Há determinados tipos de músicas que demoro para assimilar. Às vezes o mesmo artista ou banda com quem já tenho alguma intimidade com as melodias surpreendem produzindo trabalhos que parecem completamente diferentes da sonoridade com a qual estou acostumado.
Quem já leu alguns dos textos desse blog, seja na versão nova (www.blogtricologiamedica.com.br) ou na versão antiga (www.tricologiamedica.blogspot.com.br – ainda no ar), pode ter visto um ou outro post em que escrevi sobre uma das personalidades do jazz que mais gosto e escuto, Duke Ellington. Gosto tanto de Duke Ellington e de seu trabalho que já usei sua história de vida como referência em algumas aulas para meus alunos.
De Ellington o trabalho cuja sonoridade soa mais diferente é o excelente Money Jungle, em parceria com o contrabaixista Charles Mingus e o pianista Max Roach. É Duke Ellington, mas há algo novo ali. Uma inspiração ou motivação qualquer que torna Money Jungle, de 1963, um álbum incrível e que não consigo parar de escutar.
Só para apresentar um exemplo de como Ellington pode soar diferente nesse álbum, basta escutar a versão de uma das composições mais conhecidas de dele gravada para esse trabalho, Caravan.
Ao lado temos a possibilidade de ouvi-la primeiro numa versão com sua orquestra – que naturalmente deixa a música mais encorpada, e depois na versão de Money Jungle. Caravan em Money Jungle, ainda que sem a orquestra, parece chegar mais viva, mais espontânea e mais intensa a nossos ouvidos.
Há uma nova sonoridade em todas as demais composições desse álbum. O exemplo de Caravan serve para qualquer outra das sete músicas contidas originalmente no álbum. Todas tocadas de uma forma única e genial por Ellington, Mingus e Max Roach.
Gosto muito de uma coleção de composições gravadas por Ellington lançada com o título Indigos em 1958 (link para as composições de Indigos no final desse post). Para aqueles que forem curiosos e quiserem conhecer um pouco mais sobre as variações musicais de Ellington, vale a pena ouvir as músicas dessa coleção e depois ouvir outras gravações delas tocadas ao vivo ou gravadas em outros álbuns. Uma brincadeira que pode ser extremamente prazerosa e rica para quem gosta de realizar viagens musicais.
Para finalizar, acredito que essa capacidade de reinventar músicas e o próprio estilo seja algo que de certa forma só conseguem os grandes artistas, os músicos de qualidade. Miles Davis me parece ter sido o artista que mais abusou da capacidade de se reinventar, com especial destaque para o trabalho Bitches Brew em que parece ter se descolado de tudo o que havia feito antes e mesmo assim soar como Miles Davis.
LINK PARA AS MÚSICAS DO ALBUM INDIGOS: