
Minha filha de 10 anos, em um acidente só explicável quando temos várias crianças brincando juntas, percebe que uma massinha de modelar foi parar nos seus cabelos. A massa vermelha se prendeu em uma mecha de fios e, como se misturou com eles, estava imensamente difícil de desprender.
A situação levou minha filha ao choro. Vários foram os motivos. Em primeiro lugar a surpresa de ver aquela literal massaroca de cabelos somados à massa de modelar. Em segundo lugar a dificuldade de remover a massinha. Pedi a ela que tomasse um banho, lavasse a cabeça e delicadamente retirasse a massinha com um pente. Ela inicialmente foi contrária ao banho, foi quando eu dei o cheque mate. Ou banho ou teremos que cortar a parte presa à massinha (imagino que esse foi mais um motivo para o choro). Mas, mais complexo que tudo isso foi perceber, após ela ter “optato” por lavar a cabeça, que o real motivo do choro e desespero ia surgir numa fala com grande intensidade emotiva. Natural que ela já é uma pré adolescente e que percebo que suas reações vem mudando. A adrenarca já chegou e, certamente, não demorará muito para que a menarca também se mostre. Mas daquela fala chorosa surgiu uma afirmação marcante: Eu amo meus cabelos, meus cabelos são a parte que eu mais gosto em mim.
Apesar de lidar com problemas capilares há anos, assim como por conhecer minha filha há 10 anos e alguns meses, fiquei surpreso com aquela confissão.
Em segundos me passou pela cabeça um filme de quando ela era pequena e tinha real nojo de cabelo em qualquer lugar da casa ou por onde passasse. Até mesmo os dela.
Até seus 3 a 4 anos seus cabelinhos não cresciam, eram finos e ralos. Tive que interceder. Fiz uma suplementação nutricional e um tônico para ela usar diariamente. Esse tônico hoje tem alguns ativos que constam no produto Hércules, da linha Tricho-Res (@trichores, no Instagram), produto que contribuí no desenvolvimento de sua fórmula. A partir daí seus cabelos passaram a crescer, encorparam e hoje são grossos e volumosos. Os pais dos amiguinhos da escola perceberam a mudança e quase todos vieram me perguntar o que ela havia feito para ficar com os cabelos tão bonitos.
Ainda assim, ela nunca demostrou ter muitos cuidados com os cabelos. Não gosta de pentear, e, quando o faz, a meu pedido, sempre penteia com certa má vontade. Não gosta de secar com secador, por ela o ideal é secar ao natural. Não usa hidratantes, mesmo que eles estejam à disposição no banheiro e, apesar de seus cabelo ser liso, o frizz é algo frequente em suas madeixas.
Vaidade para fazer penteados ou ornamentar com tiaras, presilhas e lacinhos nunca foi seu algo que gostasse.
E, por fim, vale dizer que deixa seu cabelo sempre da mesma forma, dividido ao meio. Por um tempo tentei estimula-la a dividir os cabelos de lado. Para o meu gosto pessoal ela fica absolutamente mais bonita assim (é linda de qualquer jeito, mas parece que o pentear de lado combina melhor com seu formato de rosto). Eventualmente penteia de lado para me agradar. Mas no geral é da forma mais cômoda possível, divide no meio mesmo e está bom.
Vejo nela um discreto despertar para a vaidade. Na escolha das roupas, na vontade de começar a usar uma ou outra maquiagem. Na forma como se posiciona para tirar fotos. E até mesmo na mudança que vejo nela em relação à consciência quanto à alimentação. Nos dois últimos meses parece ter emagrecido um pouco, algo que no passado não era uma preocupação para ela, e, às vezes, a vi até se orgulhar de sua barriguinha mais saliente.
Este despertar para a vaidade veio no tempo dela. Conheço filhas de amigos que parecem ter nascido com o chip da vaidade embutido. São vaidosas desde muito pequenas. Minha filha não, parecia se esquivar daquilo que fosse vinculado à vaidade e pudesse lhe dar trabalho (pentear, maquiar, se vestir com roupas combinando…).
A verdade é que ela está crescendo. Começa demonstrar sua personalidade. Começa a mostrar seus gostos pessoais e vai, gradativamente, encontrando quem ela é nesse mundo.
Como pai estou surpreso por saber que seus cabelos são motivo de sua satisfação, alegria e fortalecimento de sua identidade. Que ela possa estabelecer com eles uma excelente relação, assim como deverá estabelecer com suas escolhas de vida, seus hábitos e cuidados com a saúde física e emocional para poder, não só vê-los sempre bonitos, mas para que também possa ter uma vida longa e saudável.