Como podem vencer uma guerra se só se preocupam em perder? Essa frase de Bernard Cornwell, em Stonehenge, resume uma verdade universal que vai muito além dos campos de batalha. No universo das condições capilares, como a alopecia, a maneira como os pacientes enfrentam sua condição pode ser decisiva. John Milton, em Paraíso Perdido, escreveu que “a mente é sua própria morada, e pode fazer do céu um inferno ou do inferno um céu.” Essa visão, que parecia apenas filosófica, encontra hoje suporte robusto na ciência. A psiconeuroimunologia (PNI) — o campo que estuda as interações entre mente, corpo e sistema imunológico — reforça que os pensamentos influenciam diretamente a saúde física. Quando falamos em queda capilar, isso não é diferente. Não é exagero dizer que otimismo e pessimismo podem ser armas ou armadilhas no enfrentamento dessa condição.
Pessoas que se concentram nos aspectos negativos da perda capilar frequentemente apresentam maiores níveis de estresse e ansiedade, duas condições que, segundo estudos como os revisados no artigo “How the Mind Hurts and Heals the Body” (Ray, 2004), elevam o cortisol no organismo. Esse hormônio, quando cronicamente elevado, prejudica o microambiente folicular ao desencadear inflamações sistêmicas e afetar a circulação sanguínea. Isso interfere na saúde dos folículos pilosos, agravando a queda. Por outro lado, pacientes que abordam a situação com otimismo e proatividade experimentam respostas biológicas diferentes. Estudos longitudinais, como o Nurses’ Health Study, mostram que o otimismo está associado a menores níveis de inflamação e maior longevidade, indicando que o estado mental pode, de fato, alterar parâmetros biológicos significativos (Tindle et al., 2009).
O pessimismo é um ciclo perigoso. A antecipação constante de falhas ou a crença de que “nada vai funcionar” podem resultar no chamado efeito nocebo, onde a percepção negativa de um tratamento reduz sua eficácia real. Isso cria uma barreira não só psicológica, mas fisiológica, já que o corpo responde a esses pensamentos com maior ativação da amígdala e liberação de catecolaminas, perpetuando a cascata de estresse. Por outro lado, o otimismo — aliado a estratégias cognitivas como a prática de mindfulness e a reestruturação de crenças limitantes — pode modular positivamente esses circuitos, reduzindo a atividade do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA) e melhorando a saúde geral.
Para pacientes enfrentando problemas capilares, não se trata apenas de acreditar em tratamentos, mas de mudar o foco de perda para possibilidades de recuperação. A ciência apoia essa mudança. Quando adotamos uma perspectiva mais positiva, isso não é apenas psicológico: estamos ajustando nossa química, reduzindo inflamações, estabilizando neurotransmissores como serotonina e dopamina, e melhorando a regeneração tecidual. Cada pensamento que você escolhe tem o poder de influenciar como seu corpo responde aos tratamentos. Como vencer uma guerra se você já a decretou perdida na sua mente? A luta pela saúde capilar começa antes mesmo do primeiro tratamento, no campo mais poderoso de todos: a sua mente.
Referências
- Ray, O. (2004). How the mind hurts and heals the body. American Psychologist, 59(1), 29-40.
- Tindle, H. A., et al. (2009). Optimism, cynical hostility, and incidence of coronary heart disease and mortality in the Women’s Health Initiative. Circulation, 120(8), 656-662.