Você, que sofre de cabelos. Você é vítima. Você não pode fazer nada, a não ser sofrer. Não, não sou eu quem estou te dizendo isso. São eles.
Eles também dizem que você está condenado. Está condenado a procurar apoio apenas em medicamentos. Aqueles que recebem investimentos absurdos para que cheguem até você com ares de salvadores.
Aqueles que parecem oferecer resultados que são sempre excelentes, com fácil uso e que têm seus efeitos colaterais propositalmente encolhidos em tamanho para que possam ficar compatíveis com a sua receptiva e desejosa aceitação.
Você também pode ser vítima dos milagres do marketing. Dos antes e depois milagrosos e mentirosos, cujas fotos são alteradas digitalmente. Ou que têm seus resultados encurtados no tempo, apenas para fazer você acreditar que é fácil, e, sobretudo, rápido.
Você também é vítima daqueles que só olham os cabelos. Que se esquecem de que os cabelos estão conectados com seu couro cabeludo (na verdade os cabelos nascem ali), e que seu couro cabeludo está desconectado do restante do corpo. Como se os tratamentos sistêmicos feitos para fins de tratar os cabelos não reverberassem em outras funções do seu organismo causando efeitos colaterais.
Você vem sendo moldado para aceitar cada modismo que o mercado apresenta. Para acreditar que a cada novo remédio, cosmético ou procedimento, irá encontrar, enfim, o fim para a sua dor. Tecnologias que não oferecem uma satisfação acima do que se espera de outros métodos não tecnológicos, mas que escravizam profissionais e pacientes que se permitem seduzir pelo mais do mesmo e pagarem um valor elevado para o que estará obsoleto já na próxima estação.
Você vem sendo doutrinado para aceitar que toda doença nasce e vive no seu organismo, dissociada de sua história de vida. De suas emoções, de seus traumas e complexos. Tudo que te mostram é que seu problema é facilmente explicado pela genética, pelo mal comportamento de uma enzima, por um transtorno hormonal, por um vírus, uma bactéria ou por uma baixa de um mineral ou vitamina.
Eles querem, assim como você na maior parte das vezes também quer, que sua alimentação não seja um problema. Assim você pode continuar comendo mal tranquilamente.
Ou te vendem uma falsa ideia do que querem fazer você acreditar que é saudável, em alguns casos para poder criar em você novos hábitos que te façam se sentir superior, sinalizando virtude porque você só come isso ou aquilo. E quem não gosta de se sentir superior? Imagina então se este padrão de alimentação te coloque no nível de um ungido. Aí então você se sente quase um Deus. Um quase Deus que pagará um preço caro com sua saúde.
A verdade é que tudo o que te liberta é apontado como ruim, e tudo o que te aprisiona é colocado como seguro, eficiente e bom. E a saúde não foge a essa regra. E por isso te negam a informação que te liberta. E, por isso, o que te faz bem é vestido com uma veste suja e descartável.
Quantas vezes você já ouviu falar que vitaminas e minerais não são bons? Quantas vezes você já assistiu a demonização de fitoterápicos que nossos corpos reconhecem pois há séculos a medicina é feita com plantas e compostos da natureza, apenas para acreditarmos que quem realmente se preocupa com nossa saúde é a indústria farmacêutica e seu infreável desejo pelo lucro através da criação de novas drogas para “tratar” o seu problema, e de outras que servem para corrigir os problemas que suas outras drogas te causaram?
E como eles investem mundos e fundos em pesquisas e pesquisadores, seus venenos recebem o traje a rigor da ciência, passando-se por lobos em peles de cordeiros
É a máxima do dinheiro comprar tudo, até a verdade, enquanto ela puder, assim, ser sustentada. E, para isso, usam seus discípulos.
Tenho 35 anos de experiência cuidando de meus cabelos. Destes, quase 25 anos como médico. Tenho comigo que não há tratamento capilar sem empenho, sem dedicação, sem sacrifício. Lembrando do significado da palavra sacrifício, que não tem nada a ver com dor e sofrimento, mas sim com o sacro ofício, o ofício sagrado. No caso, o sagrado investimento em cuidar da própria saúde.
Já passei por muito em todos estes anos. Já incorporei modismos. Já tentei tecnologias que logo são substituídas por outras, nem sempre melhores que as anteriores. Já usei medicamentos, os mais variados possíveis. Já acreditei que podia ser fácil (nunca foi). Já senti muita dor em tratamentos agulhados (ainda sinto). Já tive efeitos colaterais extremamente desagradáveis com medicamentos “consagrados”. Já vivi não sei quantos eflúvios telógenos que me fizeram ainda mais aguerrido em meus tratamentos. Já vacilei. Já corri atrás do tempo perdido. Aprendi muito com meu problema de alopecia androgenética. Estabeleci com ela uma relação simbiótica, ela vive em mim, e eu aprendo dia a dia uma nova forma de trata-la. Ela me ensina que não posso desistir. Eu aprendo a ser mais forte que ela.
Ela me ensina que inibir uma enzima não basta. Que preciso de mais.
Ela me mostra que o estresse não é legal. Eu aprendo dia a dia uma prática mais eficiente de lidar com o estresse.
Ela se incomoda com a forma que eu como. Eu mudo a minha dieta para me fortalecer, e enfraquecê-la.
Ela ganha forças com minha falta de sono, eu crio uma rotina para dormir mais e melhor.
Ela me sussura que algo no meu organismo faz ela ganhar força. Eu cuido ainda mais da minha saúde.
Ela fica feliz quando estou inflamado. Eu reforço meus mecanismos naturais de controle de inflamação com atividade física e uma alimentação ainda melhor para que ela se ponha em seu devido lugar.
E assim estabeleço uma troca contínua com minha queda de cabelos. E, quer saber, eu os trato cuidando de minha saúde e me tornando mais forte. Trata-se de uma relação em que medimos força, mas que tenho vencido por transformar em rotina todos os meus cuidados para impedir que ela cresça.
Lamento caso você não veja assim. Lamento que você não compreenda o quanto é gratificante saber que você é mais forte que ela. Que você não está condenado. E se está, está condenado a ser mais saudável. Está condenado a viver mais. A ser mais feliz.
Não existe milagre. Não existe o fácil. Não existe o atalho. Você não é vítima. Exceto se você se aceitar assim. Eu decidi não ser, a alopecia androgenética me tornou um guerreiro. Um guerreiro que lutará até a morte pelo desejo de manter meus cabelos.
E você, vai desistir?
