A inflamação é um sinal clínico que observo recorrentemente em pacientes com queixas de queda capilar. Em boa parte das vezes a inflamação do couro cabeludo é assintomática, não trazendo ao paciente percepções de dor, prurido ou sensibilidade do couro. Em muitos casos, também, não está associada a uma dermatite de fato, como seria possível de ser observado na dermatite seborréica, irritativa ou de contato.
Já escrevi sobre a inflamação do couro cabeludo em outros posts, até porque, este é um tema que vem sendo abordado recorrentemente por pesquisadores do mundo todo (quem se interessar mais sobre o tema pode ler os posts que estarão citados no final do texto).
A questão é que processos inflamatórios, em geral, podem estar associados aos próprios eventos etiológicos e fisiotapatológicos das quedas capilares (por etiológicos podemos entender as causas e por fisiopatológicos a forma como o problema se desenvolve na área acometida), sendo portanto um sinal clínico associado à queda de cabelo em si.
A tricoscopia, exame com microscopia de luz que permite avaliar o couro cabeludo no geral, é uma ferramenta que nos permite verificar a presença de inflamação. Tenho focado muito na avaliação da presença desse sinaal clínico pois entendo que ele pode ser um fator de agravamento das perdas capilares.
Os estudos e pesquisas que buscam entender e atuar sobre a inflamação associada a perdas capilares, concluem que eliminar este quadro é algo que promove melhora mais significativa no tratamento das alopecias.
Empresas que desenvolvem novos ativos e produtos tem se preocupado com a inflamação e lançado no mercado produtos com ingredientes que também atuam no combate ao quadro. O madecassoside, fruto do trabalho de uma dessas empresas, é um exemplo de ativo que atua na inflamação perifolicular, reduzindo o impacto da mesma nos folículos.
Além de ativos farmacêuticos e cosméticos, há outras formas de se atuar no combate à inflamação que acompanha as alopecias. O laser infravermelho, o uso de alguns tipos de óleos essenciais aplicados no couro cabeludo como um dos processos da terapia capilar e até mesmo a simples mudança dos hábitos de higiene dos cabelos colaboram com o controle inflamatório.
É importante o paciente entender que há fatores que podem agravar quadros inflamatórios de couro cabeludo que estão fora do âmbito da etiofisiopatologia do processo de perda capilar em si. As dermatites seborréica, erros na higiene do couro cabeludo, o uso de cosméticos inadequados para o tipo de cabelos do paciente, a exposição exagerada do couro cabeludo ao sol e a inflamação neurogênica (fruto do estresse da vida), são amplificadores da inflamação do couro cabeludo e aceleradores dos problemas de queda capilar.
Ter a inflamação como alvo de qualquer tratamento de queda capilar é fundamental e, certamente, resultará em um melhor controle do quadro.
Referências:
Mahé YF et al. Alopecia androgenética y inflamación. Int J Dermatol. 2000;39:576-584.