Meu pai ficou calvo com mais de 40 anos, e eu, preciso me preocupar agora?
24 de maio de 2012
Muitos pacientes jovens chegam a minha clínica com queixas de queda capilar. Na maioria das vezes sou obrigado a perguntar sobre a presença de familiares calvos na família porque a história clínica e o exame físico sugerem uma queda androgenética, em outra palavras, uma calvície familiar.
Muitos me dizem que não acreditam haver relação entre suas quedas capilares e a de seus pais, porque esses, muitas vezes 20 a 30 anos mais velhos, só começaram a ficar calvos com 40 anos ou idade superior aos 40. Acreditam, então, que se suas quedas fossem genéticas iriam apresentar um quadro parecido com os pais só em idades mais avançadas.
Essa argumentação, apesar de PARECER coerente, não expressa a verdade. A queda capilar genética pode acometer os indivíduos de uma família em idades variadas. E se pensarmos no estilo de vida que estes pacientes tem hoje, entre os 18 aos 30 anos de idade, e fizermos um paralelo com o estilo de vida que seus pais ou avós tiveram quando tinham este perfil etário, poderemos ver que muita coisa mudou.
Estresse, ansiedade, exigências, trânsito, alimentação, poluição, entre tantos outros fatores, não são os mesmos de 20 a 30 anos atrás. Apesar de a vida moderna nos oferecer um conjunto amplo de facilidades e confortos, os efeitos do estresse e da ansiedade são mais severos. As exigências aumentaram muito já na infância, quando a criança tem de ir à escola e ainda fazer futebol, inglês, espanhol, balé, natação, entre tantas outras atividades.
Para um adulto então, as exigências estão cada, vez maiores. O trânsito é preocupante e eleva os níveis de estresse e ansiedade. A alimentação é completamente diferente, comemos enlatado, embalado, plastificado, congelado e tudo isso cheio de conservantes, corantes e/ou agrotóxicos. Os níveis de poluição aumentaram muito e ainda há uma vasta mudança de comportamentos e novas necessidades que foram incorporadas pelas gerações mais novas.
Com todas essas mudanças um preço sempre será pago. Não me lembro de ouvir com a frequência que ouço hoje que há duas décadas atrás um paciente de 33 anos havia sofrido um infarto do miocárdio. Não me lembro de uma incidência tão elevada de pressão alta em pacientes com pouco mais de 20 anos de idade. Não consigo encontrar em minha memória um número elevado de adolescentes tendo que se preocupar com seus níveis de colesterol. Hoje estes problemas se tornaram mais frequentes nos jovens. Jovens que certamente só tinham essas condições em suas famílias nas gerações com mais idade.
E por que a calvície seria diferente nesse cenário? Vivemos em uma época em que conhecemos muito mais sobre nossa saúde do que se conhecia anteriormente, mas vivemos muito mais os problemas de saúde do que vivíamos há décadas atrás. Com a calvície é a mesma coisa.
Infelizmente, para aqueles que ainda acreditam que só irão perder cabelos quando atingirem idades mais avançadas, a notícia não é muito boa. Você pode estar perdendo cabelos hoje por conta da genética de seu pai, avô ou de sua mãe. Mesmo que eles só tenham começado a experimentar esta perda de cabelos mais tarde em suas vidas.
Se você tem dúvidas se sua perda de cabelos é ocasionada pela genética, não perca tempo. Procure um dermatologista ou tricologista. Pode ser que o diagnóstico não seja o de calvície genética, bom para você. Mas se for, comece a se tratar o quanto antes.