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O Perfumista e a banda neo Soul/indie – Resenha de livro com audição

Quando o estresse chega e a cabeça precisa de um descanso, dois de meus mais importantes prazeres acabam sofrendo grandes interferências. No caso dos livros, opto por algo que fuja das tradicionais leituras voltadas aos temas que envolvem meu trabalho. No caso da música, por novos sons, bandas, ritmos e melodias.
Hoje, após breve visita à Livraria da Vila da Vila Madalena me presenteei com o Diário de um Perfumista, escrito pelo principal perfumista francês, Jean-Claude Ellena (da grife Hermès), e publicado no Brasil pela editora Record.
Enquanto me deliciava com as anotações diárias do perfumista, com fones de ouvido fazia a audição do álbum More than just a Dream da banda Fitz & the Tantrums. Conheci o Fitz & the Tantrums ouvindo no rádio do carro a dançante Spark. Havia baixado o álbum todo há duas semanas, mas ainda não havia escutado todas as composições com tranquilidade, como gosto de fazer.
Ah! E para aqueles que se perguntarem como consigo ler escutando música, posso garantir que consigo me manter mais focado em qualquer atividade que esteja exercercendo se houver música que me agrade tocando. Tem sido assim desde minha infância. 
O som leve e desencanado das músicas da banda de Michael Fitzpatrick (o tal Fitz), parece ter deixado o conteúdo do livro de Jean-Claude Ellena ainda mais interessante. Jean-Claude Ellena não é apenas o principal criador de fragrâncias da França (como o subtítulo do livro apresenta), ele é um amante das belezas da vida. Um crítico à economia que canibaliza o tempo e as pessoas. Um homem sábio e culto. E, ainda que seu livro se apresente na forma de um diário (que tende a ter um ar mais informal), consegue ser um escritor elegante, simples e sensível como suas fragrâncias. 
Algumas passagens me marcaram mais em seu diário. Vamos a elas:
Falando sobre os perfumes que cria, faz o seguinte comentário: não existe de minha parte nenhuma vontade de impor, mas uma necessidade permanente de despertar o prazer, a curiosidade, a troca. Dessa forma deixo voluntariamente os vazios, os “brancos”, nos perfumes a fim de que cada um possa acrescentar-lhes o seu próprio imaginário; são os vazios da apropriação. Comentário perfeito e digno de um criador que quer que sua obra interaja com quem as busca e as utiliza. 
Sua conexão com a arte oriental interfere na maneira como sente a natureza e como arte e natureza interferem em sua vida e trabalho. Veja o que escreve sobre as belas flores de íris: Colecionador de estampas japonesas, conservo na memória imagens de íris do mundo flutuante, como a célebre Biombo das flores de íris, do pintor Ogara Korin. Fazendo eco a este mundo, meu jardim fica florido de maio a junho com íris brancas e azuis, com alguns toques de íris rosas. Esses dois mundos se interpenetram, e não posso ver, cheirar, tocar uma íris sem que o olhar dos artistas japoneses se insinue naquilo que sinto. 
Sobre uma das coisas que lhe interessa em um perfume diz: Prefiro o qualitativo ao quantitativo, pois não acredito que um excesso de concentração de perfume e de sua permanência na pele sejam provas de qualidade. 
Por fim, e apenas para criar a sucriosidade do leitor desse blog sobre o livro, em uma de suas notas comenta sobre o seu ofício de elaborador de perfumes: Busquei a liberdade ao elaborar perfumes, e os odores acabaram por me subjugar. Não posso parar de cheirar, de pensar a respeito de odores, por medo de perder o sentido da composição. Como todos os ofícios artísticos, preciso trabalhar fisicamente a matéria e manter-me em sintonia com ela. É este o preço que pago para ser um elaborador de perfumes, e isso às vezes me preocupa. Comentário que mostra seu total envolvimento e relação de interdependência com sua arte. 
Há muito o que aprender com Jean-Claude Ellena. O livro em si é delicioso. Devorei em menos de duas horas e posso garantir que valeu imensamente o tempo dedicado a ele. 
Por fim, posso dizer que Spark, 6AM, MerryGoOut e Keepin our eyes out do Fitz & The Tanrtums foram minhas preferidas, mas o álbum inteiro vale a pena. 
Termino esse texto escutando 6AM, pela enésima vez.
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