
O que o estresse pode causar no cabelo? Mais do que imaginamos. E não estamos falando de crenças populares — mas de ciência. Estudos recentes mostram que o folículo piloso é altamente sensível ao estresse percebido, respondendo com alterações que podem levar à queda, afinamento e até ao surgimento precoce de fios brancos.
O que a ansiedade pode causar no cabelo? A resposta pode envolver desde ciclos capilares interrompidos até o colapso da imunidade perifolicular. Situações de sobrecarga emocional não afetam apenas o humor: elas conversam diretamente com os fios, por meio de hormônios, neuropeptídeos e substâncias inflamatórias.
Em um artigo de revisão, publicado no periódico Frontiers in Neuroendocrinology (2022), propõe que o folículo piloso deve ser visto como um modelo experimental sofisticado para entender os efeitos do estresse sobre os tecidos humanos. A interação entre o sistema nervoso, endócrino e imunológico — conhecida como psiconeuroimunologia — tem, nos cabelos, uma manifestação visível e mensurável.
Os pesquisadores descrevem como substâncias como o CRH, a substância P, o cortisol, a dopamina e os endocanabinoides afetam o ciclo do cabelo e a pigmentação. Esses mensageiros químicos não apenas aceleram a entrada em catágena (fase de regressão dos fios), como também desencadeiam inflamação neurogênica, afetam a matriz mitocondrial e desorganizam o sistema imunológico do folículo, especialmente em casos como alopecia areata.
Além disso, estudos mostram que o cortisol e outros biomarcadores do estresse podem ser medidos diretamente no fio de cabelo — o que transforma o próprio fio em um “registro biológico” das experiências emocionais do paciente.
Principais destaques do estudo:
- O estresse percebido é um fator real na queda de cabelo e no envelhecimento precoce dos fios;
- O folículo piloso possui seu próprio eixo neuroendócrino, tornando-se vulnerável à sobrecarga emocional;
- A ansiedade e o estresse crônicos alteram o equilíbrio entre crescimento, pigmentação e imunidade;
- A inflamação induzida por neuropeptídeos como a substância P pode antecipar a queda dos fios;
- Mecanismos mitocondriais e desequilíbrios do microbioma também participam das alterações induzidas pelo estresse;
- Antagonistas de receptores específicos, como o NK1R e o CRHR1, e estratégias de gerenciamento do estresse surgem como promissoras abordagens terapêuticas.
Por que isso importa para a Tricologia Clínica?
Porque ir além da superfície é o que diferencia o cuidado técnico do cuidado inteligente. Ao integrar conhecimentos de psiconeuroimunologia à prática clínica, o profissional amplia sua capacidade de identificar causas invisíveis da queda capilar. Com isso, entende que o cabelo não responde apenas ao shampoo certo ou ao suplemento ideal — mas também ao que o paciente sente, vive e pensa.
Referência:
O’Sullivan JDB, Peters EMJ, Amer Y, et al. The impact of perceived stress on the hair follicle: Towards solving a psychoneuroendocrine and neuroimmunological puzzle. Front Neuroendocrinol. 2022;66:101008. doi:10.1016/j.yfrne.2022.101008