempre que entra no banho para poder se sentir bem, então lave.
Não é o ato de lavar que faz o cabelo cair. O cabelo cai na lavagem porque está programado para cair, e como ao lavar manipulamos mais o cabelo, então é esperado que muitos desses cabelos que estão programados para cair se soltem no ato da lavagem.
O mito de que a raiz do cabelo apodrece se ficar úmida é algo que me incomoda muito. Penso sempre em uma área de nosso corpo, a axila, que fica todo o tempo úmida, sofre com o atrito do movimento do braço e além de tudo é abafada pela presença do próprio braço. E, de verdade, salvo quando não está bem lavada, pode até cheirar mal, mas daí a apodrecer é algo que não acontece.
Por fim, o folículo piloso (em outras palavras, a raiz do cabelo) está inserido na derme. Uma área que é úmida por natureza e é o meio onde esse folículo trabalha e se desenvolve.
Dependendo do tipo de atividade que o paciente tem ao longo do seu dia (tipo de trabalho, atividade física, etc), dependendo do lugar onde ele vive e realiza suas atividades (se é ao ar livre ou ambiente fechado, se mais ou menos empoeirado ou poluído), dependendo do tipo de pele do paciente (mais ou menos oleosa, se o paciente sua mais ou menos), as lavagens serão essenciais, porque mais do que lavar com frequência é importante manter o couro cabeludo higienizado e saudável.
Concluindo, em relação à higiene dos cabelos, devemos lavá-los de acordo com nossa necessidade.
6 – Seu estilo de vida pode ser um dos motivos de sua queda capilar
Quem tem um estilo de vida saudável, provavelmente terá menor chance de desenvolver problemas de saúde. A queda de cabelos é um dos problemas que tem relação estreita com esse fato. O indivíduo que leva uma vida saudável pode até ter um motivo de base para a queda de cabelos (por exemplo: a genética ou uma patologia qualquer que tenha como sinal clínico a queda de cabelos, como o hipotireoidismo), mas essa queda não estará relacionada ao estilo de vida da pessoa.
Porém se a alimentação é ruim, se a pessoa dorme pouco ou mal, se é estressada ou ansiosa demais, se é sedentária, se fuma, se bebe em exagero, provavelmente poderá desenvolver queda capilar devido a esses fatores ou agravar uma queda genética ou causada pelo hipotireoidismo, por exemplo.
A verdade é que, voltando à questão da epigenética (citada no item 2), queiramos ou não, muito da responsabilidade por determinados problemas de saúde que desenvolvemos é, pelo menos em parte, nossa. Tudo porque nossas escolhas determinam o estilo de vida que temos e, consequentemente, podem se desdobrar em problemas de saúde. A queda de cabelos pode ser um dos sinais de escolhas erradas de hábitos de vida.
7 – Se alguma empresa prometer resultados milagrosos para a melhora da queda de cabelos, desconfie
Quanta gente perde tempo e dinheiro tratando dos cabelos com produtos que prometem milagres que sabemos que não existem.
Fico muito chateado quando vejo empresas conceituadas apresentando produtos milagrosos e prometendo inverdades. Eu mesmo vivenciei o problema de queda de cabelos quando mais jovem e posso garantir que quem passa por ele sofre muito e, por conta disso, às vezes se entrega ao marketing do engodo.
Participo de congressos, tenho muitos amigos que atuam na área, acompanho as publicações científicas para me manter atualizado e posso garantir: não há mágica! Há sim, ciência e bom senso.
Os estudos sérios provam que ainda não conseguimos parar, de uma hora para outra, uma queda de cabelos cujo fator causal está atuando em um indivíduo. A verdade é essa. Você pode até querer acreditar que não, e se deixar ludibriar por produtos, propagandas e condutas inadequadas de empresas que só querem seu dinheiro. Mas a verdade é que, se quer algo sério, deverá procurar um profissional habilitado para te tratar, seguir as orientações que ele prescrever, fazer os exames que forem necessários e ter tranquilidade e paciência para colher os resultados.
