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Hiroshige, o mestre da arte japonesa 2 – Um olhar baseado na Tricologia.

Bem, há pouco mais de uma semana escrevi um texto sobre um trabalho do artista japonês Hiroshige. Comentei aspectos que relacionavam a imagem da Chuvasca repentina na ponte Shin-Ohashi e Atake, com uma leitura pessoal sobre a obra, para, no final, fazer uma pequena correlação com a medicina (veja em: Hiroshige o mestre da arte japonesa – E também um pouco de medicina)
Aquele primeiro texto não foi exatamente o que eu tinha em mente escrever quando olhei esse trabalho do Hiroshige. Queria fazer uma análise com o olhar da Tricologia. Por isso, estou finalizando meu projeto inicial, com um pouco daquilo que me chamou a atenção na obra e que me fizeram lembrar de situações que me rementem às quedas capilares.
Para começar, vamos reparar que a representação dos pingos de chuva que Hiroshige faz sobre a obra são traços (já havia comentado isso no texto anterior), traços que seguem desde o céu até a porção mais baixa da gravura. De uma certa forma essa foi a imagem que prendeu meu olhar à obra. Os pingos de chuva me lembravam cabelos. Não quero aqui aprovação de ninguém. Não estou dizendo que são cabelos. Estou dizendo que em um primeiro olhar os pingos de chuva me lembraram cabelos.
Foi daí que eu comecei a olhar a obra com mais cuidado e perceber detalhes que me levaram a essa boa e gostosa viagem de conectar a tricologia ao trabalho de um artista.
Observem, por exemplo, o céu. Um céu escuro, triste, amedrontador, depressivo… Essa é uma características de muitos pacientes que vêm com uma queda severa. Estão preocupados, chateados, ansiosos, depressivos e buscando uma esperança para o problema da queda. Quem sabe um pouco de luz do sol, para saírem da situação desconfortável que a queda de cabelos os coloca.
E quanto aos pingos de chuva. Como não associar pingos de chuva a lágrimas. Quantos não chegam ao consultório aos prantos por conta da queda capilar. Mulheres em especial. Sempre digo que mulheres tem uma relação mais intensa e afetiva com seus cabelos do que os homens (escrevi isso na introdução de meu livro É Outono para meus cabelos – publicado pela editora MG em 2007). Logo, sentem mais e ficam mais emotivas e chorosas frente à queda capilar.
Ainda sobre os pingos de chuva, a lembrança do chuveiro. Da hora do banho. Quando a maioria dos pacientes relata suas maiores preocupações com a queda. É no banho que meus cabelos caem mais, dizem eles.
Sobre a ponte de madeira, já no texto anterior comentei que, ainda que bem construída, poderia passar a impressão de não ser tão segura quanto a terra firme. Digo o mesmo aqui. Muitos pacientes vivem inseguros com suas quedas capilares. Eventualmente, sentem que lhes falta o chão. Uma peculiaridade da grande maioria das quedas de cabelo é que conseguem ser avassaladoras e de difícil controle imediato (tal qual a chuva da gravura), causando grande insegurança a quem a experimenta.
Sobre o barco e o barqueiro, navegando sozinhos pela correnteza debaixo da tempestade, como não imaginar aqueles que me procuram dizendo que vivem o problema da queda capilar sozinhos. Sem receber o apoio de pessoas próximas. Eventualmente sem a devida presença de um profissional para quem dar as mãos. Remam contra o problema de forma solitária. Lutam contra uma força que parece ser mais forte que eles com pouca orientação ou desorientados por completo.
Sobre os caminhantes na ponte, ao notarem a tormenta, seguem rumos diferentes. Parecem querer fugir, evitar, se esconder da chuva. Os pés trôpegos, o andar claudicante de quem não sabe para onde ir. Como muitos pacientes que não sabem a quem pedir ajuda. Onde encontrar um profissional que cuide de sua queda capilar. Que tipo de produto usar? Como usar? Recorrem a prateleiras de supermercados e farmácias, internet, anúncios de produtos milagrosos em jornais e revistas. Caem em golpes de empresas que lucram, sem escrúpulos, em cima do desespero de quem perde sua cabeleira. Ficam à mercê das informações comerciais e tendenciosas. Literalmente perdidos.
Os que perdem cabelos, assim como os caminhantes da ponte ao serem atingidos pela chuva, tendem a cobrir suas cabeças. Evitam mostrar suas rarefações. Mudam penteado, cortam de forma diferente, passam a usar bonés, lenços, arcos. Prendem os cabelos. Tudo para evitar atrair para a região menos densa de fios o olhar do outro.
Por fim, e para não me alongar demais, o horizonte de quem perde cabelos parece nublado. Obscuro, acinzentado. O olhar destes pacientes é, salvo raríssimas exceções, um olhar baixo, que parece não conseguir ver adiante, com clareza, seu futuro capilar.
Creio que, agora sim, me sinto à vontade para olhar essa obra do Hiroshige e meditar sobre o que aprendi com ela. Pode ser que algum dia volte a escrever um texto sobre a mesma gravura. Sobre o mesmo trabalho desse artista. Quem sabe eu ainda consiga ver, de tanto admirar essa obra, algum detalhe que ainda não vi. Ou fazer alguma análise ou analogia que ainda não fiz.
Agradeço ao artista pela grandeza de sua sensibilidade, e por me fazer investir tanto tempo divagando na beleza de seu trabalho.
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