Estava fazendo uma revisão de literatura sobre um assunto que eu gosto muito, ativos naturais cuja ação se dá em diversos alvos corretores de um problema. Dei no título o nome de multi-taget (múltiplos alvos) para este mecanismo, mas também os chamo de ativos com mecanismo versátil, reforçando o conceito de ação de uma substância em diversos mecanismos nas células e tecidos do nosso corpo.
Para dar um exemplo citarei a epigalocatequina galato (EGCG). Um flavonóide presente na Camelia sinensis, o Chá Verde. Venho estudando o Chá verde há anos e, inclusive, fui consultor da empresa Tricho-RES e colaborei com o desenvolvimento de cosméticos com este ativo e um suplemento a base de Chá Verde com matéria prima de excelente procedência e qualidade para o tratamento capilar.
Alguns artigos que cito ao final deste texto justificam o uso do Chá verde para o tratamento capilar. Tanto no caso de alopecia androgenética (a calvície), quanto para outras alopecias associadas ao estresse e a quadros inflamatórios. Os motivos são variados, como: estimular o crescimento capilar e reduzir a morte de células foliculares (apoptose) por uma atuação nas células da papila dérmica, comprovados efeitos da EGCG no controle da atividade do DHT (hormônio envolvido no surgimento e desenvolvimento da calvície), elevação da proteína ligadora de hormônios sexuais (SHBG), quando esta globulina encontra-se em concentrações mais elevadas no sangue, ela se liga mais aos hormônios responsáveis por causar a queda capilar. E, por fim, efeitos redutores da inflamação e do impacto do estresse na normalização das funções do folículo piloso.
Ou seja, a EGCG do Chá Verde é um ativo com atuação multi-target no tratamento da calvície. E nem sequer citei as xantinas, um grupo de ativos dos quais a cafeína faz parte, também presente no Chá verde e cuja função antioxidante e inibidora de 5-alfa-redutase (enzima crucial para a formação do já citado hormônio DHT, seja reduzida.
Mas gostaria de ir um pouco mais a fundo no que diz respeito ao mecanismo multi-target da EGCG. Há como ser mais multi-target do que o Chá Verde já é? Sim, o próprio Chá verde surpreende no que diz respeito ao seu mecanismo anti inflamatório.
A EGCG atua em muitos alvos moleculares da inflamação. Entre elas, nas quinases dependentes de ciclina, na 5-citosina DNA metiltransferase, na sinalização de NF-kB, no proteassoma, na dihidrofolato redutase telomerase, nas metaloproteinases de matriz (MMPs), na topoisomerase, na mPGES-, na COX-1 e na 5-lipoxigenase. O resultado é um efeito anti inflamatório benéfico e muito interessante quando estamos diante de quedas capilares que vêm acompanhadas de inflamação. Ou mesmo de doenças inflamatórias de pele e couro cabeludo.
Me arrisco a dizer que a EGCG é um ativo natural mais do que interessante e eficiente e que seu uso oral é capaz de entregar melhoras significativas na saúde como um todo. Apesar de salientar esses benefícios, lembro que o chá verde deve ser orientado por profissional, em especial se o paciente tiver algum problema de saúde para que a indicação e a dosagem sejam não apenas eficientes como seguras.
REFERÊNCIAS:
O.S. Kwon, J.H. Han, H.G. Yoo, J.H. Chung, K.H. Cho, H.C. Eun, K.H. Kim. Human hair growth enhancement in vitro by green tea epigallocatechin-3-gallate (EGCG), Phytomedicine. 2007;14:551-555.
Esfandiari A, Kelly AP. The Effects of Tea Polyphenolic Compounds on Hair Loss among Rodents. J Nat/Med Assoc. 2005;97:1165-1169
Thomas F, et al. Dihydrotestosterone sensitises LNCaP cells to death induced by epigallocatechin-3-Gallate (EGCG) or an IGF-I receptor inhibitor. Prostate. 2009 Feb 1;69(2):219-24.
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Koeberle A, Werz O. Multi-target approach for natural products in inflammation. Drug Discov Today. 2014 Dec;19(12):1871-82.