A foliculite decalvante (FD) é uma alopecia cicatricial neutrofílica rara e de difícil manejo, caracterizada por inflamação crônica, destruição folicular e formação de pústulas. Embora historicamente tenha sido associada à colonização por Staphylococcus aureus, pesquisas mais recentes indicam que sua etiologia é mais complexa, envolvendo um microbioma folicular alterado e uma resposta imune comprometida. O presente estudo analisou a microbiota folicular de pacientes com FD, comparando-a com folículos saudáveis, e avaliou a resposta imunológica desses indivíduos para entender melhor os mecanismos subjacentes à doença.
Foram incluídos 10 pacientes com FD e 4 controles saudáveis, submetidos a biópsias foliculares e análise de microbioma por sequenciamento de nova geração. Os pesquisadores também avaliaram a produção de citocinas em células mononucleares do sangue periférico (PBMCs) desses pacientes, incubadas com diferentes patógenos bacterianos. Os resultados mostraram que os folículos afetados por FD apresentavam um microbioma heterogêneo e distinto dos folículos saudáveis. Enquanto a microbiota dos folículos saudáveis era dominada por Actinobacteria e Corynebacterium, os folículos doentes mostraram super-representação de Firmicutes, especialmente bactérias das famílias Lachnospiraceae e Ruminococcaceae.
Além disso, foi observado um padrão disfuncional da resposta imunológica. Pacientes com FD apresentaram níveis reduzidos de IL-10, TNF-α e IL-6 após incubação com diferentes cepas bacterianas, o que sugere um comprometimento da capacidade imune de regular a inflamação. Esse achado reforça a hipótese de que a FD não é apenas resultado de uma infecção bacteriana oportunista, mas sim de uma interação anormal entre microbioma e sistema imunológico, favorecendo a inflamação persistente e a destruição folicular.
Esses resultados têm implicações diretas no manejo da FD. Embora antibióticos ainda sejam amplamente utilizados para controle da doença, o estudo sugere que a simples erradicação bacteriana pode não ser suficiente para conter a progressão da patologia. O estágio inicial da doença parece estar relacionado a uma resposta inflamatória neutrofílica exacerbada, enquanto em fases mais avançadas, ocorre uma perda do privilégio imunológico folicular, tornando a inflamação crônica e autorregulada. Isso reforça a necessidade de estratégias terapêuticas que combinem modulação do microbioma e imunomodulação, indo além do uso de antibióticos.
A pesquisa também levanta a hipótese de que a microbiota anômala observada na FD pode ser consequência de um defeito pré-existente na barreira epitelial ou no sistema imune local, permitindo a colonização de bactérias oportunistas. Essa descoberta reforça a necessidade de investigar tratamentos que fortaleçam a barreira cutânea e equilibrem a microbiota, como o uso de prebióticos tópicos ou imunomoduladores específicos.
Em conclusão, a FD se caracteriza por um microbioma alterado e uma resposta imunológica enfraquecida, o que pode perpetuar o processo inflamatório e a destruição folicular. O estudo destaca a importância de um novo paradigma terapêutico, considerando a restauração da homeostase imunológica e do microbioma folicular como pilares fundamentais no manejo da doença.