8 – Paciência e disciplina são essenciais
Não adianta passar dias fazendo pesquisas, tentando se autodiagnosticar, incrementar seu tratamento com tudo o que vê na farmácia e nas propagandas para queda de cabelos. Se você quer melhorar deverá pensar que todo bom tratamento deve ser baseado em cinco palavras chave:
– Sinceridade: seja sincero com seu médico. Esconder informações importantes sobre seu quadro adia seu diagnóstico correto e impede que o profissional chegue a conclusões mais precisas sobre o seu quadro.
– Diagnóstico: através das informações oferecidas, do exame físico e de eventuais resultados de exames complementares o médico chegará a um diagnóstico correto.
– Bom senso: caberá ao profissional escolher bem as prescrições e orientações terapêuticas, assim como individualizar o seu tratamento de acordo com as informações da história clínica e do exame físico/laboratorial.
– Disciplina: de que adianta um excelente diagnóstico, prescrição e orientações terapêuticas precisas se o paciente não seguir o tratamento de forma adequada? Seguir as orientações médicas com disciplina é grande parte do sucesso do tratamento.
– Paciência: nem sempre os resultados vêm na velocidade em que o paciente espera. O cabelo é uma estrutura que responde de forma gradativa ao tratamento e, quase nunca, os resultados surgirão de forma acelerada. Paciente sem paciência sofre mais durante o tratamento e se estressa mais, podendo inclusive, com a ansiedade por resultados rápidos, evoluir para um ciclo vicioso que promove ainda mais estresse.
Veja a imagem abaixo que ilustra o paciente estressado com o tratamento:
9 – O estresse realmente causa queda de cabelos
Não adianta querer acreditar no contrário. O estresse, está mais que provado, muda a química do corpo e causa queda de cabelos.
Não adianta querer acreditar no contrário. O estresse, está mais que provado, muda a química do corpo e causa queda de cabelos.
10- Não lute contra o tratamento, lute contra a queda de cabelo e suas causas.
Há muita gente que quer negar a queda capilar, em especial aqueles que são diagnosticados com quedas causadas por problemas genéticos ou motivos que podem levar ao uso de tratamento por tempo prolongado ou indefinido (para o resto da vida).
Por conta disso, após iniciado um tratamento, aos primeiros sinais de que estão melhores da queda ou do volume capilar, acabam abandonando o mesmo. Após algum tempo o quadro ressurge, causando desconforto e a necessidade de procurar o médico novamente para recomeçar o tratamento.
Muitos chegam até a mudar de médico acreditando que os resultados do tratamento não foram bons porque quando deixaram de seguir o tratamento o quadro voltou.
Ora, em se tratando de um quadro crônico, muitas vezes de origem genética e sem a possibilidade de cura, o fator causal sempre será uma força que tenderá a continuar atuando sobre o paciente. Nesse caso estimulando a perda capilar. Medicamentos e tratamentos, para que o paciente siga evoluindo bem, sem perda capilar ou até mesmo com melhora ou estabilização do quadro, não poderão ser descontinuados, pois fazem força contrária ao fator causal. Tal qual a velha brincadeira de cabo de guerra.
Num cabo de guerra, forças contrárias disputam entre si e o vencedor é aquele que consegue ser mais eficiente em uma das pontas do cabo. A questão é que na queda capilar genética a força que favorece a perda capilar deverá sempre ser combatida, uma vez que nunca deixará de atuar. Logo, para que o tratamento tenha sucesso, ele deverá anular ou ser suficientemente mais forte do que a força da genética. Mas se os cuidados com o tratamento afrouxam ou ele deixa de ser feito pelo paciente, a força da genética volta a atuar trazendo de volta a perda de cabelos.
Por isso, o paciente deve se conscientizar de que não deve lutar contra o tratamento. Não deve ter pressa de parar com o mesmo e deve estar ciente de que poderá ter que continuar se tratando pelo resto da vida. Deverá entender também que o médico que cuida de seu quadro e o tratamento por ele prescrito são as armas que têm em suas mãos para lutar contra a queda de cabelos e seus fatores causais.