A relação entre o sistema endócrino e a saúde capilar é um tema amplamente estudado, uma vez que os hormônios desempenham um papel essencial na regulação do crescimento, espessura, textura e ciclo de vida dos fios. O artigo de Vinay, Sawatkar e Dogra (2018) apresenta uma análise abrangente das manifestações capilares de doenças endócrinas, trazendo insights fundamentais sobre como alterações hormonais podem desencadear desde alopecia até crescimento excessivo de pelos. A pesquisa destaca a importância da interação entre andrógenos, estrogênios, hormônio do crescimento, prolactina, insulina e hormônios tireoidianos para a manutenção da fisiologia do cabelo.
O estudo revisa detalhadamente condições como o hirsutismo e a hipertricose, que se caracterizam pelo crescimento anormal de pelos em áreas típicas e atípicas do corpo. O hirsutismo, frequentemente associado à síndrome dos ovários policísticos (SOP), resulta da hipersensibilidade dos receptores androgênicos nos folículos pilosos, levando ao crescimento excessivo de pelos em regiões masculinas do corpo feminino. Já a hipertricose, por outro lado, não está diretamente relacionada a hormônios androgênicos e pode ter origem genética ou secundária a distúrbios metabólicos e neurológicos.
A alopecia androgenética (AGA), uma das formas mais comuns de perda de cabelo, também é abordada sob a perspectiva endócrina. Os autores destacam que a conversão da testosterona em di-hidrotestosterona (DHT) pela enzima 5α-redutase tem papel central na miniaturização dos folículos capilares geneticamente predispostos. A AGA pode se manifestar tanto em homens quanto em mulheres, sendo que no público feminino muitas vezes se associa a um desequilíbrio hormonal mais amplo, como resistência à insulina e alterações nos níveis de estrogênio. O artigo também discute a alopecia difusa, uma condição frequentemente relacionada a disfunções da glândula tireoide, como hipotireoidismo e hipertireoidismo. Pacientes com hipotireoidismo tendem a apresentar fios mais frágeis e quebradiços, enquanto o hipertireoidismo pode acelerar a queda capilar devido ao aumento da fase telógena no ciclo do cabelo.
Outro ponto relevante discutido pelos autores é o impacto da prolactina e do hormônio do crescimento (GH) na saúde dos cabelos. O excesso de prolactina pode estar relacionado a quadros de eflúvio telógeno, enquanto níveis desregulados de GH podem afetar a espessura e resistência dos fios. Além disso, a resistência à insulina, frequentemente presente na SOP e no diabetes tipo 2, tem sido associada à inflamação crônica do folículo piloso e à piora da alopecia androgenética.
Diante desse cenário, o estudo enfatiza a importância do diagnóstico preciso e da abordagem multidisciplinar no manejo dos distúrbios capilares relacionados a doenças endócrinas. Muitas dessas condições exigem não apenas intervenções dermatológicas, mas também tratamento endócrino adequado, como a reposição hormonal para disfunções tireoidianas, o uso de bloqueadores de andrógenos, como espironolactona e finasterida, e a adoção de estratégias para melhorar a sensibilidade à insulina.
O artigo reforça a necessidade de uma visão integrada da saúde capilar, compreendendo que o cabelo não apenas reflete a estética, mas também pode ser um marcador precoce de disfunções sistêmicas. Para os profissionais da saúde capilar e pacientes, essa abordagem traz novas possibilidades terapêuticas e um olhar mais abrangente sobre o que realmente pode estar por trás da queda ou do crescimento anormal dos fios.
Referência:
Vinay K, Sawatkar GU, Dogra S. Hair manifestations of endocrine diseases: A brief review. Indian J Dermatol Venereol Leprol. 2018;84(6):687-693. doi:10.4103/ijdvl.IJDVL_1060_17.