A saúde dos cabelos está profundamente ligada ao equilíbrio emocional. Experiências como luto, divórcio e desemprego não afetam apenas a mente, mas também o corpo, repercutindo diretamente na saúde capilar. No dia a dia da prática clínica, é comum ver pacientes relatando perda significativa de cabelo após enfrentarem períodos de luto pela perda de um ente querido, desgastes emocionais profundos em um divórcio ou a instabilidade do desemprego. Essas situações geram uma carga de estresse tão intensa que acabam refletindo na fisiologia do corpo, especialmente na forma como os folículos pilosos reagem.
O artigo de Picardi e Abeni (2001) reforça essa observação clínica ao mostrar que o estresse psicológico está associado ao desenvolvimento e agravamento de doenças dermatológicas, incluindo a queda de cabelo. Embora o estudo não foque exclusivamente em eventos como luto e divórcio, ele aponta que eventos de vida altamente estressantes ativam o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA), elevando os níveis de cortisol. Esse aumento de cortisol age como um gatilho que interrompe o ciclo natural do folículo piloso, levando ao eflúvio telógeno — uma condição em que os folículos entram prematuramente na fase de queda (telógena).
Outro artigo, de Phillips et al. (2017), aborda de forma prática o impacto do estresse no ciclo capilar, indicando que traumas emocionais intensos podem ser fatores desencadeantes da queda de cabelo. No contexto do desemprego, por exemplo, o impacto emocional da instabilidade financeira, o medo e a ansiedade contínua podem resultar em perda capilar significativa. Já no caso do divórcio e do luto, a perda abrupta e a carga emocional associada criam uma situação de estresse persistente que se reflete no corpo, comumente desencadeando ou exacerbando condições de alopecia.
Em minha prática, vejo que o tratamento da queda capilar em casos como esses exige uma abordagem que vai além do tratamento clínico. A saúde emocional do paciente precisa ser considerada com tanto cuidado quanto a saúde do couro cabeludo. Quando se trata de condições como o eflúvio telógeno, intervenções que envolvem terapia de suporte emocional, técnicas de manejo do estresse (como mindfulness e práticas de autocuidado) e suplementação de nutrientes essenciais podem fazer uma diferença real. Além disso, o acompanhamento psicológico pode ser um complemento indispensável para o sucesso do tratamento, ajudando a estabilizar o sistema nervoso e, assim, promover um ambiente biológico mais favorável para o crescimento capilar.
A realidade é que esses eventos de vida — luto, divórcio, desemprego — são mais do que situações temporárias. Eles deixam marcas que vão além da psique e repercutem no corpo, especialmente nos cabelos. E reconhecer isso é fundamental para qualquer profissional que busca ajudar seus pacientes a enfrentar esses desafios com empatia e soluções eficazes. Cuidar da saúde capilar nesses casos é também cuidar do bem-estar integral do paciente.
Referências
- Picardi, A., & Abeni, D. (2001). “Stressful Life Events and Skin Diseases: Disentangling Evidence from Myth.” Psychotherapy and Psychosomatics, 70(3), 118-136.
- Phillips, T. G., Slomianny, W. P., & Allison, R. (2017). “Hair Loss: Common Causes and Treatment.” American Family Physician, 96(6), 371-378.