Na semana passada tive o prazer de participar de dois eventos excelentes, o XXI Congresso Brasileiro de História da Medicina e a XLII Jornada de Psicossomática e Psicologia Hospitalar da PUC-SP. Já comentei sobre o evento de História da Medicina em outro post (clique aqui para ler), hoje vou falar de algo que refleti nos últimos dias sobre uma das palestras do evento de psicossomática.
Assistindo à palestra do Dr Pedro Prado, uma das melhores do evento, diga-se de passagem, ouvi dele que alguns pacientes tem preguiça de ir atrás da melhora de seus problemas de saúde. Esta colocação mexeu comigo de forma intensa, em especial por ser algo que eu percebo em muitos daqueles que eu atendo e por ser uma questão que parece estar cada vez mais frequente.
Vou dar um exemplo. Recentemente atendi uma paciente que desenvolveu há algum tempo uma alopecia cicatricial. Longe de ser uma paciente cuidadosa com seu problema, apesar de salientar o quanto se sentia incomodada pelo fato de perder cabelos e ter elevado índice de dor e prurido no couro cabeludo, me deixava claro que não praticava com afinco os cuidados que haviam sido passados durante a consulta. Foram três atendimentos com pouca melhora, sempre com a paciente fazendo um mea culpa de que não havia sido muito disciplinada, que esquecia de aplicar as soluções capilares e de tomar as medicações orais, porém com queixas de que não via melhora no seu quadro. Mais do que isso, a preocupação dela era saber até quando teria que fazer o tratamento porque o fato de tomar remédio e aplicar um tônico no couro cabeludo era muito chato. Por várias vezes dizia que se incomodava com o tratamento. Em nosso último atendimento pedi para ela refletir em casa sobre a seguinte pergunta: O que te incomoda mais, a doença ou o remédio? Espero que a doença seja um incômodo maior do que o tratamento, do contrário não vejo um futuro bom para a alopecia dela.
Muitos são os pacientes que estão mais preocupados com quanto tempo vai durar um tratamento do que com a solução de seus problemas. Enxergam o tratamento como um inimigo, em vez de olhar as medicações e os procedimentos como grandes parceiros na busca por um bom resultado. Vou ser sincero em dizer que respeito estes pacientes, mas ao mesmo tempo eles me entristecem.
Acredito que para que qualquer pessoa possa melhorar de um problema de saúde (e se possível alcançar a cura), tem de haver um postura engajada. Não basta apenas ao médico ou ao profissional de saúde ter engajamento, cabe também ao paciente. Todos os dias recebo pacientes que ao serem perguntados sobre o porquê de estarem ali para serem atendidos, me respondem com frases como: “estou aqui para que o senhor faça meus cabelos pararem de cair”, ou “vim para você resolver meu problema de cabelos”, e até mesmo “me disseram que o doutor faz cabelo crescer”. A verdade é que apesar de eu entender o que está por trás de cada uma dessas falas, e não levar tão a ferro e fogo essas respostas, sempre entendi que qualquer relação médico paciente é uma parceria. Uma busca por um objetivo comum que se faz de mãos dadas, paciente e médico. Acredito que deixar apenas na mão do médico a responsabilidade pela melhora de um problema de saúde é terceirizar o problema e se colocar como um elemento passivo na solução do mesmo. A responsabilidade não cabe apenas ao médico. Me atrevo a dizer que no periodo entre consultas ou entre procedimentos a responsabilidade é praticamente toda do paciente. E para que o paciente cumpra sua parte não pode haver preguiça.
A propósito, depois de muito refletir nestes últimos dias sobre este assunto, me permito dizer que o paciente não pode nem deve ter preguiça de seguir os caminhos para sua melhora. Deve seguir por ele com motivação, determinação e disciplina, tendo seu médico e o tratamento orientado como parceiros desta caminhada. Só assim será capaz de obter bons resultados.